Saiu no site G1
Veja publicação original: Feminicídios aumentam 40,9% de 2017 para 2018 no RS, segundo dados da Secretaria de Segurança
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Ano de 2017 teve 83 casos registrados, e em 2018 foram 117. Outros índices de violência contra a mulher também tiveram aumento, como estupro: 3% e feminicídio tentado: 9,5%.
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Por Tatiana Lopes e Joyce Heurich
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Em 2018, 117 mulheres foram mortas no Rio Grande do Sul com seus casos enquadrados dentro do crime de feminicídio, em razão do gênero. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (9) pela Secretaria de Segurança Pública, e é 40,9% maior que o de 2017. No ano anterior, foram registradas 83 ocorrências.
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De novembro para dezembro de 2018, o aumento de feminicídios foi de 100%. Foram oito casos contra 16.
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“A gente precisa mudar uma cultura, a gente vai levar gerações para mudar essa cultura. Isso é uma questão que começa na escola”, avalia Shana Luft Hartz, nova diretora do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV), que inclui as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams).
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A delegada afirma ainda que, muitas vezes, o histórico de agressões pelas quais a mulher vítima passou antes do feminicídio fica à margem da lei, porque ela não se sente encorajada a denunciar. Ao mesmo tempo, reconhece que o acolhimento ainda não é o ideal.
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“Estamos trabalhando na criação de uma delegacia especializada no atendimento de vulneráveis. A gente sabe que padecemos muito ainda na questão do atendimento, mas há uma intenção de melhorar”, garante Shana, prometendo fortificar a rede.
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Outros crimes dentro dos indicadores de violência contra a mulher, levantados mês a mês pela SSP, apresentaram aumento em 2018, como estupro: 3% e feminicídio tentado: 9,5%.
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Tiveram queda de 2017 para 2018 os crimes de lesão corporal (-4,9%) e ameaça (-0,8%).
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Sobre o aumento no índice de estupros, a delegada diz que, neste caso, não significa que o crime em si está aumentando, mas sim, que está tendo uma notificação maior.
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“Os dados são muito menores do que realmente acontecem. Temos toda a questão dos crimes que acontecem dentro de casa, que ficam escondidos”, estima Shana.
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Crimes de violência contra a mulher
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Crime | 2018 | 2017 | Porcentagem |
Feminicídio consumado | 117 | 83 | 40,9% |
Feminicídio tentado | 355 | 324 | 9,5% |
Estupro | 1.712 | 1.661 | 3% |
Ameaça | 37.623 | 37.946 | -0,8% |
Lesão corporal | 21.815 | 22.960 | -4,9% |
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Diversos casos de violência contra a mulher são registrados pelo G1 RS, ano a ano. No fim de 2018, uma mulher foi morta a facadas na frente de casa em Cachoeirinha.
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No mesmo mês, um policial militar foi preso em flagrante suspeito de matar a ex-companheira a tiros em Porto Alegre. Michele Pires, de 35 anos, foi assassinada dentro do próprio apartamento.
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Em novembro, outra vítima foi morta da mesma maneira, em Passo Fundo. Nos três casos, os companheiros ou ex-companheiros foram apontados pela polícia como autores. Na Região Norte do estado, o homem confessou o crime.
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Também em novembro, outra mulher foi esfaqueada e morreu, em Pelotas. A delegada responsável apontou o companheiro dela como autor, assim como nos outros casos.
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Policial militar afastado é suspeito de matar a ex-companheira em Porto Alegre, mais um dos casos de feminicídio da Capital — Foto: Reprodução/RBS TV
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|‘Precisa ter postura mais preventiva’, diz pesquisadora
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Para a professora do Programa de Pós-Graduação de Sociologia e pesquisadora do grupo de Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rochele Fellini, a melhora desse cenário passa por atitudes mais preventivas.
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Ela explica que a Lei Maria da Penha é um instrumento que prevê três eixos: punição, proteção e prevenção. No entendimento da pesquisadora, hoje, se dá mais ênfase ao primeiro eixo.
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“A gente não está combatendo, a gente está reagindo, a gente precisa ter uma postura mais preventiva”, disse Rochele ao G1.
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“É insuficiente a dimensão penal, porque a gente precisa discutir como queremos educar nossos filhos e filhas para que possam respeitar uns aos outros”, acrescenta.
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Estudiosa das questões de gênero, ela afirma que é necessário pensar no homem como um ser social. Rochele lembra que as expectativas sobre o que é ser homem e o que é ser mulher são significados socialmente produzidos. Quando essas expectativas não são atendidas, a tendência é que novos conflitos sejam gerados.
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A busca da mulher por independência e autonomia financeira pode ser citada como um exemplo de rompimento de paradigmas que, consequentemente, pode vir a gerar conflitos entre casais. No entanto, a pesquisadora alerta que é preciso ter cuidado para não revitimizar a mulher diante desse raciocínio.
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“É certo que quando os movimentos sociais, não só o feminismo, LGBT, movimentos negros, eles têm tensionado a ordem, essa ordem que não os inclui, isso é potencionalizador de conflito. Não necessariamente é ruim. A questão é quando isso gera violência. Acho que nossa reflexão não pode responsabilizar esse grupos que estão buscando conquistar o seu espaço”, explica Rochele.
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“O fato da mulher conquistar seu espaço não é o problema, mas a mulher ser vítima de violência por conquistar mais espaço é o problema”, argumenta.
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“O problema está de onde vem a violência, e não da mulher conquistar o seu espaço”, completa a pesquisadora.
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Rochele defende que a violência é também aprendida e que desconstruir padrões de violência é um dos caminhos para reduzir os índices criminais. Para a pesquisadora, essa descontrução passa pela educação.
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“Precisamos discutir violência na escola, relações de gênero na escola. A discussão de gênero nas escolas visa a, fundamentalmente, enfrentar questões de gênero”, finaliza.
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Outros crimes
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Além dos dados de violência contra a mulher, a SSP também divulga outros indicadores criminais. Neste caso, são 16 crimes analisados. De 2017 para 2018, os latrocínios – roubos seguidos de morte – caíram quase 30%, e os roubos a bancos aumentaram 20% no estado. Leia a matéria completa sobre esses dados.
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