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Feminismo sobre rodas

Saiu no site DISBUGA:

 

Veja publicação original:   Feminismo sobre rodas

 

Antes de iniciar esse texto gostaria de deixar um recado para os deboístas: não continuem a leitura. Esse texto não tem nenhum propósito de ser leve, ao contrário será tal como a realidade é. Ácido, doloroso e duro. Engana-se quem pensar que estou sendo gratuitamente radical ou apresentarei algo que não corresponde a sua experiência de vida. Se este último for o seu caso, saiba que é agraciada por Deus e deve retribuir a benção diariamente, pois infelizmente para uma parte (julgo acreditar, uma boa parte) as coisas são bem mais delicadas. Entretanto, se ainda assim gostaria de prosseguir e ver o que tenho a oferecer peço, porém que mantenha a mente aberta e tente compreender o meu ponto de vista, assim como pretendo receber o seu de bom grado. 

 

 

Recado dado, vamos ao título e a história que trouxe-me a este blog depois de algum tempo.

 

 

Tudo começou quando descobri o feminismo, quero dizer, quando ele me descobriu. Digo assim, transformando o movimento em personagem, pois foi exatamente como me ocorreu. Veio estendendo a mão quando o brilho dos meus olhos tinham se apagado. Quando o espelho mostrava uma beleza e a voz em minha mente dizia que não. Senti seu acolhimento e entre minhas novas irmãs, mulheres emponderadas, pude perceber como grande parte do meu sofrimento era universal.

 

 

Já citei aqui e em outro blog a importância de se amar afim de evitar alguns dissabores, contudo passei por um episódio que quase desfez grande parte do que eu era. Nesse momento, passei a fazer parte de um grupo no facebook de mulheres feministas e dia após dia fui descobrindo como poderia ser muito mais do que antes. Aquilo que me destruiu, na verdade, apenas me deu condições para tornar algo muito maior e mais forte.

 

 

Entretanto, ainda não estava representada inteiramente. Via inúmeras mulheres relatando seus relacionamentos abusivos, porém não havia nenhuma cadeirante entre elas. Aliás apenas uma: eu. Comecei achar aquilo estranho, pesquisei em grupos de pessoas com deficiência e deparei com várias mulheres cadeirantes reclamando o direito de serem amadas e, quando tinham algum relacionamento o tratavam como algo sagrado, portanto não poderiam questioná-lo por receio de perdê-lo. Uma hora acontece é o que dizem.

 

 

De fato, a vida acontece, oportunidades surgem e o amor nos encontra. A questão é será que essas dificuldades são iguais? Antes que pudesse formular minhas dúvidas, eis que caiu em meu colo um texto sobre a solidão da mulher negra (se tiver interesse no assunto leia aqui ou jogue no Google e se surpreenda com os resultados) e inspirada pela leitura mergulhei no ponto central sobre a mulher cadeirante: sua representação. 

 

 

Pesquisei no Google Imagens por “mulheres cadeirantes” e veja o que encontrei:

Captura de Tela 2015-11-07 às 10.40.22 PM

Um ponto: quantas mulheres com atrofias causadas por doenças genéticas você enxerga na imagem? Agora, pesquise por “mulheres cadeirantes sensuais” e me diga quantas com atrofias você encontrou? Tenho certeza que a maioria das imagens apresentadas são de mulheres com paraplegia por acidente ou paralisia, sem falar que são brancas. Certo? Claro que pode encontrar alguma com os requisitos que citei, na terceira ou quarta página de busca onde sabemos que ninguém chega.

 

Por qual motivo (ou um dos motivos) encontramos essa representação das mulheres com deficiência? Porque ela é aceitável, afinal é apenas uma mulher sentada. Uma mulher que poderia estar sentada em qualquer lugar e ninguém diria ser deficiente.A única coisa que assim a intitula é a presença da cadeira de rodas e nada mais. A isso chamo de “privilégio da semelhança”. 

 

 

O privilégio da semelhança é a possibilidade de experimentar a aceitação social por não apresentar características que evidenciem qualquer diferença que esteja fora dos padrões estabelecidos pela sociedade. (não há embasamento científico aqui, mas se você tiver por favor me envie

A mulher com atrofia não.

 

 

Nós temos a escoliose, o pé virado ou caído, temos a mão que não abre, os braços e pernas finos e sem força. Temos o pescoço rígido, as escaras e os calos de compressão. Algumas não cresceram normalmente, outras são mais gordinhas, umas tem o rosto maior ou nem tem pescoço. Somos esculpidas, cheias de detalhes forjados pelo nosso destino.

 

 

Não nos vemos nos editoriais com aquela mulher sentada na cadeira, tampouco naquela que desfila na passarela. Nos vemos na outra que conhecemos nas redes sociais ou, em alguns casos, nunca nos vemos. Ficamos sozinhas e sem referência.

 

 

Duro né? É mesmo. E é assim todo dia, sabia?

 

 

Todos os dias ouvimos que somos lindas de rosto, que se andássemos seríamos lindas e arrasadoras. Que somos amigas e isso é melhor do que ser namorada, afinal pra quê estragar algo tão bonito. Ouvimos que tudo bem você não casar, mas é um absurdo aquela prima da sua idade estar solteira. Sentimos aquele olhar de pena quando falamos que gostaríamos de ser mãe e depois temos de responder como faríamos caso a criança fosse agitada. Vemos as pessoas admirarem você namorar alguém que “anda” e não alguém deficiente como você. Ou o olhar de surpresa das suas amigas quando diz que alguém chegou em você no barzinho. É ter que “provar” quando diz estar namorando/ficando ou ver aquela cara de “ah, imaginei” quando você diz que conheceu alguém pela net, mas não ver a mesma expressão quando outra mulher “normal” diz o mesmo.

 

 

Ser mulher, cadeirante e com atrofia é pegar todos os problemas que as outras vivem e somar a eles o capacitismo.

 

 

Não quero dizer que a vida de minhas amigas cadeirantes com paralisia é melhor, de maneira alguma e sei que muitas, muitas vivem ou irão viver sensações similares ao que descrevi, entretanto há o “privilégio da semelhança” que infelizmente nós não recebemos.

 

 

Pode parecer uma grande bobagem o que escrevi aqui, talvez alguns digam que na verdade não superei meus problemas. Contudo estou certa de que isso é real e não sou a única pessoa que experiencia isso. Falar disso não me torna vítima, ao contrário, é preciso muita coragem para relatar esse tipo de coisa e tocar nessa ferida. O faço porque acredito que existem outras mulheres na mesma condição, porém não se deram conta desta realidade ou não sabiam como expressar essa sensação de não ser representada idealmente.

 

 

Se este for o seu caso, aliás, se você for essa mulher descrita acima te ofereço o meu abraço e um verdadeiro “eu te entendo”. 

 

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Dominika Budzynska

 

 

 

 

 

 

 

A boa notícia é que existem representações lá fora o qual podemos nos identificar. Uma delas é a Dominika Budzynska, uma polonesa que possui atrofia muscular espinhal. Porém se destaca como modelo e surpreende com as maquiagens e looks em seu blog e página no facebook.

 

 

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Jillian Mercado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A outra é a Jillian Mercado, americana que possui distrofia muscular e se destaca também como modelo e já participou de campanhas publicitárias para marcas famosas como a Diesel. É a que mais sigo e me identifico atualmente, pois sempre fala sobre sua história e superação. Você pode acompanhar ela pelo facebook e instagram.

 

 

O feminismo precisa ter rodas e ser acessível para todas as mulheres. O empoderamento não pode deixar de nos alcançar, a autonomia nos pertence e a liberdade de sermos quem somos também. Nossa beleza se faz em nossa diferença.Acredite em você, pois eu acredito.

 

 

A você, mulher, sem deficiência peço que por sororidade nos abrace também. Lute ao nosso lado, coloque-nos nas rodas de discussão, não nos esqueçam porque somos mulheres também e precisamos somar força a nossa voz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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