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MAIS DE 500 MULHERES SÃO AGREDIDAS POR HORA NO BRASIL

SAIU NO SITE A VOZ DA CIDADE:

SUL FLUMINENSE/PAÍS

A cada hora, 503 mulheres sofreram algum tipo de agressão física em 2016 no Brasil. A pesquisa do instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum de Segurança Pública e divulgado no mês passado, foi feito com entrevistas presenciais em 130 municípios brasileiros. No total, foram 4,4 milhões de mulheres, 9% da população acima de 16 anos, que relataram ter sido vítimas de socos, chutes, empurrões ou outra forma de violência. O conteúdo especial de hoje do jornal A VOZ DA CIDADE vai mostrar: dados do levantamento realizado; relatos de vítimas e indicar o que pode ser feito dentro da lei. O assunto voltou em evidência nos últimos dias tendo ocorrido, nos dois casos, na Rede Globo.

O primeiro envolve o ator José Mayer, que estava atuando recentemente na novela das 21 horas, A Lei do Amor. Ele é acusado de assediar uma figurinista da emissora. O caso no inicio teve grande repercussão, contudo, acabou sendo ‘abafado’ depois que outro caso aconteceu no reality show Big Brother Brasil. O participante Marcos Härter foi acusado de lesão corporal contra Emilly Araújo, sua namorada dentro do programa. Por conta disso, o médico foi expulso dias antes da final, que aconteceu na última quinta-feira (13).

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Para a promotora de Justiça Gabriela Manssur, especializada em violência contra a mulher, as imagens não deixam dúvidas sobre a intenção de Marcos. Segundo ela, se há algo de positivo no episódio é deixar claro do que se trata o abuso dentro de relacionamentos. “Toda mulher ao assistir essas imagens lembra-se de algo que já viveu ou presenciou”, reflete a promotora.

Não por acaso, quando o programa do dia foi encerrado e durante toda a madrugada e manhã desta terça-feira, a hashtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo dominou as redes sociais. Com ela, inúmeros relatos pessoais de casos de abuso começaram a ser compartilhados. A palavra sororidade, que significa a empatia e companheirismo entre mulheres, passou a ser repetida. Para Manssur, o caso acabou trazendo um salto de percepção: o discurso defendido por ativistas e profissionais ligadas aos direitos das mulheres ganhou uma dimensão nova ao aparecer tão claramente em um programa de massa que oferece ao telespectador a possibilidade de interferir no destino dos participantes. “Ficou claro o que é abuso e ficou claro também que não é apenas uma questão de defender uma causa, mas de conhecer seus direitos”, diz.

Segundo a pesquisa do Datafolha, as agressões verbais e morais, como xingamentos e humilhações, atingiram 22% da população feminina. Ao longo do ano passado, 29% das mulheres passaram por algum tipo de violência, física ou moral. Entre as pretas (expressão usada pelo IBGE), o índice sobe para 32,5% e chega a 45% entre as jovens (de 16 a 24 anos).

RELATOS

A Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Volta Redonda é um serviço muito importante para a cidade, sendo um dos primeiros municípios a conquistar a delegacia especializada na política de proteção à mulher. À frente do serviço está a Delegada Maria Madalena Carnevale Alves Tomelin, que tem prazer em colaborar na política de crescimento e reconhecimento do papel que a mulher desenvolve na sociedade e em combater a violência e o preconceito contra a mulher no município.

O A VOZ DA CIDADE conversou com duas mulheres que foram vítimas de agressão física na região; uma moradora de Volta Redonda e outra de Barra Mansa. Nos dois casos foram feitas as denúncias; eles eram companheiros das vítimas, sendo que uma delas tem dois filhos com o agressor; todos estão separados e em novos relacionamentos.  As entrevistadas preferiram não expor os nomes.

No primeiro caso, D.O, de 25 anos, moradora de Volta Redonda, conta que namorou por três anos um rapaz, na época com 27 anos e que tudo seguia normal no inicio do namoro. “Quando começamos a namorar era tudo tranquilo. Ele frequentava lá em casa, mesmo minha mãe não gostando muito dele. Ela dizia que ele parecia ser uma pessoa falsa. Continuei o namoro e depois que o tempo foi passando, também comecei a frequentar a residência dele, foi quando comecei a notar que, realmente, algumas coisas que ele dizia não batiam com a realidade”, contou.

D.O explica que com o tempo as mentiras foram aumentando e conforme ele via que não tinha saída, se tornava agressivo. “Ele criava bolas de neve nas próprias mentiras e quando não tinha mais argumento, gritava, ficava grosso e irritado como forma de intimidação. Passou a me empurrar, fazer gestos pra me calar”, lembrou.

Apaixonada, a jovem tentou fazer vista grossa com o que estava acontecendo, contudo, acabou descobrindo uma traição. “Ele falou que estava em um lugar, mas eu achei estranho e já andava desconfiada. Umas amigas viram ele em um local de movimentação e eu fui até lá, quando o encontrei com outra mulher. Ao notar minha presença, ele apertou o meu braço e me jogou no meu carro. Veio pra cima de mim gritando, mas pessoas que passavam impediram que fizesse algo”, relatou.

D.O terminou o relacionamento e o denunciou. Eles nunca mais se encontraram. A agressão ocorreu em julho do ano passado. Há dois meses ela voltou a namorar, outra pessoa. “Eu preferi passar um tempo sozinha. A decepção foi grande, mas o medo foi ainda maior. Tive medo de me enganar novamente. Mas não podemos achar que todos são iguais”, concluiu.

Moradora de Barra Mansa. N.A, de 39 anos, está divorciada há dois anos. Ela tem dois filhos com o ex-marido, o qual ainda tem contato por causa dos mesmos. “Hoje nos tratamos com frieza e apenas por formalidade. As crianças gostam dele e apesar de tudo, ele não vai deixar de ser pai deles”.

N.A foi casada por dez anos. O ex-marido era ciumento, a agredia e não a deixava trabalhar e nem sair de casa. “No começo não foi assim. Vivemos cinco anos tranquilos, apesar do ciúme. Ele começou a ter desconfiar de um amigo meu de trabalho e se tornou outra pessoa. Ele me batia, me queimava com o cigarro e eu denuncie. Me separei”, falou.

No primeiro ano de separada, N.A teve, ainda, alguns problemas com o ex. Há um ano ele está em um novo relacionamento e garante: “Ninguém muda do dia para a noite. Tem que denunciar. No inicio a gente enrola achando que as coisas vão mudar, mas só mudam para o pior”, aconselhou.

VÍTIMAS

Segundo a pesquisa do Datafolha, foram vítimas de ameaças com armas de fogo ou com facas 4% – 1,9 milhão de mulheres. Espancamentos e estrangulamentos vitimaram 3%, o que representa 1,4 milhão de mulheres, enquanto 257 mil, 1% do total, chegaram a ser baleadas.

A cada três brasileiros, incluídos homens e mulheres, dois presenciaram algum tipo de agressão a mulheres em 2016, desde violência física direta, a assédio, ameaças e humilhações. O percentual é de 73% entre as pessoas pretas e 60% entre as brancas.

COMPANHEIROS E CONHECIDOS

A maior parte dos agressores, segundo os relatos das mulheres, era conhecida (61%). Os conjugues, namorados e companheiros aparecem como responsáveis em 19% dos casos. Os ex-companheiros representam 16% dos agressores. A própria casa das vítimas recebeu o maior percentual de citações como local da violência (43%). Entre as mulheres entre 35 e 44 anos, 38% das agressões partiram dos namorados ou conjugues.

Sobre as reações após a violência, 52% disseram não ter feito nada após a agressão, 13% procuraram ajuda da família, 12% buscaram apoio de amigos e 11% foram a uma delegacia da mulher. Entre as mais jovens (16 a 24 anos), o índice das que não fizeram nada após a agressão é de 59%.

O assédio atingiu 40% das mulheres no último ano. Entre as mais jovens (16 a 24 anos), o percentual chega a 70%, sendo que 68% ouviram comentários desrespeitosos quando estavam na rua. O índice é de 52% entre a população feminina entre 25 e 34 anos. Nesse grupo, 47% foram assediados na rua, 19% no ambiente de trabalho e 15% no transporte público.

MARIA DA PENHA

No dia 7 de agosto do ano passado, o Brasil celebrou o décimo aniversário de vigência da Lei 11.340/2006, a Lei Maria da Penha. Apesar de ser considerada uma lei recente nos parâmetros jurídicos – e de só ter tido sua constitucionalidade afirmada pelo STF ainda mais recentemente, em 2012 – para as operadoras do Direito os legados positivos do marco legal já são bastante tangíveis: promoveu uma mudança cultural ao tirar o problema do âmbito do ‘privado’ e evidenciar que são violações graves e sistêmicas de direitos humanos que demandam uma resposta séria do Estado.

Além da conscientização, a Lei trouxe inovações jurídicas e apontou caminhos para a elaboração e estruturação de políticas públicas de proteção imediata e prevenção à violência doméstica e familiar. Nesse sentido, por ser considerada uma lei completa, a Lei Maria da Penha foi avaliada pela ONU como uma das três mais avançadas do mundo.

 

 

 

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Mais de 500 mulheres são agredidas por hora no Brasil

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