Saiu no site G1:
Veja publicação original: Hannah Gadsby: como ela virou o stand-up de ponta-cabeça e faz gente chorar com o especial de comédia ‘Nanette’
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Australiana ganha destaque com o especial ‘Nanette’ para a Netflix. Lésbica, ela faz piada e também questiona o humor para falar de homofobia, de violência, e da própria comédia.
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Se o nome dela já não passou pelas suas redes sociais, ainda vai passar. Nos últimos dias, a cada minuto alguém dá a dica do tipo: “Acabei de ver o vídeo dessa tal Hannah Gadsby e fiquei emocionado”. Para o site “The Hollywood Reporter”, é uma “sensação do sucesso boca a boca”.
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Conhecido no circuito de comédia da Austrália e da Europa, o nome de Hannah Gadsby está explodindo no resto do mundo sem uma grande campanha de marketing, com base nos elogios ao especial “Nanette”, lançado pela Netflix no dia 20 de junho.
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É comédia, mas faz chorar. Dá para chamar de stand-up, com uma humorista de pé em frente à plateia, mas ao mesmo tempo é uma crítica do formato. Hannah diz que vai abandonar a comédia e, justo nessa hora, vira uma estrela mundial do gênero.
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É pra rir ou pra chorar?
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Hannah Gadsby é lésbica e cresceu na Tasmânia, Austrália, onde a homossexualidade era crime até 1997.
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Em “Nanette”, ela faz piadas com o preconceito, mas depois explica que as brincadeiras autodepreciativas que fazia no início da carreira eram uma resposta errada às agressões, e conclui que o humor não dá conta da violência que sofreu.
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Ela cria silêncios constrangedores, explica o mecanismo das próprias piadas e alterna entre um stand-up comum e um monólogo de drama. A conversa vai até a História da Arte e a bronca sobre misoginia sobra até para Picasso, que não era famoso por tratar bem as mulheres.
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A crítica dos EUA ficou animada. “Talvez o poder da apresentação dela vai abrir portas para um tipo de stand-up mais humano e mais rico – que dê um exemplo para jovens mulheres decidirem como vão contar suas histórias para o mundo”, diz Soophie Gilbert da revista “The Atlantic”.
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“Nanette” é um título aleatório. Ela diz que é o nome de uma mulher que quase inspirou seu texto – mas foi esquecida. O nome importante é mesmo o de Hannah Gadsby. Ela chegou a estudar Artes, mas a vida não deu certo neste mercado – e demorou a emplacar no humor também.
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Aos 40 anos, seu único papel anterior com algum destaque tinha sido na série australiana “Please like me”, também exibida na Netflix, como roteirista e atriz. Sua personagem, secundária, era quase autobiográfica, a lésbica e deprimida Hannah.
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Mas era em festivais de comédia que ela achava seu caminho. Seu início no humor profissional foi ao ser a vencedora australiana do concurso Raw Comedy, em 1996. “Nanette” começou a ganhar prêmios como do “Fringe Festival”, na Escócia, de 2017, e outros na Austrália.
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Com o reconhecimento, o espetáculo viajou pela Europa e pelos EUA, antes de ser registrado para o programa da Netflix. Mas mesmo antes do programa, as apresentações ao vivo de “Nanette” já impressionavam críticos.
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A grande Gadsby?
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“É uma experiência eletrizante – e não é que seja prazerosa”, disse uma crítica elogiosa do jornal britânico “The Guardian” sobre uma apresentação na Escócia. O autor era um homem, Brian Logan, o que pode explicar o destaque para os momentos de desconforto do texto.
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Para a revista “New Yorker”, “Nanette” “colhe os frutos da fúria geral do movimento #MeToo”. O curioso é que o texto foi feito antes da onda de denúncias de abuso sexual de atrizes de Hollywood e outras mulheres do #MeToo.
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Para Jason Zinoman, do jornal “The New York Times”, Hannah “desconstrói a comédia com precisão matemática”. “A melhor defesa para o ataque contra a comédia de Gadsby é o seu próprio show – uma ironia que ela claramente percebe”, ele diz.
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O que todo mundo quer saber agora é se ela vai mesmo abandonar a comédia justo quando virou uma revelação mundial do gênero. Sua ideia inicial era voltar para a Tasmânia e trabalhar na lojinha de frutas e legumes do irmão (sério).
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Em entrevistas recentes, ela reconsidera a ideia de se isolar tanto na tal lojinha. Hannah fala em descansar da turnê, que acabou de terminar, e escrever um livro. Quer ela volte ou não ao stand-up, seu nome ainda vai ser tema de muita conversa sobre o formato.
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