Saiu no site ALDEIA NAGO:
Veja publicação original: Eu quero deixar de ser machista; ajude-me mulher perita! Por Marconi De Souza Reis
O machismo é, de acordo com os dicionários, o comportamento de um indivíduo que recusa a igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo e enaltecendo, com expressões ou atitudes, o sexo masculino sobre o feminino. Trata-se de um conceito genérico.
Os relatos históricos são de que o termo ganhou corpo na década de 1960, para descrever a violência física do homem contra a mulher. Este é um conceito demais restrito. Agora, de uns tempos para cá, o termo espraiou-se de tal forma, que hoje acho difícil não me rotularem de machista.
Senão vejamos:
Eu comprei um macaco hidráulico em 2012, que funcionava perfeitamente erguendo até duas toneladas. Entre o Natal e o Ano Novo, meu carro furou o pneu, e eu, na hora de fazer a força, percebi que o macaco hidráulico estava sem força, sem pressão, brochado. Não subiu um centímetro.
Imaginando tratar-se de falta de óleo, peguei o carro do meu filho e fui a uma borracharia nos arredores de Villas do Atlântico, para que dessem um jeito no “bicho”. O borracheiro tentou, tentou, tentou e, ao não conseguir dar-lhe pressão, recomendou-me ir a uma oficina próxima.
Quando lá cheguei, o cara da oficina nem abriu o macaco hidráulico. Sabendo-se incapaz de consertá-lo, aconselhou-me a procurar a loja onde adquiri o distinto aparelho. – “Geralmente os caras que vendem esses macacos sabem recompor a pressão”, opinou.
Cheguei a tal loja com o pesado macaco hidráulico, onde fui muito bem atendido pelo proprietário e por seu funcionário, que, de plano, desmontaram o equipamento. Eles olharam, olharam, e disseram-me ao final que, infelizmente, não sabiam qual era o problema.
Naquele momento, a uns 20 metros de distância, apareceu na calçada uma moça bonita com um short jeans bem curto, curtinho, e que, ao passar por nós, exibiu maravilhosamente as duas papadas da bunda. O funcionário da loja, incontinenti, comentou em voz alta:
– Que delícia!
A garota retornou até nós, perguntou quem fez o comentário, e o funcionário da loja assumiu o elogio. Ela então disparou:
– Guarde seu comentário machista para suas “nigrinhas”!.
E foi-se embora, com cara de poucos amigos. O rapaz ressaltou comigo, e com o dono da loja, que apenas elogiou a menina, ou seja, que não a chamou de vagabunda, cachorra ou puta, daí que entendia ser injusta, ofensiva, aquela reação inusitada e hostil.
No mesmo instante, entrou um homem de meia idade na loja e, vendo nossa aflição com aquele macaco hidráulico, perguntou-me:
– Você conhece algum engenheiro mecânico?
– Sim. Meu filho é engenheiro mecânico, respondi, surpreso.
– Mostre a ele, que o garoto vai diagnosticar o defeito rapidamente.
Caramba. Como se vê, “casa de ferreiro, espeto de pau”. Liguei imediatamente para o meu filho, que me mandou deixar o macaco hidráulico na empresa onde ele trabalha. Meu filho pediu, ainda, que eu trocasse o óleo do seu carro, visto que já havia ultrapassado o prazo de uso.
Então me dirigi a um posto de combustível, que fica exatamente em frente à loja onde vende o macaco, e lá encontrei um senhor de uns 80 anos de idade, que trocava o óleo do carro da esposa. Engenheiro aposentado da Codesal, ele, de plano, comentou sobre a moça do shortinho jeans.
– Que moça bonita. Eu vi daqui que ela parou lá, conversou com vocês…
Ela deu “bola” para você?
– Que nada. Ela chamou o funcionário da loja de machista, porque o garoto a elogiou, retruquei.
– Qual foi o elogio?, perguntou o velho.
– O cara disse apenas: “Que delícia”, expliquei.
– Pois é… Eu não sei o que é o machismo. Depois de quase 50 anos de casado, minha esposa me chamou de machista pela primeira vez recentemente, comentou o velho.
Eu fiquei curioso, daí que, enquanto assistíamos ao funcionário do posto na troca do óleo do carro, perguntei-lhe qual foi o motivo que o levou a ser chamado de machista pela digníssima esposa, após tão longeva convivência matrimonial.
Ele me disse que tudo nasceu “do nada”, ou melhor, de uma hora para outra, já velhinha, sua esposa passou a amar os animais como nunca (gato, cachorro, etc).
– É muito complicado, meu amigo. Ela já comprou vários cães, gatos, enfim, a nossa casa virou um inferno.
– E o que é que o machismo tem a ver com isso?, questionei-o, sem entender o elo.
– É que ela agora está levando alguns bichos para dormir conosco, na nossa cama, e então eu decidi comprar outra cama no próximo mês de janeiro. Ao saber disso, ela disse que eu não compreendo os seus sentimentos, que eu sou um machista. Veja só: ela disse que eu sou machista por não querer compartilhar minha cama com os bichos. Pode?
Eu caí na risada, e comentei:
– Então, enquanto não chega a nova cama, o senhor estará obrigado a dormir com os bichos.
Aí o velho disparou:
– Pois é… Tenho que dormir com dois cães, um gato e uma onça!
– O quê? Ela comprou uma onça também?, perguntei, assustado.
– Não. A onça é ela.
Caramba. Aí foi que eu dei muita gargalhada. O trejeito que o velhinho fez com os lábios e os olhos enquanto pronunciava “a onça é ela”, referindo-se à esposa, foi mais cômico do que as cenas mais hilárias de “Vida de Cachorro”, clássico de Charles Chaplin, de 1918.
Olha, eu adoro o humor que roça com o politicamente incorreto, sem o bafo pegajoso e nojento do preconceito. Talvez por isso, escolhi esse vídeo abaixo – que chegou a mim anteontem pelo WhatsApp, enviado por meu filho caçula –, para ilustrar esse texto dominical. Vale a pena vê-lo. É muito hilário. .
Pois bem: enquanto eu ria dessa última frase do velhinho, chegou um cara bonitão, de uns 35 anos de idade, que também iria fazer a troca de óleo no posto de combustível. Ele ouviu o final do nosso diálogo, quis saber dos detalhes, e ao ser informado da história, afirmou:
– Isso aí é fichinha perto do que já passei…!!!
– Você, tão jovem, tem algo ainda mais curioso do que isso, comentou o velho engenheiro aposentado, duvidando do rapaz.
– Sim, meu tio. E com três mulheres grávidas envolvidas, retrucou.
Putz… Eu e o velho engenheiro nos entreolhamos, incrédulos e curiosos, como se fôssemos personagens ou leitores de Machado de Assis. Já passava das 11h30, daí que eu pedi uma cerveja ao frentista e, antes que a gelada chegasse às minhas mãos, supliquei ao cara: – “Conta aí, cara”!
Bem, o rapaz nos disse que morava num apartamento no Jardim Brasil, lá na Barra, onde era admirado por uma garotinha, cinco anos mais nova. Quando ele tinha 15 anos, a menina, aos 10 anos, já vivia rindo para ele, dando mole, enfim, iniciando cedo a sedução feminina.
Disse-me que, quando estava no segundo ano da faculdade de Direito, aos 20 anos de idade, começou a namorar a tal garotinha, agora com 15 anos. E o namoro durou muitos anos, até que, na época que a garota cursava o segundo ano de Nutrição, ocorreu uma gravidez “por descuido”.
Nessa época, ele já advogava, morava num apartamento alugado nos Barris, daí que convidou a namorada para ir morar junto com ele, enfim, constituir uma família. E aí veio a grande surpresa. A namorada avisou que iria abortar o feto, “para não atrapalhar os estudos”, a sua carreira, o seu futuro.
E o pior: a mãe da menina, que é professora de Sociologia na Ufba, deu apoio irrestrito à filha. Ele foi contundentemente contra aquela atitude, e isso lhe causou enormes transtornos, sendo acusado de machista (por mãe e filha). Enfim, cedeu ao aborto, mas a relação esfriou demais… E acabou em pouco tempo.
Dois anos depois, por ironia do destino, começou a namorar outra garota da faculdade de Nutrição – “conheci no Festival de Verão de 2010”, frisou –, que o liberava de usar camisinha, porque, segundo a moça, ela ingeria anticoncepcional. Três meses após a relação, porém, a garota o surpreendeu:
– Estou grávida!
Puta merda. Lembrando-se da relação anterior, ele então, de plano, propôs a ela que tirasse o feto, para não atrapalhar os seus estudos, sua carreira, seu futuro. Eis o que ele ouviu da garota:
– Isso foi só uma pegadinha. Eu queria mesmo era saber da sua reação. E, sinceramente, era o que eu esperava. Você é tão covarde e machista como todo e qualquer homem.
O namoro acabou no mesmo dia. Caralho. Naquele momento, lembrando-me da garota do shortinho de outrora, eu pedi a ele e ao engenheiro aposentado que me permitissem narrar tudo isso na rede social, revelando os seus nomes. Afinal, em poucas horas, eu me vi diante de contos realistas do “escambau”…
O velho engenheiro permitiu a sua identificação, mas o jovem trouxe uma terceira história, que, segundo ele, impediria sua identificação. De fato, fiquei estupefato com o que ouvi e, sinceramente, decidi mantê-los no anonimato, embora haja testemunhas sobre tudo que escrevo aqui. Sigamos a narrativa:
O advogado nos contou ainda que, no início de 2016, engatou uma relação bacana com uma menina linda, deliciosa, que acabara de se formar em Fisioterapia. No primeiro mês em que ela começou a trabalhar numa clínica do litoral norte, surgiu uma gravidez “mais ou menos esperada”.
– A gente cogitava a situação, confessou.
Daí que, já ressabiado com as duas histórias anteriores, ele revelou querer casar-se com a fisioterapeuta. – “Nunca vi seu rosto tão lindo, naquele riso, quando eu propus o casamento”, contou-me. No terceiro mês de gravidez, porém, a moça perdeu o futuro bebê, após sair de um banho de mar.
Foi diagnosticado um problema no útero da garota, qual seja, ela tem dificuldade em segurar o embrião. Para complicar a situação, o cara foi aprovado logo depois para cursar um doutorado em Belo Horizonte, a partir de março de 2017. E aí, então, instalou-se um impasse insólito.
Ela não queria acompanhá-lo até a capital mineira, mas desejava manter o casório já programado para maio de 2017. Ele foi contra. O cara propôs ir fazer o doutorado em BH – iriam se encontrar uma ou duas vezes por mês –, e quando ele retornasse em definitivo, efetivariam o casamento.
Ela não quis, ficou irascível, dizendo que o cara não confiava nela, que ele era machista, possessivo, e coisa que tal. Resultado: a relação acabou. E o pior: a moça entrou com uma ação de reconhecimento de união estável, enquanto ele argumenta que nada passou de um “namoro qualificado”!
– Se não tivesse essa ação judicial em curso, eu permitiria que você me identificasse no seu texto. Agora, sem citar o meu nome, você pode publicar as três histórias, afirmou, ressaltando que talvez eu tenha amigos na rede social que conheça pelo menos o último episódio.
Um detalhe: o advogado me disse que a primeira garota, a do aborto, casou-se com um cara truculento, e, segundo o pessoal do prédio onde ele morava (e que a professora de sociologia reside até hoje), já o viram espancando-a no estacionamento. – “Acho que é castigo de Deus”, comentou.
Outro detalhe: as amigas da terceira garota, a que entrou com o processo de união estável, acham também que o advogado é “egoísta e machista”, apenas pelo fato de ele ter preferido adiar a celebração da união, em face da chance de fazer o doutorado em Belo Horizonte.
Bem, eu dei meu nome completo a ele e ao engenheiro aposentado, e prometi que procurassem suas histórias aqui no Facebook, na primeira semana deste mês de janeiro. Eu iria publicar esse texto na semana passada, mas aí veio aquele show de Pabllo Vittar, e adiei a narrativa para hoje.
Por coincidência – uma incrível coincidência –, a atriz Catherine Deneuve e outras 100 mulheres (intelectuais, artistas, engenheiras, etc…) divulgaram esta semana, na França, uma carta contra o conceito espraiado do machismo, que confunde até cantada com importunação ofensiva ao pudor.
Na verdade, quem define a ofensa é o ofendido e não o ofensor, seja no caso do machismo, do racismo ou da homofobia, para citar apenas três mazelas em voga na sociedade contemporânea. Não obstante, os conceitos de racismo e homofobia são bem nítidos, enquanto o do machismo, não.
O racismo e a homofobia estão, inclusive, configurados em legislações. O machismo, não. Apenas a lei do feminicídio trata dessa questão, mas, neste caso, refere-se tão somente ao assassinato (consumado ou tentado) no âmbito familiar/doméstico ou por desprezo à condição de mulher (ver comentário abaixo).
O conceito de machismo no dicionário e na história do feminismo é muito genérico, daí que, sinceramente, impossível para mim saber como deixar de ser machista, até porque, nas histórias que narrei acima, eu teria o mesmo comportamento dos três protagonistas.
Ora, como é possível avistar uma moça bonita, com um shortinho mostrando a papada da bunda, e não elogiá-la com um “que delícia”? Como é possível, depois de tantas décadas convivendo com a esposa, não querer mudar de cama para não dormir com cães e gatos?
Enfim, como é possível não reagir de forma idêntica nas histórias incríveis daquele advogado, que desejou a gravidez da primeira garota, foi vítima de uma “pegadinha” com a segunda, e o destino lhe tirou o filho na derradeira relação, sendo taxado, nos três casos, de machista?
O mundo está muito egoísta. Isso, sim. Daí que, mantendo-se esse conceito espraiado de machismo, eu não vou deixar de sê-lo nunca. É preciso, sei lá, uma cartilha taxativa, até porque, na minha casa, no dia que eu não quero conversa, quando fico calado, o meu silêncio é rotulado por minha esposa de machismo.
Bem, meu filho descobriu em minutos o problema no macaco hidráulico, daí que, tudo que eu espero, nesse contexto, é que alguma mulher “engenheira” também seja perita para consertar em mim o conceito sobre o que é machismo, porque, infelizmente, até agora nenhuma borracheira foi capaz!
Nota: O que mudou com a lei do feminicídio!
Em primeiro lugar, importante explicar para as pessoas o que é o feminicídio, porque, infelizmente, a mídia mais deseduca do que ensina as pessoas, inclusive as mulheres, sobre o tema.
Com a sanção da Lei 13.104/15, sancionada pela presidente Dilma Roussef, o Código Penal passou a incluir uma qualificadora, qual seja, o crime de feminicídio.
O feminicídio é quando o assassinato (ou a tentativa de assassinato) envolver violência doméstica e familiar, e também quando envolver menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Portanto, se o crime é cometido no âmbito doméstico e familiar, trata-se de feminicídio. Se o crime envolver menosprezo ou discriminação à condição de mulher, também é feminício.
Os crimes domésticos e familiares são mais fáceis para classificação nos autos processuais. O que envolve menosprezo ou discriminação, não. Esse vai depender de várias circunstâncias, inclusive do depoimento do réu.
No entanto, há casos mais fáceis para essa segunda tipificação. Por exemplo: aquele motoboy que estuprou e matou dezenas de mulheres em São Paulo, é um caso típico de menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
E o que mudou com a lei do feminicídio? Bem, no homicídio simples, a pena é de seis a vinte anos de reclusão. Já no caso do feminicídio, é de doze a trinta anos de prisão. Ou seja, o feminicídio passou a ser equiparado a um homicídio qualificado.
E mais: se a mulher estiver gestante, se estiver no período de três meses após o parto, se for menor de 14 anos ou maior de 60, se for deficiente e se o crime foi presenciado por ascendente ou descendente da vítima, a pena aumenta de um terço até metade.
A mulher também pode responder pelo crime de feminicídio, basta que pratique o crime contra outra pessoa do sexo feminino no âmbito doméstico e familiar, ou o faça por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Em termos práticos:
Se o marido pegar a mulher com outro cara, e matá-la, vai responder por um crime que prevê uma pena de doze a trinta anos de reclusão.
Agora, se for o oposto, ou seja, se a mulher pegar o marido com outra moça, e matá-lo, e o juiz achar que esse motivo não é fútil, então ela só responde por um crime com pena de seis a vinte anos de pena.
E mais: o juiz pode ainda diminuir a pena da mulher em um terço, caso considere que ela foi impelida por relevante valor moral (parágrafo primeiro do artigo 121, do Código Penal).
Da mesma forma, se a lésbica pegar a companheira transando com um cara, e matá-la, vai ser submetida às sanções do feminicídio.
Resumindo: a lei do feminicídio foi constituída para proteger a vítima mulher, independentemente de quem pratica. Obviamente que, em 99% dos casos de feminicidio, o agente infrator é do sexo masculino.
Bem, eu vou deixar aí abaixo um clássico da música pop brasileira, “Pagu”, composta por Rita Lee e Zélia Duncan. Infelizmente, as mulheres brasileiras, em sua maioria esmagadora, preferem a “Paradinha”, da Anitta.
Até a minha netinha Lalua gosta de dançar a “Paradinha”. Pode? Estou deixando a avó e a mãe deseducar a garotinha até uma certa idade. Depois, eu virei com “Pagu”, “Geni e o Zepelim”, “Dom de Iludir”, etc, além dos melhores livros, que a transformarão numa mulher lúcida. Quem sabe, ela me ensina o que é, de fato, o machismo.
….