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Em meio à mobilização de mulheres contra assédio, alguns temem efeito colateral indesejado

Saiu no site O GLOBO:

 

Veja publicação original:   Em meio à mobilização de mulheres contra assédio, alguns temem efeito colateral indesejado

 

 

Advogados trabalhistas, no entanto, veem restrições como problemáticas

 

NOVA YORK – As denúncias e a mobilização de mulheres contra histórias de assédio e abuso sexual são um dos destaques do ano — a revista “Time” chegou a eleger para o tradicional prêmio de “pessoa do ano” as mulheres que se dedicaram à causa —, mas alguns temem que pode ter um efeito colateral indesejado. Pelo menos esta é a preocupação de algumas executivas, como a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, e a advogada e empreendedora Ana Quincoces, que veem riscos para o clima no ambiente de trabalho e e do excesso de cautela que pode provocar entre os profissionais.

 

 

Há quem veja o fim dos encontros privados e jantares de relacionamento, mais atenção a brincadeiras e homens pensando duas vezes antes de atuarem como mentores para funcionárias mais jovens. Em um post recente no Facebook, a diretora de operações, Sheryl Sandberg, denunciou o risco para as oportunidades profissionais para mulheres:

 

 

“Eu já ouvi rumores de um retrocesso: ‘Por isso que não se deve contratar mulheres’. Tanta coisa boa vem acontecendo para acertar os ambientes de trabalho. Vamos ter certeza de que isso não tenha a consequência indesejada de segurar as mulheres”, disse em seu post Sheryl, autora de um livro sobre mulheres trabalhadoras intitulado “Faça Acontecer”.

 

 

O escândalo sexual envolvendo o produtor de Hollywood Harvey Weinstein deu início a uma grande campanha on-line, com anônimas e atrizes revelando que também foram vítimas de abusos no passado. A hashtag #MeToo (Eu também) ganhou o mundo. Pesquisas vêm mostrando consistentemente nas últimas décadas que o assédio sexual é um problema generalizado para mulheres.

 

 

A advogada e empreendedora Ana Quincoces, que tem uma linha de alimentos em Miami, afirmou que seu negócio e seu sucesso envolve o trabalho principalmente com homens, e vendas e outras atividades são geralmente concluídas em almoços ou drinques no fim do expediente. Essas oportunidades, segundo ela, estão diminuindo, porque muitos dos homens “estão aterrorizados”:

 

 

— Há uma sensação de uma parede que não estava lá e de repente se ergueu porque eles não sabem mais o que é apropriado ou não — é desconcertante. Sinto eles estão mais cuidadosos e mais formais nas relações com colegas de trabalho. E não posso dizer que os culpo porque o que ocorreu é grande. Cada dia há uma nova acusação.

 

 

Ela disse que muitos dos homens que conhece estão agora evitando situações de encontros individuais que eram normais no passado:

 

 

— Isso vai se espalhar por todas as indústrias e se tornar o novo normal. É uma coisa boa porque mulheres não têm mais medo, mas por outro lado pode ter consequências.

 

 

Os americanos já estão nervosos por causa de encontros entre homens e mulheres no trabalho. Uma pesquisa em parceria do New York Times/Morning Consult com 5.300 homens e mulheres na última primavera apontou que quase dois terços dos trabalhadores devem ser extra cuidadosos com colegas do sexo oposto, e um quarto considerou que encontros privados entre homens e mulheres são inapropriados.

 

 

Em uma fase de fortes denúncias de assédio, alguns homens estão se questionando se podem cumprimentar uma colega de trabalho ou perguntar sobre seu fim de semana. Até uma mulher que hoje é ex-assessora para o Partido Democrata na Pensilvânia sugeriu no Facebook que homens podem parar de falar com mulheres por causa do que ela chamou de “denúncias exageradas”.

 

 

Segundo Philippe Weiss, que comanda uma consultoria em Chicago, alguns gerentes estão considerando assegurar que nunca estão sozinhos com uma funcionária, apesar da complexidade de incluir uma terceira pessoa em situações como avaliações de desempenho. O advogado da Filadélfia Jonathan Segal disse que alguns têm declarado que vão apenas manter as pessoas fora dos escritórios, em vez de se arriscar:

 

 

— A marginalização das mulheres no ambiente de negócios é um problema pelo menos tão grande quanto o assédio.

 

 

Um estudo recente feito junto a 222 empresas americanas mostra que o percentual de mulheres profissionais cai de 47% no nível inicial para 20% no nível médio de executivos. O vice-presidente americano, Mike Pence, há muito afirma que não tem refeições sozinho com mulheres que não a sua esposa há anos e que quer sua companhia em qualquer lugar em que álcool seja servido, como parte da prioridade dos dois ao casamento.

 

 

LIMITAÇÃO DE INTERAÇÕES É PROBLEMÁTICA

Advogados trabalhistas, no entanto, alertam que pode ser problemático limitar interações entre trabalhadores por causa do gênero, se a prática restringir suas oportunidades profissionais. W. Brad Johnson, coautor de um livro que encoraja mentores homens para mulheres, a limitação de contato pode mandar uma mensagem problemático:

 

 

— Se eu não estivesse disposto a ter uma conversa individual com você por causa do seu gênero, minha mensagem é ‘você não é confiável, você é um risco — disse ele, professor de psicologia da Academia Naval dos Estados Unidos.

 

 

Jessica Proud, consultora do Partido Republicano em Nova York, disse que seria errado se essas denúncias levassem homens a não contratar ou trabalhar com mulheres. Ela lembrou de uma vez, ao trabalhar em uma campanha política, terem dito que ela não poderia viajar com o candidato por causa do que poderia parecer:

 

 

— Eu sou um profissional, ele é um profissional. Por quê minha experiência pode ser limitada? É um insulto de diferentes maneiras.

 

 

 

 

 

 

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