Saiu no site UNIVERSA:
Veja publicação original: “Fiz a polícia prender o assassino da minha amiga 25 anos após o crime”
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Sheila Wysocki era uma estudante de Psicologia em Dallas, Texas, quando viu seu mundo virar de ponta cabeça ao receber a notícia de que sua melhor amiga na universidade havia sido brutalmente assassinada.
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Angela Samota foi morta aos 20 anos em 1984, em um crime que a polícia não conseguiu desvendar na época.
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Foi graças à insistência de Sheila que os policiais decidiram reabrir o caso décadas depois – trazendo à tona provas que mudaram o rumo das investigações e finalmente levaram à descoberta do culpado.
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Em entrevista à BBC, Sheila conta como a morte da amiga a impactou, a ponto de ela decidir virar uma investigadora particular:
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“Quando o telefone do meu quarto tocou, Barbara, amiga minha e de Angie, estava chorando do outro lado da linha. Ela disse que havia acontecido um acidente.
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Ela chorava histericamente. Achei que Angie tivesse tido um acidente de carro. Ela chorava tanto que percebi que ela havia morrido.
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Acabei descobrindo que Angie havia sido encontrada em seu quarto nas primeiras horas da manhã. Ela havia sido estuprada e esfaqueada 18 vezes. Foi muito violento, horrível.
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Ela era uma boa pessoa. Quem faria algo assim?
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Angie tinha um sorriso lindo, o maior que já vi – o tipo de sorriso que iluminava todo o seu rosto. Ela era uma das poucas garotas no Departamento de Ciências da Computação e Engenharia Elétrica da Universidade Southern Methodist, em Dallas. Tinha uma ótima personalidade, era linda e inteligente.
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Eu era diferente – era uma observadora, não virava o centro das atenções quando entrava na sala como Angie. Mas nós duas fomos criadas por mães solteiras. Nós duas crescemos sem a presença dos nossos pais e nos aproximamos por causa disso. Éramos opostas, mas nos conectamos muito.
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Após sua morte, fui à delegacia de polícia falar com os investigadores, que me interrogaram e me mostraram fotos. Me lembro até hoje de uma de Angie na cama, de olhos abertos, com sangue por toda parte. Foi traumatizante.
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A polícia acreditava que o culpado pelo crime era Russell Buchanan, um arquiteto provavelmente quatro ou cinco anos mais velho que nós e a quem Angie via como uma boa conexão (profissional).
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Russell era um cara tímido, então Angie o havia convidado para ir dançar com ela e outra amiga naquela noite.
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Ele deu vários depoimentos à polícia, mas depois os policiais me disseram que ele havia parado de cooperar e havia arrumado um advogado.
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Nos anos 1980, no Texas, havia um notório advogado de defesa chamado Richard ‘Racehorse’ Haynes, que tinha fama de só ser contratado por pessoas “culpadas”. Russell o contratou, então, para mim, ele era obviamente culpado. Mas não havia nenhuma evidência física (ligando-o à cena do crime). O caso continuou aberto.
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O assassinato de Angie foi o evento mais traumático da minha vida, e eu não sabia o que fazer. Dormi no chão do quarto da minha mãe por muito tempo. Eu mudei, minha inocência se foi. Eu não consegui nem voltar à universidade.
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O mais difícil era não saber o que havia acontecido com ela. Como pode ser que um dia ela estava viva e no outro não? O que havia acontecido com ela? Isso ocupava a minha mente.
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Comecei a trabalhar fazendo faxina em casas, conheci meu marido, me casei.
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Eu ainda mantinha contato com o investigador do caso de Angie, a ponto de convidá-lo para o meu casamento.
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Em 2004, 20 anos após o assassinato, eu havia me mudado para o Tennessee e já tinha dois filhos. Certa noite, eu estava estudando a Bíblia em casa, algo difícil de fazer quando se é disléxica como eu – as letras são pequenas, próximas entre si.
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Enquanto eu lia, me lembro de olhar para a direita e ver a Angie. Pensei: ‘será que estou sonhando? Estou dormindo? O que está acontecendo?’
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Ela não disse nada, só ficou ali, com seu enorme sorriso.
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Não sei se acredito em fantasmas, mas tenho muita fé e acredito em mensagens. Naquele momento, pensei: ‘Chegou a hora’. Imediatamente peguei o telefone e liguei para o Departamento de Polícia de Dallas.
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Deixei recado para o investigador que eu conhecia, mas ele nunca retornou a ligação. Ele me conhecia bem o bastante para ir ao meu casamento, mas não para me telefonar. Acabei telefonando centenas de vezes, e ele me desdenhou. Tenho um pouco de amargura quanto a isso.
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Mas o que realmente me partiu o coração foi saber que, em 20 anos, ninguém além de mim havia ligado para saber do caso. Imagine – nenhuma pessoa.
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Como pode ser que alguém tenha uma morte tão violenta e ninguém tenha se interessado em saber por que ou quem cometeu o crime? Isso ainda me dá vontade de chorar.
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Acho que eles (policiais) acharam que eu acabaria me cansando, mas não me cansei. Eu sentia que algo não estava certo e não aceitei o não como resposta, então continuei a telefonar.
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Pesquisei e imprimi relatos sobre todos os estupros ocorridos na mesma época e sobre quem foi preso, para tentar descobrir o que aconteceu.
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Até que decidi que viraria uma investigadora particular, aos 40 anos de idade.
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Estudei e aprendi sobre leis, sobre cyberbullying e sobre traição entre casais. Assim que passei no exame para me tornar investigadora, achei que a polícia aceitaria trabalhar comigo. Mas fui ingênua. Eles nem ligaram.
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Só que, de tão cansados que eles estavam de mim àquela altura, decidiram reabrir o caso. E deram-no a uma detetive mulher que não me desdenhou – quando ela me ligou, estava familiarizada com o caso e sabia que Russell Buchanan era o suspeito número um. Mas o que mais me chocou foi que ela disse que eles tinham provas.
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Até então, eu sabia que eles haviam feito uma análise de estupro em Angie, mas eu achava que as provas haviam se perdido. Agora as provas existiam! Eu não conseguia acreditar.
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Acontece que eles tinham (restos encontrados) nas unhas de Angie – então ela obviamente lutou -, que é DNA. Eles também tinham sêmen – também DNA.
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Fiquei entusiasmada porque sabia que isso seria crucial: em 1984, o exame de DNA estava apenas começando, mas, 20 anos depois, já era uma poderosa arma forense.
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Os processos demoraram, e só tivemos resultados dos exames em 2009. Foi quando a detetive me ligou e disse: ‘Pegamos ele’.
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Eu achei que ela fosse dizer ‘Pegamos Russell Buchanan’, mas quando ela me disse o nome (do suspeito), não sabia quem era: Donald Bess.
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Hoje eu o chamo de ‘A Besta’. Ele era um estuprador em série que estava em liberdade condicional quando Angie foi estuprada e morta.
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O caso foi decidido pelas evidências físicas, o DNA, que correspondiam ao da Besta. E o avanço da ciência tornou a sua condenação possível.
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Viajei mil quilômetros para assistir ao julgamento em Dallas e ver Angie receber justiça. Agora que ele está fora das ruas, penso nele apodrecendo na prisão em uma pena perpétua, mas isso não muda o fato de que ela continua morta.
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Depois do julgamento, liguei para Russell Buchanan e pedi para me encontrar com ele.
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Depois de tantos anos de raiva por achar que ele era o assassino, eu lhe pedi perdão. Mais tarde, fomos juntos ao túmulo de Angie.
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Acabei descobrindo que ele é um ser humano incrível, que me agradeceu por ser persistente e ajudar a desvendar a verdade – e por finalmente tirar a nuvem de suspeita que pairava em cima dele.”
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Donald Bess foi condenado à morte em 2010 pelo estupro e morte de Angela Samota e está no corredor da morte. Segundo as investigações, na noite do crime, em 1984, ele bateu na porta da casa de Angela pedindo para usar o banheiro e o telefone, e ela acabou deixando.
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O Departamento Policial de Dallas não respondeu ao pedido de entrevista da BBC para comentar as críticas feitas por Sheila Wysocki.
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