Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE :
Veja publicação original: Fórum Fale Sem Medo reúne ativistas para debater o poder da internet no combate à violência contra a mulher
O evento aconteceu no Centro Cultural de São Paulo e contou com a presença de nomes fortes em diversos painéis sobre o enfrentamento da violência
O Dia Internacional da Mulher trouxe aos holofotes a luta diária de muitas mulheres que sofrem diversos tipos de violência devido a desigualdade de gêneros. De acordo com aONU Mulheres, uma entre cinco mulheres até 50 anos sofreu violência física e/ou sexual por parte de um parceiro íntimo nos últimos 12 meses. “Estamos diante de um encorajamento importante contra esses que estiveram blindados pelo poder e fazem uso dessa condição para subjulgar as mulheres”, disse Nadine Grasman, diretora da organização, durante o Fórum Fale Sem Medo, que aconteceu na quinta-feira (08.03), no Centro Cultural do Estado de São Paulo.
O evento, feito em parceria com o Instituto Avon e em sua quinta edição, tem como objetivo discutir o enfrentamento da violência contra a mulher por meio das redes sociais. “Estamos mais próximas do que nunca da possibilidade de mudança, pois cada vez mais a violência passa a ser discutida pela sociedade”, comentou Grasman. “O trabalho da ONU Mulheres é colaborar na implementação de medidas que previnam esse tipo de violência. Esse dia nos dá oportunidade de fazer uma mobilização global. As mulheres estão nas redes e nas ruas”, completou.
Com duração de cinco horas, a programação contou com diversas ativistas e convidadas que usaram de sua experiência pessoal e profissional para discutir casos e pesquisas sobre a influência da rede na mobilização.
Outro tema abordado no fórum foi o assédio no ambiente profissional. A promotora de Justiça Silvia Chakian conversou com Marie Claire sobre a campanha Trabalho Sem Assédio, lançada durante o evento. “O assédio, quando praticado no ambiente de trabalho, se torna ainda mais nocivo e perverso para a vítima. Estudos e pesquisas comprovam que ele também causa o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão, perda ou ganha de peso etc. Isso sem contar a queda de rendimento profissional e a dificuldade de desenvolver plenamente seu potencial de trabalho”, explica. Para ela, a campanha surge para combater a normalização do assédio contra a mulher,”vista ainda hoje como objeto sexual. “Proporciona a conscientização das mulheres no ambiente de trabalho, a conscientização dos homens sobre o fato de que muitos comportamentos naturalizados por eles como cantadas ou piadas são assédio”. A ação deve ainda criar fluxos bem definidos para a denúncia, com profissionais capacitados para ouvir, acolher e orientar.
O tema se aproxima do caso da atriz Paolla Oliveira, que foi clicadas sem o seu consentimento enquanto se trocava no set de gravação. O responsável pelo registro clandestino confessou o crime e se entregou à polícia, mas o dano causado pode levar tempo para ser reparado. Para Paolla, no entanto, é preciso focar na educação das pessoas sobre assuntos relacionados a sociedade. “Precisamos ter coragem para enfrentar essa vida agressiva, em todos os sentidos”, disse. Vítima da exposição que a profissão trás e, com isso, muita negatividade, Paolla acredita que é preciso combater a maldade com bondade. “Os agressores se vestem de opinião e ficam fortes por não terem um rosto. Muitas pesquisas dizem que quanto mais você revida, mais o agressor gamha. Então, que o mesmo lugar que eles usam pra espalhar o ódio, que a gente espalhe o amor. Que usemos a Internet como uma arma para nos fortalecer e nos informar”, afirma.
Outra celebridade que deu voz a muitas mulheres que sofrem violência doméstica é Luiza Brunet. A modelo foi alvo de críticas ao denunciar o ex-namorado, Lírio Parissoto, por agressão física. Segundo ela, muita gente a acusou – e acusam até hoje – de tentar se promover, de ter mentido e de ter causado tudo isso.
“Sofri muitos questionamentos do tipo: ‘essa mulher é louca’, ‘mas aquele homem era maravilhoso’. Ouvi desqualificação de pessoas da internet e foi muito triste. Isso ocorreu durante todo o processo de julgamento até o final, na condenação. Me envergonha sermos o quinto país em que a mulher é mais agredida, mas eu tive uma sorte enorme de ter amigos, família, minha mãe, que é uma companheira e já sofreu violência doméstica e minha filha, Yasmin (Brunet), que é uma mulher totalmente empoderada”, explica. Luiza revela ainda que se sente feliz por poder ajudar outras mulheres.
A programação ainda contou com convidadas como Maria Fernanda Cerávolo, diretora criativa do Google, Alessandra Orofino, curadora do blog #AgoraÉQueSãoElas e diretora geral da Greg News da HBO Brasil, Gabriela Manssur, promotora do Ministério Público de São Paulo e nossa colunista, e a jornalista Adriana Couto.
A youtuber e estudante de ciências sociais Nátaly Neri teve uma importante participação no evento ao debater sobre machismo e racismo na Internet. O seu canal, Afro e Afins, surgiu da ideia de falar com os mais jovens sobre assuntos de cunho social que Nátaly só foi questionar ao ter acesso a faculdade. “Foi muito importante entrar na universidade. Eu vinha do interior, tinha minhas trajetórias, me enxergava como indivíduo culpado. Achava que apenas não tinha tido a sorte de não nascer privilegiada. Foi quando me envolvi em movimentos feministas e movimentos negros”, diz. “Não é justo as pessoas que não tenham a oportunidade de aprender sobre questões de cunho social que só a elite tem acesso. Foi por isso que criei o canal. Pensar em questões que envolvem o seu ser político é fundamental para aprender o que você é”, garante ela.
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