Saiu no site HUFFPOST:
Veja publicação original: Karin Thies, a matemática que calculou seus riscos e um futuro com os números
.
Ela valoriza viver de números e análises estatísticas: “Sempre achei muito bonita a matemática. Ela é muito perfeita, as coisas se encaixam”.
.
Ela fez questão de começar com a apresentação de seu grande companheiro. Estão juntos há 12 anos. Nascido em Porto Alegre, ela o conheceu na internet e vão juntos para todos os lugares. Trinta e dois anos, vermelho. Placa preta. O terceiro do tipo que ela já chamou de seu: um Passat 1.8 de 1986 está lá, pleno, estacionado na porta da empresa de Karin Thies, 48 anos. É uma sensação. Chama atenção e já virou uma lenda. Merece ser tratado praticamente como uma pessoa a parte mesmo. “Comprei pela internet, sem ver, mandei vir de Porto Alegre e comecei a restaurar esse carro. Passei 10 meses restaurando. Foi todo um processo longo e ele ficou desse jeito”, conta orgulhosa, com um sorriso no rosto.
.
O primeiro do tipo que teve foi ao aprender a dirigir. O pai, mecânico, escolheu para ela. “Foi uma coisa afetiva. Eu de fato gostei do carro e ficou essa ligação”. Karin lembra que achava o máximo saber dirigir e queria muito aprender. Assim que conseguiu alcançar os pedais, pediu ao pai. Tinha 12 anos. Mais tarde, ela faria o mesmo por seu filho. Foi nesse Passat 86 que o ensinou a dirigir. “No dia a dia ele dirige outro carro porque esse está sempre comigo, mas ele gosta bastante”.
.
Estava naquela euforia, ia mudar para São Paulo e tive essa surpresa. Me falavam que eu não ia conseguir, que não ia ter cabeça para estudar com um bebê pequeno, sozinha, mas eu quis tentar, era o que eu queria fazer.
.
.
O papo sobre carro pode confundir um pouco porque Karin não trabalha com nada relacionado à mecânica ou mercado automotivo. Dava uma força para o pai na oficina, é verdade. Sabia o nome de todas as ferramentas e até hoje usa esse aprendizado. Quando seu carro apresenta algum defeito, ela sabe exatamente o que aconteceu. Mas seu caminho profissional foi para outro lado. Karin é matemática e co-fundadora de Geru, uma plataforma de empréstimo on-line. Deixou as ferramentas para passatempo e caiu nos números e gráficos. E lutou contra algumas estatísticas difíceis.
.
Nascida no interior de São Paulo, cursou um ano de biologia, largou a faculdade e passou na Fuvest para matemática. Feliz da vida com sua escolha, dois meses depois do resultado do vestibular descobriu que estava grávida. “Era aquela euforia, ia mudar para São Paulo e tive essa surpresa. Me falavam que eu não ia conseguir, que não ia ter cabeça para estudar com um bebê pequeno, sozinha, mas eu quis tentar, era o que eu queria fazer”.
.
Calculou seus riscos. Com o apoio dos pais, seguiu em frente. Nunca interrompeu os estudos e concluiu a faculdade. “Foi bastante sacrificado, mas consegui conciliar as coisas. Cuidava do meu filho, ia às aulas e estudava da noite para a madrugada, o momento que tinha mais tranquilidade em casa para fazer isso. É um hábito que tenho até hoje, é o momento em que sou mais produtiva.”E precisava ser. Karin conta que o curso não era nada fácil. Ela lembra que era necessário estudar de 5 a 6 horas por dia para conseguir acompanhar.
.
Entrei nesse mundo muito masculino, mas de alguma forma eu consegui trazer uma visão um pouco diferente e contribui de uma maneira intensa nos lugares em que passei.
.
.
Acompanhou e tinha alguns fatores do seu lado. “Fiz gostando muito do que eu estava fazendo e quando terminei as empresas estavam muito em busca de matemáticos e estatísticos e peguei uma onda boa de contratações e tive essa sorte de deslanchar muito rápido por onde eu passei”. Fez carreira em empresas e sempre conseguiu destaque em suas funções. “Entrei nesse mundo muito masculino, mas de alguma forma eu consegui trazer uma visão um pouco diferente e contribui de uma maneira intensa nos lugares em que passei. Meus chefes e meus colegas começaram a perceber que era bom ter uma mulher em uma carreira dessas, então sempre me senti valorizada”.
.
Após cerca de 20 anos atuando com desenvolvimento de modelos estatísticos para tomadas de decisão nas empresas, foi convidada para participar da fundação da Geru. Pediu demissão de uma multinacional e seguiu para esse novo desafio, concretizado em março de 2015. Não foi fácil. Enfrentaram desafios, fizeram ajustes e hoje estão felizes com os resultados e o crescimento da empresa. E Karin sabe que contribuiu para isso. “Os desafios que uma mulher tem [em ambientes masculinos] ficam mais suaves quando você consegue descobrir aquilo que você faz de melhor e como contribuir. Se você coloca isso em prática é matador.”
.
Sempre achei muito bonita a matemática. A matemática tem esse lado… ela é muito perfeita, as coisas se encaixam.
.
.
Karin descobriu o que faz de melhor. “Sempre achei muito bonita a matemática. A matemática tem esse lado… ela é muito perfeita, as coisas se encaixam. Ela é desenvolvida dessa forma, isso é legal e muito bonito.” Talvez seja essa coisa de tratar bem aquilo que é especial em sua vida. A matemática também é quase uma pessoa à parte para ela. E das mais queridas, claro. Ela aponta para uma das diversas lousas brancas da empresa e pede um registro com um dos esquemas que fez na parede. Quase como quem pede para ser fotografada com um ente querido – ou com seu carro de coração. “Gosto muito do que eu faço, transcende a questão profissional. Acho que tive muita sorte.”
.
Não sei se sorte ou se fez apenas as contas certas e as análises de dados corretas. Acredito que a probabilidade maior está na segunda opção.
.
.
Ficha Técnica #TodoDiaDelas
.
Texto: Ana Ignacio
.
Imagem: Caroline Lima
.
Edição: Andréa Martinelli
.
Figurino: C&A
.
Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC
.
.
.
.
.