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Por: Maddie Crum
Uma mulher acorda de repente, e, por um instante, fica desorientada. Ela junta suas roupas e ouve alguém tomando uma chuveirada. Presume-se que sejam os sons matinais de um parceiro que ela não fica contente em ver.
“Serei severa comigo mesma, mas não injusta”, ela fala. São palavras tiradas de uma peça intitulada “Dupla Falsidade”, que alguns estudiosos atribuem a William Shakespeare. “Terá sido estupro, então?”
É a cena inicial de um curta-metragem impactante produzido por Thaddeus Shafer, Kari Lee Cartwright e Charissa J. Adams. Intitulada “Was It Rape, Then?” (Terá sido estupro, então?), a história emprega versos das peças de Shakespeare para recriar uma multidão de experiências sofridas que podem nascer da cultura do estupro.
Adaptado de uma performance online de Charissa J. Adams para um show de teatro burlesco intitulado “Cabaret Consensual”, o curta-metragem acompanha várias mulheres em diversas situações sociais e seus pensamentos individuais sobre sexo não consensual. Ao longo do filme, um coro de mulheres questiona as injustiças cometidas contra elas, mas então converte sua dor em triunfos pessoais.
Alguns dos primeiros versos lamentam “o que os homens fazem diariamente”, mas, à medida que o filme avança, as heroínas encontram força para “lutar”, “com corações que protegem mais que escudos”.
“Shakespeare jogava o tempo todo com os contextos”, disse Shafer em entrevista ao HuffPost. “Duplos sentidos, duplos pensamentos, vidas duplas. Quando ouvimos suas palavras ao vivo, sempre estamos enraizados no momento presente sobre o palco e também meio que flutuando em uma realidade imaginada. A troca de gêneros não é incomum em Shakespeare. É um artifício especialmente poderoso, com o qual se pode colocar mulheres na posição de liderar os discursos militantes, agitadores, contra um inimigo mortal. Quisemos retratar a luta das sobreviventes de agressões sexuais como uma luta interna, sim, mas também como uma batalha externa real pela sobrevivência e a autonomia, a verdade e a dignidade.”
Shafer explicou que a finalidade do curta é explorar a gama nuançada de experiências que podem encaixar-se na descrição de “estupro”.
“Ficamos tão presos em nossas definições rígidas que pode ser difícil ser expressivo com as palavras sem colocar-se em um beco sem saída. Uma dessas palavras é ‘estupro’. Quisemos encontrar uma maneira de deixar que o estupro e as questões relacionadas a ele permeiem sem limites e sem a necessidade de dividir nossos protagonistas legalisticamente”, ele explicou. “Todas estão engajadas em uma só luta.”
Cartwright ecoou essa ideia e a levou adiante. Ela espera que o projeto faça os espectadores se sentirem “conectados, empoderados, incentivados e energizados”. Sua esperança é que o filme gere empatia pelas sobreviventes de agressões sexuais e que ultrapasse “a linha divisória rígida entre o que constitui ou não estupro”.
“Tudo isso vem acontecendo há milênios, não apenas nas situações mostradas nos 3,5 minutos de nosso filme”, ela comentou. “Somos solidárias com todas as vítimas das incontáveis formas de violência sexual em todo o mundo, em todas as classes sociais e culturas, de forma aberta ou sutil, em escolas, nas forças armadas e em comunidades minoritárias.”
Veja publicação original: Esta mulher usou as palavras de Shakespeare para explicar o que é cultura do estupro