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Vinte e dois por cento das mulheres negras que moram no Rio estão desempregadas. Este dado faz parte de um estudo da Prefeitura do Rio e revela que, além da desigualdade social e da falta de emprego, agravada durante a pandemia, as mulheres também enfrentam o preconceito.
Chirlene Maria Oscar Vieira tem faculdade de recursos humanos e pós-graduação em psicologia organizacional — e não para de estudar. Mas a vaga de emprego não aparece.
“Estou estudando recrutamento de pessoal. E libras também, que estou estudando ao mesmo tempo, são duas pós diferentes, mas tudo na área de RH. A língua de sinais me encanta muito. Faz falta saber falar com as pessoas que têm essa deficiência. Eu acho muito interessante”, disse Chirlene.
Desde que ela se formou, em 2015, Chirlene complementa a renda da casa com bolos e salgados que o marido vende aos colegas.
“Eu mando currículos, faço entrevistas on-line, mas eu recebo sempre negativa. Passo da segunda etapa, mas não vou pra terceira. Mas faz parte do mercado de trabalho, está muito restrito essa área de RH. É uma área muito restrita mesmo, quem está dentro não vai querer sair. É muito concorrida, mas eu gosto, sou persistente”, disse a desempregada.
O índice de desemprego entre as mulheres negras é 7,3% maior do que o índice da cidade como um todo.
Desemprego em 2020
- Mulheres negras – 22%
- População geral – 14,7%
O problema começou a se agravar em 2015, com a recessão econômica, e triplicou de tamanho, como mostra o boletim econômico do Rio.
Desemprego entre mulheres negras
- 1º Trimestre de 2015: 6,9%
- 1º Trimestre de 2017: 14,6%
- 4º Trimestre de 2019: 17,6%
- Média em todo 2020: 22%
Os fatores são vários. Um deles é a baixa escolaridade. As mulheres brancas têm mais que o dobro de acesso a um curso superior.
Escolaridade – curso superior
- Mulheres brancas: 44,6%
- Mulheres negras: 21,3%
Com menos instrução, a qualidade dos empregos diminui e a informalidade aumenta, como explica o secretário de Desenvolvimento Econômico, Francisco Bulhões.
“Não à toa, a gente vê 40% de informalidade quando trata de mulheres negras, muito menor que homem branco, para quem essa informalidade diminui bastante quase pela metade. Todos esses fatores sociais, que a gente já vê no Brasil de muito tempo, se refletem numa desigualdade, que foi ainda potencializada pela pandemia. Atingiu em cheio o setor de serviços, onde essas mulheres estão. E esses informais e setores mais vulneráveis é que acabaram sendo muito afetados”, disse o secretário.
Para além das questões socioeconômicas e de gênero, elas também enfrentam preconceito.
“Discriminação por ser negra. No mercado mesmo existe uma empresa que tem que ser aquele perfil, mas eu não ligo, não. Mandei o currículo para a empresa, mas nem retorno obtive”, contou Chirlene.
A proposta da prefeitura é traduzir essas questões em números, montando um observatório econômico, para então propor políticas públicas.
“Investir muito na formação dessas mulheres negras, incluir como meta até 2024 370 mil mulheres negras nesse mercado de trabalho através, principalmente, da educação. O eixo educacional está começando agora a desenvolver programas de educação financeira que a gente quer formatar ainda esse ano. E de alfabetização tecnológica, ainda esse ano, para que a gente, no início do ano que vem, já comece a rodar esses programas”, disse Bulhões.