Saiu no site CORREIO BRAZILIENSE
Veja publicação original: Familiares contam o difícil começo após a perda de vítimas de feminicídios
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Apesar do trauma, é necessário seguir em frente e lutar para que outras mulheres, independentemente da classe social, não sejam as próximas
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Por Rayssa Brito* e Thais Umbelino*
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Os relatos de familiares que perderam uma pessoa querida de forma abrupta num feminicídio têm uma característica em comum: a crueldade sofrida pelas vítimas que morrem exclusivamente pelo fato de serem mulheres e a luta para lidar, todos os dias, com a dor da perda e a superação do luto.
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“Cada membro da família teve um tipo de comportamento em relação ao que aconteceu. Lidar com o luto não é simples, até porque a gente não tem essa cultura da morte, isso não é falado, não acontece no dia a dia. A morte é um drama”, relata Samuel Corrêa, 53 anos, que retrata a realidade dele, como irmão, e dos parentes próximos, após cinco meses da morte da caçula, Débora Tereza Corrêa, 43. A professora era a então 13ª vítima de feminicídio em 2019. Em 20 de maio, o assassino, Sérgio Murilo dos Santos, 47, tirou a vida da servidora na Secretaria de Educação, na 511 Norte, local onde Débora trabalhava, e em seguida suicidou-se. “Existe um sentimento de inversão, um sentimento estranho, como se ela não tivesse ido no tempo certo”, analisa Samuel.
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Enfrentar a ausência repentina de alguém não é um processo fácil de passar. É o que afirma a psicóloga Rafaelly Alencar: “O primeiro sentimento que aparece é o de não acreditar no que aconteceu. O processo de lidar com o luto é diferente quando a morte é uma possibilidade, devido a uma doença grave, em comparação a casos de feminicídio, onde não há sequer chance de despedida da pessoa, gerando incômodo quando o ente vai embora de uma hora para outra”, explica.
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A lembrança do dia em que foi avisado do falecimento da irmã ficou para sempre na memória de Samuel. “Eu tinha chegado em casa vindo da faculdade e assistido a chamada num jornal local. Como Débora tinha mudado de emprego recentemente, nem suspeitei que fosse ela. Minha mãe me ligou uns cinco minutos depois com o relato. É uma notícia que desestrutura tudo, não existe um manual do que fazer”, relembra.
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O estudante de psicologia inicialmente buscou ajuda com profissionais da área para lidar com o sofrimento. “A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do DF (Sejus) têm um projeto chamado Pró-Vítima, que oferece apoio psicológico às pessoas vítimas de violência e familiares. Fiz acompanhamento aproximadamente quatro meses. Isso foi determinante para que essa superação se desse de uma maneira razoável”, conta. Além disso, o irmão de Débora também buscou outros apoios como a união da família e o refúgio religioso.
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Sentimento
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Após cinco meses da tragédia, Samuel compreendeu que buscar explicações para o ocorrido não é produtivo. “Perguntas como: por que ele fez isso? Por que Débora omitiu a questão da violência? O que eu poderia ter feito para evitar?, devem ser poupadas. Meu sentimento é o que vou fazer daqui para a sempre”, afirma.
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Subsecretária de Apoio a Vítimas de Violência da Sejus, Juciara Rodrigues explica que o programa Pró-Vítima presta auxílio psicológico por meio de terapias a qualquer pessoa que necessita de suporte devido à exposição a diversas faces da violência. Segundo Juciara, há seis núcleos de atendimento no DF localizados na Estação Rodoferroviária (sede da Sejus), Taguatinga, Ceilândia, Guará, Paranoá e Planaltina. Desde o começo do ano até 4 de outubro, 1.523 pessoas receberam auxílio em alguma dessas unidades. “Há um retrato claro de violência contra mulheres. Muitas delas desconhecem que têm instituições e equipamentos no DF para que tenham essa voz. Existe a importância de denunciar, cuidar do psicológico, então a gente tem incentivado para buscarem o nosso auxílio e que não tenham medo do enfrentamento”, destaca Juciara.
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Houve 26 crimes do tipo contabilizados no DF em 2019, além de outro caso que é investigado como feminicídio. As marcas deixadas pelas tragédias afetam muito mais do que é possível dimensionar. A decisão de um homem tirar a vida de uma mulher deixa familiares, amigos e conhecidos inconformados. “Por que digo que te amo e depois te mato? Sendo que eu podia te ver todo dia”, questiona Lucilene Veleiro, 33, auxiliar de serviços gerais, decepcionada com o crime que tirou a vida de Lilian Cristina, 25 anos. A jovem foi assassinada com duas facadas, em 12 de setembro, pelo ex-namorado Jhonnatan Neto, 36. Mãe de cinco filhos, ela foi a 20ª vítima de feminicídio do ano no DF.
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O acontecimento traz lembranças tristes para Lucilene. “Não imaginamos que pode acontecer com a gente”, explica. “Eu perdi 6kg esses dias, pois não consigo me alimentar lembrando da Lilian. Apenas agora que estou dormindo melhor. Ela era uma menina feliz e queria seguir a vida, criar os filhos. Aí alguém chega e a leva desse jeito”, chora.
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A recordação dos bons momentos e a personalidade de Lilian são marcantes para quem fica. “Ela era muito sorridente, podia ver a gente 10 vezes na rua, que sempre falava com a gente. Lilian gostava de viver livre”, lembra Lucilene.
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O relato de Ana Lúcia Almeida, 37, sobre a perda da irmã Adriana Almeida, 29, assassinada a facadas pelo marido, Wellington Sousa, 37, é dramático. “Éramos muito unidas. Ele (o assassino) não acabou só com a vida da Adriana, acabou com a vida da família toda. A minha família está destruída, as minhas irmãs não conseguem trabalhar, eu sou a única que ainda está de pé. A minha mãe ficou destruída, estou vendo a hora de eu perder a minha mãe”. Wellington está foragido desde que matou Adriana, em 30 de setembro. Ela foi a 24ª vítima de feminicídio na capital do país.
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Adriana deixou uma filha de 4 anos, que sente a falta da mãe diariamente. “No dia, a criança deu uma crise, que ela via todo mundo no desespero e sorria, perdida, sem saber o que fazer. No dia do velório pela madrugada, ela chorava e pedia pela mãe”, relata Ana Lúcia. “Tem momentos em que a gente não sabe o que falar para ela, a gente procurou um psicólogo para conversar”.
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Ela afirma que Wellington sempre foi ciumento e obcecado pela esposa. “Às vezes, eles brigavam e depois ele vinha com pedido de desculpas”, conta. A irmã faz um apelo. “Eu peço para as autoridades nos ajudar, porque estamos vulneráveis, não sabemos onde ele está, vivia dentro da minha casa, conhece todas nossas rotinas. Ele sabe tudo sobre nós, e não sabemos nada dele, o que podemos esperar de uma pessoa dessas?”, indaga. “Ele precisa pagar pelo que ele fez. A nossa vida acabou”, finaliza.
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Lenta superação
Não há um tempo exato para superar o luto. Depende da forma que cada um aceita e passa pelo processo. É o que afirma a psicóloga Rafaelly Alencar. “O processo de luto passa por cinco fases (leia quadro), sendo uma delas a raiva. Esse estágio pode ser temporário ou continuar, gerando um sentimento de revolta. É importante o amparo e paciência do círculo de convívio e também auxílio profissional para trabalhar a elaboração de sentimentos adversos”.
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Maria Dionice Martins, 52, relembra todos os dias o momento que enterrou da filha de criação, Vanilma ou Vaninha, como era chamada pelos familiares. O feminicídio aconteceu em 5 de janeiro, no Setor Oeste. O responsável pelas facadas, Thiago de Souza Joaquim, 33 anos, foi preso dois dias depois do crime. A vítima, a dona de casa Vanilma Martins dos Santos, 30, chegou a ser socorrida e levada com vida para o Hospital Regional do Gama (HRG) pelo próprio autor do crime, mas não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois. Vanilma foi a primeira mulher a morrer em 2019 nas mãos de um homem que dizia amá-la.
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“Eu não esperava por uma tragédia, foi um susto muito grande. Eu estava fazendo o almoço e, de repente, a sogra dela me ligou e mandou eu ir para o hospital. Pensei em milhões de possibilidades, menos nessa. Nunca esperei que podia ser uma facada. Quando cheguei, os médicos me informaram que ela havia morrido”, lembra Maria Dionice.
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Depois de oito meses da morte da filha, ela ainda tem dificuldades para dormir. Entre silêncios longos e olhos lacrimejando, a comerciante conta com dor a dificuldade em lidar com a ausência da filha. “A última vez que nos falamos foi quando ela ligou para dar parabéns para meu marido. Esquecer a gente nunca esquece. A gente sabe que não vai tê-la de volta. Então, a gente vai tentando, vai se conformando aos poucos. Mas esquecer, não esquece”, lamenta.
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Devido ao relacionamento doentio de Thiago por Vanilma, a mãe acabou perdendo contato com a filha. “Eu me arrependo de tê-la deixado sair de casa”, conta. “Mas agora é confiar em Deus, porque o tempo não tem volta. Não sabia que o fim da vida dela era ele. Nunca imaginava que ele faria isso”, acrescenta.
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Relacionamento abusivo
O aniversário de Raquel Fagundes não será mais o mesmo. Raquel completa 39 anos no dia 23 e a mãe, Veiguima Fagundes, 56, faria mais um ano de vida no próximo dia 24. Veiguima foi assassinada a facadas e, em seguida, carbonizada, em 30 de janeiro de 2019, na própria casa na 310 Norte, pelo companheiro, José Bandeira da Silva, com quem mantinha um relacionamento há 10 anos. Ele também morreu devido a uma parada cardiorrespiratória. A mãe é descrita pela filha como uma pessoa extremamente querida que ajudava a todos. “Os amigos da adolescência dela, lá de Planaltina, o pessoal lá da roça, ninguém até hoje acredita”. As dificuldades de lidar com a dor da perda parecem não ter fim, pois tudo lembra a mãe.
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Após oito meses do ocorrido, Raquel retornou ao trabalho de farmacêutica, mas desde o falecimento da mãe, não conseguiu ter forças para voltar à igreja e pedir ajuda médica. Ela conta que o refúgio que tem é em casa fazendo devocionais bíblicas. “A ficha demora a cair, tem dias que não são fáceis, mas eu me apego em Deus”.
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As lembranças do relacionamento abusivo da mãe ainda estão bastante afloradas na cabeça de Raquel. A filha diz que Veiguima era muito preocupada com José. “Ela estava com dó (do marido). No começo, minha mãe gostava dele, passaram 10 anos juntos, eles viveram muito bem. Quando ele começou a adoecer, começou a ficar ignorante. Ela pensou várias vezes em uma separação. Raquel perdeu as contas de quantas vezes ela tentou se separar. “Ela ia e voltava, ia e voltava”. Mas o companheiro sempre ligava para ela a fim de convencê-la a voltar. Ameaçava que morreria sozinho, e então Veiguima decidia ficar.
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A pesquisadora Lia Zanotta Machado, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), analisa que normalmente as vítimas de feminicídio já haviam sofrido casos de violências antes e que os homens que cometem esse tipo de crime apresentam características de controle abusivo e posse sobre a mulher. “Se a mulher diz alguma coisa que ele não quer, ou faz algo que ele não aprova, o resultado é a violência. Em alguns casos, são inúmeras as ocorrências policiais. Outros, estão relacionados à ameaças verbais graves ou as que deixam as mulheres atemorizadas”. A antropóloga aponta para a necessidade de que toda denúncia seja investigada a fundo. “Esses homens devem passar por um encaminhamento psicossocial, pois não sabem lidar com as emoções”, alerta.
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Sofrimento constante
Foi por não saber lidar com o término e com um novo relacionamento de Isabella, que Matheus pôs fim ao futuro da jovem e deixou todos os familiares da pedagoga traumatizados. “Do dia em que a Isabella foi levada até hoje, a nossa vida mudou completamente. Nós não temos mais sossego, eu não tenho mais paz, porque fiquei com medo até de sair ao portão”, relata Rosana Borges de Oliveira, 48, irmã mais velha que esteve presente nos últimos momentos de vida de Isabella Borges, 25, e vivenciou a tragédia embaixo do teto em que mora. “A última vez que falei com a Isabella, ela estava aqui”, recorda Rosana, apontando para o sofá e com os olhos perdidos no vazio. A vítima foi morta em casa. O ex-namorado Matheus Galheno, 22, cometeu o assassinato, no dia 31 de março, na frente dos filhos gêmeos de 1 ano do casal e, em seguida, tirou a própria vida.
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Apesar das mudanças feitas na casa depois da tragédia, Rosana não se conforma. “Eu sinto que tudo que aconteceu na minha vida antes (da morte de Isabella) foi apagado: problemas de relacionamentos, problemas afetivos, até o financeiro. É como se eu tivesse zerado tudo. Todos os dias eu entro no quarto dela e a vejo em pé, segurando as crianças. Se eu entro onde era a cozinha dela, mesmo hoje sendo um quarto, não adianta, eu olho e vejo uma cozinha com ela ali. Se eu abro o portão é como se ela estivesse perto, pendurando a roupa das crianças: é ela o tempo todo”.
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As crianças de Isabella dão força para que a tia e dona de casa lute para superar a dor e o trauma. “O processo é muito difícil e lento, a gente vai forçando um pouco a natureza, por causa dos gêmeos, né? Eles me ajudam muito a aceitar melhor, basta chegar e olhar para eles”, diz emocionada.
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Falar sobre o ocorrido e compartilhar a dor com os familiares também têm ajudado Rosana a lidar com a saudade: “Na reunião de família, às vezes conversamos sobre o assunto, recordamos lembranças agradáveis. Tenho memórias muito boas, ela me acompanhava em tudo, não me deixava só. Esses dias descobri que o pessoal aqui de casa chora escondido. Eu achava que era só eu, mas a união dá força para a gente”.
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A psicóloga Stéphanie Palis Horta Sabarense, especialista em terapia cognitivo-comportamental, conta da importância de a família se ajudar também na dor. Mobilizar uma rede de apoio com pessoas que ajudem a processar a situação e aproximar-se da religião, caso tenha, são essenciais para seguir a vida mais leve. “Todas as pessoas precisam de uma rede. A terapia psicológica é recomendada em caso de perda, principalmente quando o luto a impede de fazer atividades do dia a dia”, explica. A terapia ensina a controlar os sentimentos mesmo com a dor, como ressignificá-la e diminuí-la.
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Para a especialista, grupos de apoio úteis para familiares enlutados são importantes por trabalharem emoções como raiva, ódio, impotência. “Não é do dia para noite, porque é uma conscientização de que não adianta sentir ódio, pois isso só fará mal para a própria pessoa. Precisamos aceitar e ser resilientes, poucas coisas da vida estão sobre nosso controle total”, aconselha.
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Luzileide Pereira, 37, entende a importância da família neste momento. A união dos parentes foi essencial para aguentar a notícia da morte da irmã Genir Pereira, 47, depois de 10 dias desaparecida. “A gente entendeu que tinha alguma coisa errada, porque ela não sumia, não ficava sem dar notícia de jeito nenhum”. O corpo foi encontrado em uma área de mata entre as regiões do Paranoá e de Planaltina em 12 junho de 2019. O crime ficou sem solução até 26 de agosto, quando o acusado, Marinésio Olinto, que já tinha confessado o assassinato de Letícia Curado, 26, também revelou ter matado Genir.
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Assim que a família registrou o desaparecimento da diarista, iniciou-se uma força-tarefa para procurá-la. “Nós não esperamos, fomos para o mato, andamos todos os 10 dias procurando por ela. Calculamos do local que sumiu para onde poderia estar. Nós não íamos conseguir ficar parados. Eu falei para todos: ‘Vamos procurar, mas preparados para qualquer notícia’. Fomos orando. A gente saía cedo de casa para ter mais tempo de andar e só voltava umas sete horas da noite”, relembra.
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O pior, infelizmente, aconteceu. Mas a angústia teve fim: “Eu fiz um culto de ação de graças na minha casa no dia que encontraram o corpo da minha irmã. Tem gente que achou que eu era louca, mas eu pedi tanto a Deus, que mesmo morta, a gente encontrasse ela. Porque tem tantas pessoas que sumiram e nunca apareceram. Eu pedia em oração: Deixa a gente encontrar, deixa a gente enterrar, ela merece”, fala Luzileide, repetindo o tom de súplica do passado.
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Genir morava com a irmã Eva Pereira, 43. A caçula, Luzileide, era vizinha de porta das duas. As três sabiam tudo uma da outra. “A gente tem esse hábito lá em casa. A minha família é unida. A gente se reúne para tudo. Quando alguém tem problema, a gente se senta junto e conversa”, fala orgulhosa. O forte vínculo foi essencial no primeiro momento, e ainda hoje, após quatro meses do ocorrido, mantém todos de pé: “Eu acho que a união nos deu mais coragem, para superar. Alguém tem que estar de pé para tentar segurar o resto. Nem que depois caia e todo mundo que está em pé, segure. Porque cair, todo mundo ao mesmo tempo, não dá certo”, ri para disfarçar a dor.
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Luzileide ainda não sabe quando o sofrimento vai passar, mas acredita que o tempo é o melhor remédio. “Tem dias que eu sinto a mesma sensação de quando tudo aconteceu, mas já tentei tomar medicação. Remédio não trata. É só o tempo. Eu tenho que me adaptar com essa dor e saber que uma hora ela vai ter que amenizar”, diz esperançosa.
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Quantas mais?
A pergunta comum entre todos os familiares das vítimas é: “Quantas mais”? No ano passado, o Distrito Federal registrou 29 feminicídios e até agora 26 casos marcaram o ano de 2019. A advogada e professora universitária Soraia Mendes, 45, alerta sobre a ausência do Estado para a proteção das mulheres. “Há uma delegacia da mulher no Plano Piloto e a Casa da Mulher Brasileira está fechada. Imagina uma mulher que sofra violência em Planaltina e precise de ajuda… Para onde a gente vai correr?”, questiona. Ela afirma que em Maceió, Salvador e Porto Alegre há rondas de monitoramento de inteligência policial que se desdobram para atender mulheres em situação de violência, o que ainda não existe no Distrito Federal. “Quando a mulher ligar para o 180, ela deve ser atendida urgentemente”, diz.
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Soraia enfatiza a importância de se discutir sobre a violência ainda na infância. “A criança tem que ter acesso às informações”. Para ela, a violência é facilitada em áreas mais carentes, mas atinge a todas, desde a mulher assassinada no Entorno, onde não há atendimento para vítimas de violência, até lugares considerados mais seguros como o prédio da Secretaria de Educação. “Em que lugar nesse país as mulheres estão seguras?”, questiona.
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O 27º feminicídio do ano?
Em meio às dúvidas sobre o que aconteceu com a vendedora Noélia Rodrigues de Oliveira, 38 anos, encontrada morta na sexta-feira (18), a polícia continua as investigações do caso. O marido da lojista, Marcos Paulo Mendes Santana, teve carro e moto apreendidos e roupas recolhidas para a perícia da Polícia Civil (PCDF). O velório de Noélia ocorre hoje, a partir das 11h, na Capela 1 do Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga.
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A polícia realizou ontem diligências nas ruas relacionadas ao crime, que continua sendo tratado como feminicídio. Segundo Adriana Romana, delegada-chefe da 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires), responsável pelo caso, as investigações ainda estão se desenvolvendo e, até “todo o esclarecimento do fato”, o crime será tratado como feminicídio por se tratar da morte violenta de uma mulher.
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Noélia foi encontrada com uma marca de tiro no rosto e sinais de luta corporal, apesar de estar com as vestes completas. Se confirmado, o caso de Noélia será o 27° crime de feminicídio no Distrito Federal em 2019. A moradora do Sol Nascente havia desaparecido na quinta-feira (17), por volta das 22h, após sair do shopping onde trabalhava, na Asa Norte. A vendedora costumava voltar de ônibus do trabalho e encontrar o marido na parada. Ele a levava para casa onde moravam com os dois filhos, uma menina de 9 anos e um menino de 5.
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“Carro e moto estão apreendidos, foram trazidos para a delegacia e estamos analisando”, explicou a delegada Adriana Romana. Na sexta-feira, Marcos Paulo foi ouvido por mais de três horas pela polícia. Segundo o advogado dele, Geraldo Madureira, o marido de Noélia era tratado como suspeito, por isso, decidiu colaborar com os investigadores. “Ele autorizou tudo e colabora para tirar essa nuvem de dúvida”, disse Madureira. Ele chegou a registrar ocorrência do desaparecimento da esposa na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central). Ontem o corpo passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) e foi liberado por volta das 13h30.
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*Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira
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