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Liderança feminina: comemorar os avanços é preciso, mas cobrar mais é urgente

Saiu no site O GLOBO

 

Veja publicação original: Liderança feminina: comemorar os avanços é preciso, mas cobrar mais é urgente

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Vale comemorar os avanços obtidos e iniciativas que promovem o empoderamento feminino. Mas nunca foi tão urgente cobrar mudanças que acelerem esse processo

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O que um museu de mulheres lusófonas, a produção de bonecas negras, a capacitação de refugiadas para a indústria têxtil, a leitura de livros para deficientes visuais, rodas de conversas e mentorias têm em comum? Todos esses temas foram projetos enviados ao CEBDS para “empoderar” mulheres e garantir uma efetiva ampliação da representatividade feminina nas esferas mais altas de poder, sejam elas no mundo corporativo ou cenário político nacional.

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Dentro da terceira edição do Prêmio Liderança Feminina , cujas vencedoras foram anunciadas na quinta-feira (5 de setembro), abrimos espaço para uma nova abordagem: a possibilidade de adoção de projetos sociais por nossas empresas. Ainda embrionária, a proposta se mostra mais como um teste para um projeto que pode vir a ser grandioso num futuro próximo.

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No regulamento, não nos comprometemos efetivamente a que o projeto fosse “adotado”, mas faríamos a ponte com o objetivo de produzir um “match” entre os selecionados e os associados. Embora ainda não soubéssemos como seria a receptividade, já acreditávamos no potencial. E mesmo assim fomos surpreendidos. Selecionamos dez projetos, na expectativa de que pelo menos um fosse avaliado, com potencial de ser adotado, mas com menos de um mês de avaliação, temos pelo menos cinco grandes empresas interessadas e uma praticamente fechando o apoio.

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Iniciativas como essa mostram o papel indutor do Conselho no âmbito da promoção do desenvolvimento econômico e da aplicação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no ambiente corporativo. Essa iniciativa em especial trata do ODS número cinco — alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas —, tão necessário para promover mudanças na nossa realidade.

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Ao longo dos anos, o CEBDS vem aprimorando seu papel na redução de desigualdades sociais. E por que isso é tão necessário? Apenas 15% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa recente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em referência ao ano de 2018. E, mesmo tão baixo, já podemos comemorar, porque em 2017 esse percentual era de 8%.

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Mulheres no poder também influenciam mais mudanças e podemos esperar uma aceleração nesse percentual. Também de acordo com a pesquisa Panorama Mulher 2018, da Talenses em parceria com o Insper, as empresas com mulheres em cargos de presidência têm também mais mulheres em outros cargos de liderança. O levantamento revelou que, nesse cenário, as mulheres ocupam 34% dos cargos de vice-presidência, 45% das cadeiras de diretoria e 41% das funções dos conselhos.

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O “efeito cascata” é desejado e desejável. E, para isso, servem iniciativas do CEBDS e, por exemplo, ações como o lançamento da plataforma Celina, do GLOBO, ação também premiada no Prêmio Liderança Feminina.

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Por outro lado, outra das premiadas pelo CEBDS, a CEO da BRK Ambiental, Teresa Vernaglia, esteve ao longo de 2019 empenhada em mostrar os resultados de pesquisa realizada pela empresa sobre como a falta de saneamento afeta mais as mulheres que os homens. Um efeito cascata perverso que acaba ceifando anos escolares de meninas e prejudicando na ponta da cadeia sua formação completa, e consequentemente sua qualificação para cargos de liderança.

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Além dos conhecidos problemas de saúde, a falta de saneamento reforça a desigualdade de gênero em todo o país, segundo o estudo “Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira”, realizado pela BRK Ambiental, apontando que uma em cada quatro mulheres não tem acesso adequado ao saneamento e estão mais sujeitas às doenças, por conta de sua proximidade seja limpando o ambiente ou cuidando dos doentes da família. A universalização dos serviços poderia tirar imediatamente 635 mil brasileiras da pobreza, diz o estudo.

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A pesquisa constatou também que 1,5 milhão de mulheres não têm banheiro em casa e que a renda delas é 73,5% menor em comparação às demais trabalhadoras. Elas se afastam mais do trabalho por adoecerem ou terem que cuidar das enfermidades da família causadas pela falta de saneamento básico. A falta de acesso ao saneamento traz danos graves para a saúde, educação e renda das mulheres e, por consequência, das famílias brasileiras. Aliás, o acesso a este serviço poderia proporcionar um acréscimo de R$ 321 em média, à renda anual de cada uma dessas brasileiras, ou seja, mais de R$ 12 bilhões ao ano à economia do país.

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Também pela renda menor das mulheres em relação aos homens, a Organização das Nações Unidas (ONU) relacionou as recentes mudanças climáticas à questão de gênero, destacando que as mulheres são as principais vítimas. Apenas para ilustrar, o relatório destacou que nos eventos climáticos extremos, como secas, tsunamis ou inundações, a mortalidade de mulheres é maior. Em um tsunami no Sri Lanka, morreram cinco mulheres para cada morte de um homem.

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Num mundo em constante mudança, em que o futuro do trabalho nos contará uma história diferente da atual, com vagas ainda inimagináveis, é bem provável que as desigualdades tendam a se ampliar ainda mais, já que hoje vemos que os principais postos de trabalho à frente da Inteligência Artificial, são ocupados por homens. Relatório de 2018, da AI Indexa apontou que 80% dos professores nesta área nos Estados Unidos são homens. E no campo de atuação, apenas 15% dos pesquisadores do Facebook e 10% dos pesquisadores de IA no Google são mulheres.

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Outra pesquisa, da Microsoft em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicou o risco de o avanço tecnológico produzir um aumento na desigualdade, prejudicando enormemente os profissionais menos qualificados. A pesquisa analisou seis segmentos da economia: agricultura, pecuária, óleo e gás, mineração e extração, transporte e comércio e setor público (educação, saúde, defesa e administração pública).

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Cruzando essa previsão com levantamento realizado pelo PretaLab e a Thoughtworks, que mostra que 21% das equipes de tecnologia do país não possui sequer uma mulher, enquanto em 32,7% dos casos não há nenhuma pessoa negra, podemos ser levados a crer que os impactos dessa revolução 4.0 podem recair sobre mulheres, especialmente sobre mulheres negras. Neste aspecto, vale sim comemorar os avanços obtidos e iniciativas que promovem o empoderamento feminino. Mas nunca foi tão urgente cobrar mudanças que acelerem esse processo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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