Saiu no site REVISTA NOVA COSMOPOLITAN:
Veja publicação original: Impressão minha ou isso foi sexista?
Para nos ajudar a notar essas situações, a americana Jessica Bennett escreveu o livro The Feminist Fight Club e conta sua experiência
Por Jessica Bennett
Formamos o Clube da Luta Feminista alguns anos atrás em uma tarde no primeiro andar de um McDonald’s de Nova York, acompanhadas de milk-shakes e batatas fritas. Era um grupo de apenas três mulheres na época, todas funcionárias iniciantes de um programa de TV que você provavelmente não conhece. Uma delas estava desempenhando os deveres de um cargo dois níveis acima do seu salário, mas sem o título ou alguma compensação. Outra, depois de quatro anos como assistente, foi “promovida”, mas sem aumento. “Sentíamos que estávamos presas”, explicou depois. “Não tínhamos uma rede, nenhum mentor. E percebemos que — no nosso escritório, pelo menos — a opinião dos homens significava mais.”Não éramos ingênuas. Sabíamos que o sexismo existia. Mas essa era uma forma diferente dele — mais sutil, amigável, que parecia inofensivo. Nosso Clube da Luta Feminista nasceu para responder a perguntas pertinentes. Uma mulher queria saber: como ela poderia fazer com que o colega que sempre a interrompia ficasse quieto? Outra: como agir quando suas ideias eram apresentadas sem receber o devido crédito? Nada disso era uma discriminação aberta. Normalmente, esses eram caras com quem a gente até se dava bem. Juntas, nos sentimos fortes o suficiente para enfrentar esse inimigo estranho e sutil. Durante anos, as táticas do clube foram passadas silenciosamente entre nós, como se fossem uma pedra preciosa. Mas agora chegou o dia de compartilhar sobre o clube. A primeira regra sobre o Clube da Luta Feminista: a gente fala, sim, sobre ele e sobre os nossos inimigos.
INIMIGO: O Bropropriator
Esse termo é uma junção de bro (curto para brother, irmão, mano em inglês) e appropriating (apropriação). Em uma reunião do escritório, o Bropropriator se apropria do crédito do trabalho das mulheres: apresentando as suas ideias como sendo dele ou às vezes não fazendo nada e ficando com o crédito.
HORA DA LUTA
Conversa dura
É difícil alguém ficar com o crédito de uma ideia sua se você mostrá-la com autoridade e de um jeito que ninguém vai esquecer. Fale sem usar “com licença”, “desculpa” ou fazer voz fininha. Nem pense em “Fico imaginando se a gente tentasse…”, e sim “Sugiro que a gente tente…”
Plano de ação
Puxe o crédito de volta para você agradecendo por terem gostado da sua ideia. É uma manobra eficaz que ainda deixa você bem. “Exatamente. Que bom que você concorda com a minha sugestão! Agora vamos falar sobre os próximos passos.”
Parceria
Encontre um amigo — até mesmo um que seja homem. Deixe-o ajudá-la na “publicidade” em reuniões. Peça para ele reafirmar o que você diz. Quando alguém tentar tirar o crédito do seu precisoso trabalho, observe enquanto ele diz: “Sim, como a Jess falou”.
INIMIGO: O Falso Chefe
Esse termo se refere àquele colega homem que insiste em te tratar como a secretária do escritório, mesmo quando está claro que você não é: casualmente, te pede para reservar a sala de reuniões ou manda você pegar uma xícara de cafezinho para o cliente (seu cliente, não dele, aliás).
HORA DA LUTA
Péssima barista
Faça o que a estrategista digital e fundadora da Tech Lady Mafia, uma rede que apoia mulheres que trabalham na internet, Aminatou Sow, faz: quando um colega homem pede para ela fazer um cafezinho, ela diz educadamente que ficaria feliz em fazer se soubesse como — a mãe dela a aconselhou a nunca aprender a fazer café (para que ela não tivesse que acabar fazendo). Com a máquina de xerox, é a mesma coisa: “Eu quebrei a impressora tantas vezes que não posso nem encostar nela”.
Jogue para um boy
Livre-se da tarefa que não cabe a você sugerindo que algum cara faça. “Estou correndo para fazer uma apresentação agora. Mas sabe quem manja tudo de reembolso de viagem? O Paulo.”
Voluntariado Proibido
Nas pesquisas para meu livro, descobri que as mulheres estão mais propensas a falar “sim” para tarefas administrativas… e para se voluntariar a fazê-las também. Sabemos que dizer “não” é difícil. Mas uma coisa precisa ser fácil: não se oferecer antes da hora.
INIMIGO: O TPMfóbico
Esse cara assume que qualquer afirmação direta que sai da boca de uma mulher quer dizer que ela “está naqueles dias”. Um bom exemplo desse tipo? Donald Trump. Mas ele também aparece no formato daquele amigo que depois de vê-la exaltada em uma reunião pergunta: “Você está bem? Parece irritada demais”. Sei.
HORA DA LUTA
Finja que não está nem aí
Respire fundo e mantenha o mesmo tom de voz. Fale deliberadamente. Sua raiva é válida, mas canalize o sentimento para manobras estratégicas ofensivas. Não facilite para que ele diga “Não disse?”
Responda
“Não, João. Eu não estou menstruada — mas os seus relatórios de venda parecem estar deixando a empresa na mão.” “Peraí, Pedro, estou confusa. Você quis dizer aqueles dias em que eu fiz o trabalho pra você?”
A justificativa
É só mostrar um pouco de revolta e as pessoas vão assumir que você está agindo por irracionalidade feminina, enquanto a raiva de um cara é sempre encarada como uma resposta lógica. É possível cortar esse padrão enfatizando por que você está chateada. Joan C. Williams, autora americana do livro What Works for Women at Work (“O que funciona para mulheres no trabalho”, em tradução livre), dá uma dica: “Se eu pareço brava, é porque eu estou brava, e eu estou brava porque você pôs a perder [insira um objetivo profissional de vocês aqui]”.
INIMIGO: O Filho de Chocadeira
Esse cara vê mães como funcionárias menos comprometidas (imagina uma mulher se comprometer com a família e o trabalho?). Nos Estados Unidos, uma mulher que inclui no currículo as palavras mãe, professora e coordenadora está 79% menos propensa a ser contratada. Além disso, corta pela metade as chances de ser promovida e recebe, em média, mil dólares a menos de salário.
HORA DA LUTA
Mostre seu comprometimento
Marque uma reunião para elaborar seus planos de carreira após a licença-maternidade. Deixe claro que você ainda é a mesma funcionária determinada. Em um estudo feito com pais casados que se candidataram a uma vaga de engenharia, os que incluíam estar dispostos a fazer sacrifícios pela carreira tiveram mais chances de ser contratados que os outros. Às vezes é tão simples como apenas frisar seu comprometimento em voz alta.
Mude sua perspectiva
Se você está do outro lado, não pense que só porque uma mãe vai embora mais cedo não está se esforçando. Tente não penalizar suas colegas ou subordinadas se elas tiverem que ajustar os horários de vez em quando. O que importa é que o trabalho esteja sendo feito.
Lute por um tempo mais flexível
As pesquisas do nosso clube mostram que horas mais flexíveis, jornadas de trabalho otimizadas e mais autonomia podem fazer com que os empregados se tornem mais produtivos (e felizes) do que o tradicional horário das 8 às 18 horas. Então, se você estiver no comando, coloque a mão na massa: lute por licença parental — e incentive os homens e a mulher a saírem — e uma política que valoriza mais o trabalho feito do que passar muito tempo no escritório.
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