Saiu no CORREIO BRAZILIENSE
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“Não serei interrompida. Não aturo interrompimento dos vereadores desta Casa. Não aturarei de um cidadão que vem aqui e não sabe ouvir a posição de uma mulher eleita”. Seis dias antes de ser assassinada, Marielle Franco falava justamente de violência contra as mulheres em discurso na Câmara Municipal do Rio em 8 de março de 2018, Dia Internacional da Mulher. Foi quando mandou este recado para um cidadão que estava na tribuna defendendo a ditadura militar.
Mais de mil dias depois e enquanto o assassinato ainda segue com perguntas cruciais sem respostas, como quem mandou matar a vereadora e por qual motivo, mulheres eleitas em 2020 também relatam tentativas de silenciamento. Entre elas, ameaças de morte, ofensas raciais e insultos LGBTfóbicos.
Lideranças de diferentes partidos, em sua maioria de esquerda, receberam nos últimos dias e-mails de uma mesma origem, uma ação coordenada que está sendo investigada de forma integrada por autoridades de pelo menos três Estados e órgãos internacionais, como a Interpol, a polícia internacional.
“Esse discurso de Marielle mostra o quanto a gente tem que ficar se afirmando, pedindo respeito para sermos ouvidas. Nossas vozes incomodam porque rompem as barreiras históricas”, diz Carol Dartora (PT), primeira mulher negra eleita vereadora em Curitiba. Terceira mais votada na capital paranaense, ela foi uma das que receberam, no último domingo, um e-mail com insultos racistas que citava seu endereço e a ameaçava de morte.
“Nada no mundo vai me impedir de te matar”, diz a mensagem, compartilhada pela vereadora eleita nas redes sociais. Ela levou o caso à polícia e pediu reforço de policiamento na rua onde mora. “A violência racial não é nenhuma novidade para mim. A ameaça contra minha vida e contra pessoas que estão comigo foi o que me abalou demais. Foi muito assustador. Sabia que seria um mandato histórico, mas não imaginava esta proporção”, disse.
O Estadão identificou o mesmo tipo de ameaça e ofensas similares enviadas também a Duda Salabert (PDT), mulher trans eleita com a maior votação em Belo Horizonte (MG); Suéllen Rosim (Patriota), mulher negra eleita prefeita de Bauru (SP); Ana Lúcia Martins (PT), mulher negra eleita para a Câmara municipal de Joinville (SC) e Benny Briolly (PSOL), travesti eleita vereadora em Niterói (RJ). Nos cinco casos, o remetente se identifica como Ricardo Wagner Arouxa.