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Homem não chora? Projeto com jovens visa o fim da masculinidade tóxica

Saiu no site Negócio Capital

Veja a noticia original: Homem não chora? Projeto com jovens visa o fim da masculinidade tóxica

 

Objetivo do projeto Okara é permitir que os meninos se expressem livremente e se afastem dos estereótipos que definem o que é ser homem

“Homem não chora.” “Você é homem ou um saco de batatas?” Essas expressões são comumente associadas aos meninos e remetem a um tipo rígido de masculinidade ainda sustentado no imaginário de muita gente. “Esse modelo do que é ser menino, no entanto, é tóxico. Priva grande parte dos meninos de se expressar livremente, acessar sua subjetividade e desenvolver plenamente suas capacidades”, explica o educador físico Leonardo Oshiro. Com a missão de romper esse ciclo, Oshiro, em parceria com Marcelo Peterlini, criou o projeto Okara, em 2017.

“O objetivo é criar conexão entre jovens meninos para que eles possam expressar a sua essência de forma autêntica”, esclarece. Em outras palavras, o Okara promove um repensar sobre a masculinidade e seus estereótipos e procura agregar outros valores e referências àquelas que os meninos comumente trazem.

“Quando você pergunta a eles quais características associam ao universo do masculino, é comum que eles digam que homem tem que ser forte, não pode ‘arregar’, não leva desaforo pra casa, não demonstra sentimentos e é ‘pegador’, termo ligado à virilidade”, conta o educador.

A iniciativa busca trabalhar e resgatar entre os jovens valores como autenticidade, confiança, compaixão, auto-responsabilidade, respeito e os sensos de comunidade e individualidade. “Tudo para que eles entendam que podem expressar aquilo que são sem medo de julgamentos e que eles são responsáveis por tudo aquilo que acontece à volta deles”, explica.

Na prática

O Okara parte de uma metodologia própria para inserir os meninos no repensar dos padrões da masculinidade. Compartilhamento de histórias, brincadeiras, jogos e dinâmicas, exercícios de meditação, literatura, música, rodas de conversa e momentos de escuta e acolhimento fazem parte do percurso. “O ciclo passa por refletir, reconhecer, fortalecer e aplicar”, conta o educador.

No primeiro momento, os jovens são estimulados a pensar o que é masculinidade, sobre as figuras de referência que eles trazem e suas características principais. Depois, são convidados a pensarem sobre si, sobre o tipo de masculino que se manifesta em cada um deles. Na fase do fortalecimento, o trabalho é que eles pensem o que de positivo têm em sua essência e que pode ser fortalecido na prática cotidiana. Por fim, na aplicação, os jovens entram em contato com ferramentas práticas que podem auxiliá-los a driblar situações em que o modelo de masculinidade defendido pela sociedade prevaleceria.

“Por exemplo, em uma discussão, quando estão alterados, há exercícios que podem ser feitos para evitar o combate, como promover a expiração de maneira mais longa do que a inspiração”, exemplifica o educador. Todas as práticas prevêem a saúde mental, física e emocional dos meninos.

O projeto entende que, ao permitir a construção de uma masculinidade saudável entre eles, baseada na confiança e conexão, é possível encorajar atitudes positivas e melhorar o posicionamento dos meninos com as famílias e especialmente com as mulheres, vítimas do machismo que se ancora na masculinidade dominante.

Veja um vídeo em que estudantes de uma escola de Osasco, em São Paulo, contam suas percepções sobre o projeto.

“Ainda existem muitas barreiras a serem quebradas nesse sentido. Ainda temos uma hipervalorização do papel do homem – especialmente o branco – na sociedade, o gozo de inúmeros privilégios atribuídos ao masculino e comportamentos masculinos ‘aceitáveis’ mesmo que danosos para outros”, explicita Oshiro.

O projeto trabalha com garotos na faixa etária dos 13 aos 15 anos e pretende uma atuação próxima com as escolas, por entendê-las, assim como a família, importantes mediadoras nesse processo. “Se eu tivesse tido discussões sobre masculinidade e papeis de gênero na minha época de formação, eu poderia ter construído outros referenciais. Hoje, a minha ideia é justamente essa, apoiá-los a construírem o ser masculino fora dessas regras engessadas”.

“Ao nos manter formatados nessa ideia de masculino com características específicas e fechadas, tiramos o potencial desses meninos enquanto seres humanos. Precisamos permitir a eles serem quem realmente são”.

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