Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Girl´s Talk: É hora da garota falar!
Evento realizado na periferia de São Paulo dá voz a mulheres com histórias inspiradoras e abre comemorações ao Dia Internacional das Meninas
Você sabe que dia é hoje? Desde 2012, em 11 de outubro comemora-se o Dia Internacional da Menina. A data, instituída pela ONU, tem o objetivo de evidenciar a desigualdade de gênero e promover os direitos das meninas. Para dar início a celebração da data, aconteceu ontem no CEU Capão Redondo, periferia de São Paulo, um encontro que reuniu 10 mulheres para contar suas histórias. No Girl´s Talk, organizado pela Plan Internacional (uma organização não-governamental, não-religiosa e apartidária que defende os direitos das crianças e jovens do mundo todo), elas mostraram que podem ser ou estar onde bem entendem.
10 mulheres, 10 histórias
Na música, na poesia, no Direito, na tecnologia. Ser mulher é mirar em seus objetivos e realizá-los – independentemente de sua cor, raça ou classe social. Mais do que isso: é perceber que, unidas, se vai mais longe. Sororidade é a palavra. Com base nessa premissa, todas as 10 mulheres engajadas que subiram ao palco emocionaram uma plateia cheia.
“Filho não segura homem e casamento não é aposentadoria”. Eliane Dias (advogada, empresária e coordenadora do SOS Racismo) levou um discurso empoderado, forte e realista ao Girl´s Talk. A esposa do Mano Brown defende que a todas as mulheres devem ser independentes, assim como aquela que a inspirou quando era empregada doméstica: sua patroa. O mesmo sentimento fez com que Jéssica Moreira (jornalista cofundadora do coletivo Nós, Mulheres da Periferia, vencedora dos prêmios de mídia negra Almerinda Farias Gama e Antonieta de Barros) unisse a família na busca pelo sonho de “ir para o estrangeiro”, como seu pai dizia.
Divertida, Buh D´Angelo(Fundadora do InfoPreta, empresa que contrata somente mulheres negras), faz a seguinte pergunta: onde estão as mulheres na tecnologia? Na literatura, elas estão. Carolina Peixoto e Mel Duarte, são poetizas. Apesar de terem uma vivencia completamente diferente, juntaram suas forças no coletivo Poetas ambulantes e há cinco anos declamam sua arte por ônibus de São Paulo.
Alice Juliana (estudante de biologia e fundadora do grupo Juventude em Ação), Gabi Oliveira(criadora do canal DePretas no YouTube) e Maria Clara Araújo(estudante de pedagogia e ativista afrotransfeminista) buscaram em suas histórias de vida a coragem necessária para assumir seus papeis na sociedade. Alice, vinda de uma pequena cidade do Maranhão, engravidou ainda adolescente e focou em ajudar outras manas a explorarem e entenderem melhor seus corpos. Gabi reúne virtualmente mais de 100 mil pessoas em seu canal e visa fortalecer as próximas gerações de negras, que ainda sofrem com a falta de identificação na mídia. Já Maria Clara espera, com a ajuda de sua profissão, garantir que meninas trans não sofram como ela e possam ser quem sonham.
Um outro ponto tocado no Girl´s Talk foi o casamento de meninas, muito comum nas regiões mais pobres do país. Embasada na pesquisa pioneira no Brasil “Ela vai no meu barco”, Viviana Santiago (gerente técnica de gênero na Plan Internacional Brasil e militante pelos direitos das meninas e da população negra) apontou dados sobre o matrimônio infantil. “O casamento é colocado de forma tão natural na vida dessas meninas… A gente não consegue perceber toda a violência desse processo”, disse.
Em tempo: até a atração musical era emponderada. Anná, compositora da Moóca, com seu batuque, cantou a gordofobia. “Não é sobre ser gorda, é sobre o peso de se estar acima de um peso”, dizia a canção.