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Eu, leitora: “Perdi minha casa e estou na rua com meus filhos”, diz ex-moradora do prédio que desabou

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE: 

 

Veja publicação original: Eu, leitora: “Perdi minha casa e estou na rua com meus filhos”, diz ex-moradora do prédio que desabou

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Marie Claire entrevistou Leig Laura Aprigio dos Santos, mãe de família que passou 15 dias no imóvel que desabou em São Paulo, e agora está morando na rua

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36 horas depois do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, Centro de São Paulo, os ex-moradores ainda se amontoam em frente à igreja principal da praça, em barracas de lona e colchões doados. Há uma fita zebrada pendurada em volta do acampamento, separando as famílias dos muitos curiosos e voluntários que se reúnem no entorno. O ambiente é de pura gritaria e agitação; pessoas separando roupas, objetos e alimentos que chegam a toda hora em sacos plásticos, crianças tentando brincar em meio à tensão dos organizadores e assistentes sociais, gente sem-teto, desesperada à procura de um espaço para dormir mais tarde.

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Marie Claire encontrou Leig Laura Aprigio dos Santos, de 36 anos, com o olhar perdido, sentada em sua barraca, junto dos dois filhos, Jonathan, de 9 anos, deitado lá dentro, e Bruna, de 12, ao celular, “No Zap, com as amigas”. Ao lado dela, dona Cida, a última pessoa a conseguir escapar do prédio em chamas, escolhia camisas e calças de dentro de uma sacola que tinha acabado de ser entregue. “Não quero contar nada, já estou sendo perseguida por ter aberto a boca”, ela diz, quando peço uma entrevista. “Eu falo com você”, me estende a mão Leig, enquanto me acomodo no colchão molhado ao seu lado. A seguir, um depoimento da mãe de família que passou apenas 15 dias no imóvel pelo qual havia pagado suados R$ 400 de mensalidade e abrigado seus únicos bens, algumas roupas, uma geladeira e um fogão.

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“Fazia duas semanas que eu tinha me mudado pro prédio. E agora já estou na rua de novo. Vim pra cá depois que conheci a Selma, aqui no Largo mesmo. Eu tinha saído de Bertioga em março, porque morava numa ocupação que já não estava mais dando certo, aí botaram a gente pra fora, e viemos pra São Paulo – eu, meu marido e nossos dois filhos. A gente ficou na rua um tempo, até que a Selma disse que tinha um lugar pra gente no mesmo prédio que ela. A Selma não conseguiu se salvar do fogo. Morreu ela e os dois filhos pequenos, um era bebê de colo, o outro tinha 9, assim como o meu.

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Leig Laura Aprigio dos Santos com os filhos Jonathan, de 9 anos e Bruna (Foto: Zedu Moreau)
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Eu já sou acostumada a morar na rua, mas não queria isso pros meus filhos. A Bruna tem os sonhos dela, quer ser cabeleireira… Eu saí de casa cedo, com 15 anos. Nasci no Espírito Santo, mas a gente morava numa casa em Guaianases [bairro da Zona Leste de São Paulo]. Até que engravidei do meu menino mais velho, Daniel, de 20 anos, que hoje mora com minha mãe. Fiz essa burrice e minha família não me aceitou mais. Me expulsaram de casa e até hoje não me ajudam. Fui pra rua e comecei a viver assim, sem banheiro, sem comida, sempre com medo de levar paulada. Meu marido, pai do Daniel, foi morto – mataram ele. Logo depois conheci o Antonio [de 51 anos, pai de Bruna e Jonathan] e começamos uma vida.

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Tá sendo uma tristeza voltar pra rua agora. Sinto falta de viver num lugar com mais segurança, em que a gente fica mais quentinho pra dormir. Eu já tinha pagado R$ 400 pra passar o mês todo ali. O primeiro de um monte, era o que a gente queria. Na madrugada do incêndio, mais ou menos à meia-noite, saí com Antonio e os meninos até o Pateo do Collegio, onde disseram que ia ter alimentos doados por causa do feriado. Já tinha avisado na portaria que passaria a noite fora. A gente levou uns colchões pra dormir lá e poder pegar as doações de manhã bem cedo. A gente nem chegou a dormir, um cara que conhecemos lá veio dizer: ‘O prédio onde vocês moram caiu’. [O fogo no edifício Wilton Paes de Almeida começou aproximadamente à 1h30 da manhã; o desabamento ocorreu cerca de 90’ depois.]

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Eu nem acreditei. Quando a gente chegou, aquela fumaça toda, um monte de gente na porta, alguns vizinhos, todos tensos, chorando, com medo… foi um choque. Perdi vários amigos. Nem sei onde está tanta gente. Também foram embora todas as nossas coisas: as roupas, minha geladeira, meu fogão, meu botijão.

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Agora a gente não tem mais nada. Estão dizendo que vão levar a gente pra um albergue, mas eu não quero ir. Quero uma moradia digna pra mim e minha família. Eu vendo cerveja, refrigerante e salgadinho na rua, todo dia. Se pelo menos tivesse um lugar que a gente pudesse ir pagando aos pouquinhos… Mas as pessoas que vêm aqui só dão roupa e comida, roupa e comida. É difícil, é muito difícil… Tá horrível aqui, todo mundo gritando. Lá no prédio era organizado, tinha hora pra entrar, sair, um cara na portaria. Agora, tô cansada da vida. Pelo menos tenho a Bruna, minha grande companheira. Os sonhos que ela tem dão uma ajuda. Mas tô vendo que aqui, do jeito que a gente tá, até ela vai perdendo a esperança. Desse jeito, não dá nem pra sonhar em ser feliz.”

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Leig Laura Aprigio dos Santos com os filhos Jonathan, de 9 anos e Bruna (Foto: Zedu Moreau)
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