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Feiras libertam mulheres camponesas da violência doméstica no RS

Saiu no site SUL 21

 

Veja publicação original:   Feiras libertam mulheres camponesas da violência doméstica no RS

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Por Catiana de Medeiros

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Um espaço de libertação. Esse é o conceito de feiras para dona Olália Fátima da Silva, 58 anos, assentada da Reforma Agrária em Candiota, na região da Campanha do Rio Grande do Sul. Ela preside a Associação de Mulheres Feirantes e Artesãs, que tem como objetivo empoderar as camponesas por meio da obtenção de renda e, consequentemente, libertá-las da violência doméstica.

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Olália, que vive no Assentamento Conquista do Cerro, explica que a organização das assentadas nesses espaços de comercialização começou há cerca de cinco anos, quando passaram a levar toda semana seus alimentos aos bairros da cidade. O resultado foi a quebra de barreiras que as impediam de ter o seu próprio dinheiro e, para muitas, uma vida no campo livre de violência.

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Conforme a assentada, a associação, que possui 15 sócias, conseguiu fazer com que a realidade das mulheres mudasse. Elas contribuíam em todas as tarefas: cuidavam dos filhos e da casa, tratavam os animais, tiravam leite e lidavam na roça. No entanto, a produção era vendida na cidade pelos homens e a renda do trabalho, que era feito em conjunto, ficava apenas com eles. Esse era o ciclo enfrentado pelas camponesas mês a mês.

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“Hoje ocorre o inverso. Os companheiros nos ajudam a produzir, mas quem comercializa e administra somos nós, as mulheres. A missão da associação é viver uma vida melhor, porque alguns não queriam deixar as mulheres irem às feiras. Mas hoje eles trabalham sem parar na véspera para que possamos ir. A nossa inserção nesses espaços mudou muito a nossa situação financeira”, afirma Olália.

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Com a comercialização na cidade, as camponesas conseguiram melhorar a qualidade de vida de suas famílias em diversos aspectos. Passaram a mobiliar suas casas e até mesmo a terem acesso à internet e à tecnologia. Porém, segundo Olália, na ponta desse processo está o que elas consideram o mais importante e uma grande vitória: o fim da violência doméstica.

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“Tem companheiras que se libertaram, e eu sou uma delas. Não tem nenhuma mulher que se liberte da violência doméstica se ela não tiver a firmeza econômica, porque quando a barriga dos filhos ronca o processo é complicado. O trabalho da feira é formar mulheres, fixá-las no campo e promover projetos de libertação”, ressalta.

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Ela comenta que o apoio do poder público municipal foi fundamental para que pudesses vender seus produtos em Candiota, onde há 27 assentamentos, e dessem passos largos em direção à agroindustrialização de alguns alimentos. A ideia é oferecer carne de frango e ovos aos consumidores da cidade. Além disso, através de outras iniciativas, elas pretendem construir uma queijaria.

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Essas parcerias também permitiram que as assentadas participassem pela primeira vez, junto a outros trabalhadores Sem Terra de várias regiões do estado, da 26ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) e da 15ª Feira Latino Americana de Economia Solidária (EcoSol). Os eventos aconteceram de 11 a 14 de julho em Santa Maria, na região Centro gaúcha.

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Lá, expuseram parte do que é produzido pela associação, como cucas, pães, bolos, roscas, chimias, pé de moleque, doce de leite, ambrosia e lanches. Olália conta que a participação foi incentivada pelo músico Antônio Gringo e que nas próximas edições levarão ainda mais diversidade. “Vale a pena para formação, porque conhecemos outros espaços que também são importantes para nós”, acrescenta.

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Foto: Maiara Rauber

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Mais de 300 mil visitantes

A EcoSol e a Feicoop são promovidas pela irmã Lourdes Dill nos pavilhões do Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter. O tema deste ano foi “Construindo a sociedade do bem viver: por uma ética planetária”. De acordo com a organização, 305 mil pessoas passaram pelo local desde quinta-feira (11). Ano passado foram 302 mil visitantes.

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O MST participou com cerca de 30 feirantes, que expuseram no Túnel da Reforma Agrária alimentos coloniais e agroecológicos, como feijão, arroz, sucos, geleias, hortifrutigranjeiros, queijos, amendoim, mel, ovos, melado e café, além de ervas medicinais, fitoterápicos, sementes de hortaliças e artesanatos.

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A Editora Expressão Popular, fundada há 20 anos, também marcou presença, com direito a lançamento do livro “A produção ecológica do arroz e a Reforma Agrária Popular”. A obra é de Adalberto Martins, da coordenação do setor de produção do MST.

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Estreia nas feiras

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Também estreou em Santa Maria, junto à Associação de Mulheres Feirantes e Artesãs de Candiota, a cerveja American Rice Beer, que é feita com o arroz orgânico Terra Livre, do MST. A bebida artesanal, de cor clara, foi produzida pela primeira vez em fevereiro deste ano, numa parceria da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), situada em Eldorado do Sul, com a Cooperativa Vida Natural (Coopernatural), localizada em Picada Café, na Serra gaúcha.

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Ela é certificada pela Rede Ecovida e embalada em garrafas de 500 ml. Conforme Martielo Webery, 25 anos, o produto chamou a atenção dos visitantes das feiras. “Teve uma aceitação muito boa por ela ser uma cerveja totalmente diferente, de arroz. É orgânica, muito suave e encorpada, ideal para quem está começando a tomar uma cerveja artesanal”, ressalta.

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Quem passou pelos eventos também encontrou produtos da Reforma Agrária de Itacurubi, da região das Missões. Seu Idalencio Machado, 59 anos, do Assentamento Conquista da Luta, viajou mais de 230 quilômetros para expor alimentos de 13 famílias. Entre eles estavam mandioca, laranja, bergamota, banha de porco e mudas de couve.

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“Essa é a terceira vez que eu venho nas feiras. Elas nos incentivam a fazer cada vez melhor. É bom para mim, para o meu conhecimento, e para o grupo que tem mais uma renda, mais um meio de sobrevivência a partir do assentamento”, argumenta.

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Cerveja de arroz orgânico do MST. Foto: Maiara Rauber

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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