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Elas perderam o emprego; e culpam o machismo

Saiu no site  UNIVERSA:

 

Veja publicação original: Elas perderam o emprego; e culpam o machismo

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Por Letícia Rós e Marina Oliveira

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Elas relatam casos que sugerem cinco tipos de machismos recorrentes dentro do ambiente profissional. Assediadas, preteridas em entrevistas de emprego e até mandadas embora, segundo elas, simplesmente por serem mulheres.

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“Viramos fofoca da empresa e eu fui demitida. O guri, não”

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“Eu comecei a sair com um cara de um setor diferente do meu na empresa. Nos aproximamos na hora do café, no corredor, e resolvemos sair um dia. Depois de um tempo, provavelmente para aparecer, ele contou para os colegas que estava saindo comigo. Um dia, então, no sistema de interação dos funcionários – uma espécie de chat interno – um desses colegas me pediu um boquete. Eu não entendi aquilo e ele justificou: ‘Você chupa fulano, por que não me chupa também?’.

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Eu ignorei, mas um tempo depois, nos viram conversando na saída do expediente e viramos fofoca da empresa. Espalharam que a gente se pegava dentro do trabalho. Essa história chegou no ouvido dos gestores e eu fui demitida. O guri não. Ele continuou lá, como se nada tivesse acontecido.” Estela, 26, analista de TI

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“O RH só perguntou da minha vida pessoal, nada da minha formação foi questionado”

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“Estava fazendo o processo seletivo para uma ONG, em São Paulo. Fui chamada para a entrevista com o RH e começou o incômodo. A pessoa só perguntou da minha vida pessoal: porque se separou do pai dos seus filhos? Onde ficam seus filhos enquanto você trabalha? E quando eles ficam doente, quem cuida? Nada da minha formação foi questionado.

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Ao fim das perguntas, ela informou o salário e disse que eu faria outra entrevista com a diretora da unidade. Cheguei na segunda entrevista, já um pouco irritada. E adivinha qual foi a primeira pergunta? ‘Quantos filhos você tem?’. Depois vieram: eles são totalmente dependentes de você? Se eles precisarem de você com urgência, vai sair correndo para atendê-los? Aqui eu já estava irritada e respondi com tom áspero que meus filhos são prioridades.

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Ao fim da conversa, me pediram para preencher uma ficha e disseram que fariam contato. Uma semana depois, recebi um e-mail dizendo que a vaga foi preenchida. O que mais me deixou indignada foi tratar-se de uma ONG que cuida de crianças em situações de vulnerabilidade e de risco social. Ao que parece, somente essas crianças têm valor para eles, porque os filhos das colaboradoras certamente não têm.” Ana Paula Lourenço Rosa, 30, professora

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“Minha chefe dizia que eu não poderia ficar grávida antes dela”

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“Tive uma gerente que quando todos me perguntavam se eu queria ter filhos, ela tomava a frente e respondia que eu não deveria engravidar primeiro que ela – era dois anos mais velha do que eu. Acabou que ela engravidou quatro meses antes. Mas, depois do primeiro filho, vieram as perguntas sobre o segundo e, novamente, ela respondia por mim. Dizia que eu não precisava ter o segundo, já que meu filho tinha contato com crianças na escola e uma priminha com idade bem próxima. Mas eu engravidei novamente.

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Ao contar para ela, ela me pediu que não contasse para ninguém na empresa, pois queria preparar o terreno, disse que essa notícia não seria bem-vista pelos meus colegas de trabalho. Passou o tempo e ela não me deixava contar, até que em determinado momento eu falei por conta própria, porque minha barriga começou a aparecer.

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Saí de licença e durante meu afastamento, ela me ligou e fez terrorismo, disse que as coisas não estavam bem na empresa, que a situação não era favorável. Eu pedi apenas que, se fosse me mandar embora, me avisasse antes de eu voltar, para não gastar com escolinha e para não desmamar a bebê. Não avisou. Fui mandada embora no dia que voltei da licença.

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Agora estou em busca de recolocação, mas a minha área exige disponibilidade para viagens e constantemente escuto em entrevistas que meu CV é muito bom, pena que tenho filhos.” Elena, 35, supervisora de exportação

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“O gerente disse que precisava de pessoas fortes para transportar as máquinas no braço”

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“Quando comecei a procurar estágio em TI, na minha primeira participação em um processo seletivo eu era a única mulher entre 25 homens. Fui aprovada nas quatro fases do processo que aconteceram todas no mesmo dia. Cheguei à última etapa junto com outros dois rapazes. Eu teria que realizar uma série de atividades lógicas e também manuais, foi a fase mais longa. Fui a primeira a terminar e me certifiquei de que tudo que eu havia feito estava correto.

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Quando os outros dois participantes acabaram, o gerente informou que já faria a devolutiva ali mesmo: os dois rapazes foram aprovados, e eu não. Eu não conseguia entender o motivo, já que tinha feito tudo certo e terminei antes deles. O gerente, então, disse que eu tinha todos os requisitos para atender a vaga, mas que precisava de pessoas fortes para transportar as máquinas no braço dentro da empresa e, por isso, escolheu os meninos.

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Naquela hora eu já sabia que não tinha conseguido a vaga por ser mulher, já que durante todas as etapas carregamos máquinas de um lado pra outro.

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Enquanto ele falava, eu me questionava o motivo de ele me deixar ir até a fase final, se ele já sabia que não me contrataria por supostamente não ter a força braçal necessária. Então eu reagi e disse: ‘O senhor sabia que existem carrinhos onde podemos colocar as máquinas, e aí basta empurrar?’. Lembro da expressão de susto dele, que não esperava essa minha resposta. Ele tentou justificar, mas nada do que ele falou pode me deixar menos triste, desapontada e injustiçada.” Bianca Gomes, 24, analista de sistemas

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“Fui demitida porque clientes reclamaram de eu não sorrir o suficiente”

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“Eu sofri discriminação o tempo todo em que trabalhei como garçonete em um restaurante, mas eu precisava de dinheiro e permanecia. Eu recebia menos que meu colega de trabalho. Fazíamos a mesma coisa e ele ganhava R$ 70 por dia, enquanto eu recebia R$ 40. A louça era minha responsabilidade, por isso, eu sempre ficava até depois do meu horário, enquanto ele saía na hora, já que não havia mais tarefas para ele.

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Mas o pior ainda estava por vir. Um dia, uma mesa estava fazendo uma confraternização no restaurante. Eu servia com educação, sorria quase o tempo todo. Até que começaram as piadas de mau gosto, comentários sexuais e cantadas. Parei de sorrir, mas continuei servindo com educação.

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Ao fim da noite, meu patrão me chamou a atenção, disse que os clientes reclamaram por eu não sorrir o suficiente ou não ser receptiva o suficiente. Eu disse que estava fazendo o meu trabalho, servindo as mesas. No outro dia fui demitida.” Raquel Larissa, 19, autônoma

 

 

 

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