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Mãe solo: buscar rede de apoio é alternativa para maternidade saudável

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Veja publicação original: Mãe solo: buscar rede de apoio é alternativa para maternidade saudável

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Por Geiza Martins

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Você já deve ter deparado com o termo mãe solo por aí. Ele serve para falar tanto de quem escolheu ter uma produção independente, como fez Karina Bacchi, quanto pra se referir à mãe que é a única responsável pelo filho, após o genitor não assumir sua responsabilidade.

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O número de pessoas com esse perfil não é pequeno. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 57,3 milhões de lares (38,7%) no Brasil têm uma pessoa do sexo feminino à frente da tomada decisões. Agora, será que uma mãe solo consegue dar conta do recado e ser feliz?

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Para falar nisso, é preciso primeiro desromantizar a maternidade. Sabe aquela imagem da mulher que batalha, cuida da casa, dos filhos e que não sofre com isso? Deve ser colocada em xeque, simplesmente por ser um ideal de mãe inalcançável.

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É por isso que a ilustradora Thaiz Leão Gouveia é taxativa: “não, uma mãe solo não dá conta de tudo”. E ninguém melhor do que ela para falar, afinal, além de enfrentar os desafios da rotina de uma mãe que cria o filho de 3 anos sozinha, ela faz críticas e desromantiza tudo isso nas tirinhas Mãe Solo, que são divulgadas em uma página no Facebook. Ela viu muitas mulheres de sua família criando filhos, vivendo e envelhecendo. “Via o que elas faziam e não faziam, eu acho que nunca romantizei a maternidade, porque sempre vi que era muita treta”.

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Segundo Thaiz, não é por ser mãe solo que a pessoa não dá conta do recado, mas sim porque nenhuma pessoa sozinha consegue criar uma criança. Para ela, criar um filho sozinha é prejudicial tanto para a mãe quanto para a criança. “A conta só fecha quando ninguém está sobrecarregado/a. Caso contrário, ao invés da relação ser bonita, afetiva e cheia de energia, acaba sendo sempre na medida do impossível”, diz.

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A dura realidade

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Toda mãe (ainda mais a solo) sabe que as principais dificuldades não estão nas fraldas. A dedicação à maternidade acaba tomando conta de toda a rotina e eliminando outros aspectos da personalidade da mulher, como a vaidade e cuidados com o próprio corpo, por exemplo. A vida familiar passa a demandar todo o tempo do mundo, a social vira quase nula e ainda há a profissional, aquela que traz o sustento para casa.

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Arquivo pessoal
 Julia Mendonça, mãe de Leonardo, hoje com 16 anosImagem: Arquivo pessoal
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Vale salientar que, segundo o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, mulheres trabalham em média 7,5 horas por semana a mais do que os homens, devido à dupla jornada, que inclui tarefas domésticas e trabalho remunerado. Outro dado assustador é que 48% das mães ficam desempregadas no primeiro ano após o parto.

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“As principais dificuldades são sociais porque a mulher perde pontos na carteira da sua dignidade e começa a ser encarcerada por uma ideia de maternidade que é irreal por definição”, comenta Thaiz. Segundo a ilustradora, isso torna só a rotina insustentável, pois tudo o que funciona para a criança prevê uma estrutura de família nuclear — grupo familiar composto por um par de adultos. Ou seja, tudo o que uma mãe solo e seu filho não têm.

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Sustentar versus criar

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Sustentar o filho e ainda estar presente o tempo todo pode ser considerado uma utopia. Sozinha, uma mãe consegue apenas suprir as principais demandas de uma criança: estar alimentado e seguro. “São poucas as mulheres que vivem na situação de família monoparental [quando apenas um dos pais de uma criança cria o filho] tem realmente autonomia financeira para conseguir suprir além das questões básicas”, comenta Thaiz.

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Isso sem contar que a volta ao trabalho depois da licença-maternidade é uma missão difícil. Filho de mãe solo, o apresentador Marcos Piangers viu sua mãe tendo de pagar tudo sozinha e com bastante dificuldade. “Ela tinha de se equilibrar entre reuniões no escritório e apresentações escolares, além de cuidar de uniforme, dever de casa, sendo que ela estava querendo se posicionar profissionalmente e se qualificar fazendo outros cursos”.

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Pai de duas garotas e autor do livro “Papai é pop”, ele convida os homens para participarem da vida dos filhos. “Não quero roubar o microfone de ninguém, de nenhuma mãe, mas eu sei que as mulheres precisam de tempo para lazer, para trabalho e tudo o mais. A vida da minha mãe teria sido muito melhor se ela tivesse tido um companheiro responsável e participativo”.

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Com o apoio familiar

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“A maternidade real é difícil pra caramba, entre o amor e a expectativa tem muita dor, muito medo, muita insegurança e muita preocupação, muito cansaço e muita dedicação”, diz Julia Mendonça, mãe de Leonardo, 16 anos. Assim como as histórias de muitas mulheres, Julia engravidou ainda adolescente, aos 17 anos. “Na hora [em que descobri] pensei: fud**, e agora? Como vai ser? Sim, seria tudo muito difícil”.

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Leonardo não tem exatamente uma família nuclear. Casar estava fora de opção para Julia e o pai de Leonardo. “Sofri muito preconceito. No colégio, dos professores, sempre com aquele olhar e pré-julgamento de que minha vida tinha acabado”. A princípio, Julia teve de se dividir entre fraldas e provas escolares e, com o passar dos anos, entre trabalho e lancheiras para o garoto.

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Todavia, a produtora se considera uma mulher de sorte, pois sempre teve uma base familiar amorosa, com mãe e pai que a apoiaram, o que foi fundamental para Leonardo. Além disso, mesmo separados, o pai também foi presente. “Não sei dizer como seria se não tivesse esse apoio”.

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Nas redes contra o preconceito

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Infelizmente, nem todo mundo tem o suporte de outros braços. Ainda assim, toda mulher precisa de uma rede de apoio, que podem ser familiares, amigos e até grupos nas redes sociais. Inclusive, a psicanalista Marcia Neder, autora do livro “Os Filhos da Mãe – Como Viver a Maternidade Sem Culpa e Sem o Mito da Perfeição”, afirma que as redes sociais podem proteger as mulheres da solidão que as acompanha nos primeiros meses.

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No Facebook, um dos mais conhecidos é o Desabafos de uma Mãe Solo, grupo fechado com quase 4 mil mães em carreira solo. Nele, as participantes contam casos, trocam experiências, pedem ajuda e por aí vai. Há também diversas youtubers que dão dicas e compartilham as suas dificuldades.

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Segundo Thaiz, porém, a rede de apoio é mais do que amigos e familiares para gritar quando a coisa aperta. “Rede de apoio é UBS, assistência social, delegacia da mulher, escola e políticas públicas”, comenta. É claro que o Brasil precisa melhorar muito para tornar essa rede acessível.

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Foto de capa: A ilustradora Thaiz Leão Gouveia criou as tirinhas Mãe Solo / Imagem: Reprodução

 

 

 

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