Saiu no site DIÁRIO DE NOTÍCIAS – PORTUGAL
Veja publicação original:
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Há duas mulheres para sete homens nos conselhos de administração das empresas portuguesas cotadas na bolsa. O fosso é maior se estivermos a falar de cargos executivos. As primeiras conclusões de um estudo sobre paridade em Portugal.
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Os conselhos de administração das empresas portuguesas continuam a ser masculinos, conclui o estudo do projeto Women on Boards Portugal, cujos primeiros resultados foram apresentados esta quarta-feira. Quantifica os cargos de chefia nas empresas cotadas na bolsa e, tanto os dados de 2018, como os de 2019 (10 de outubro), indicam que há duas mulheres (22%) para sete homens (78%), membros efetivos. A percentagem de chefias femininas é ligeiramente maior nos órgãos de fiscalização (ver quadros).
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Os dados não são famosos no que diz respeito à paridade nas chefias das empresas portuguesas, no entanto cumprem a lei nº 62/2017, que exige pelo menos 20 % de cada um dos sexos em órgãos de administração e de fiscalização. Mas, comparativamente à União Europeia, estamos ainda longe da média, que é de 28 %.
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Se analisarmos as maiores empresas cotadas em bolsa (PSI-20), a realidade portuguesa aproxima-se mais da europeia, com 24,8 % de mulheres nos órgãos de gestão, menos três pontos percentuais do que a média europeia (27,8 %)
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Trata-se do “primeiro estudo exaustivo sobre mulheres e, órgãos de gestão de empresas com sede em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e que irá decorrer até abril de 2021, ano em que será avaliada a implementação da nova lei. A socióloga Sara Falcão Casaca coordena a equipa científica, que inclui Maria João Guedes, Susana Marques e Nuno Paço, todos membros do Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações (ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão).
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O principal objetivo é avaliar a aplicação da nova lei para a paridade de género em órgãos de gestão, não só em termos quantitativos como qualitativos.
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A equipa chamou ao levantamento estatístico WoBómetro. A segunda fase do trabalho é avaliar a realidade dos números. “O equilíbrio numérico vai gerar mais igualdade entre os sexos?” “Homens e mulheres estão a ocupar cargos com desafios semelhantes?” “As mulheres que estão em órgãos de gestão têm igual voz que os homens, participam nas decisões?” Questões colocadas por Sara Falcão Casaca.
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Paridade significa igual poder?
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Serão respondidas nos inquéritos e entrevistas individuais, uma análise qualitativa que está dependente da disponibilidade das empresas que, até agora, se tem revelado pouca. Os dados hoje apresentados resultam da consulta de relatórios e contas; relatórios de governo da sociedade e atas das assembleia gerais, documentos das empresas cotadas em bolsa e que é obrigatório disponibilizarem.
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Mas há uma primeira conclusão e que é a confirmação de estudos anteriores: “não é a meritocracia” que faz com que tantos homens estejam no poder. A paridade está mais próximo de ser alcançada nos países que há mais tempo legislaram sobre esta matéria, ou seja, na Islândia (46 % de mulheres em órgãos de gestão), França (44 %) e Noruega (41%).
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Em Portugal, a lei entrou em vigor em 2018, “sendo notório o incremento que implicou.” Também se notou um salto de 2014 para 2015, o que Sara Casaca justifica com as medidas implementadas por Teresa Morais, que foi secretária de Estado e ministra com a tutela da Igualdade no Governo do PSD (ver quadros).
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A segunda conclusão tem a ver com o facto do equilíbrio numérico em órgãos de gestão não corresponder a equilíbrio de poderes. Quem toma as decisões? E há um valor que dá algumas pistas: a diferença entre homens e mulheres em órgãos executivos. No caso de Portugal, a percentagem de mulheres que ocupa funções decisivas é de 14,6 %. metade da representação nos órgãos não executivos (ver gráficos). E, por exemplo, a França que tem uma média de 44 % de mulheres em órgãos de gestão, apenas 18 % destas estão em órgãos executivos.
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No grupo das 20 maiores empresas cotadas em bolsa (PSI-20), que na realidade eram 18 em 2018 e 17 em 2019 (segundo os dados fornecidos pela CMVM), há melhorias neste último ano. Têm 25 % de mulheres em órgãos de administração, 30 % na fiscalização e 11 % na execução (33 % em órgãos não executivos). Há uma mulher a presidir a uma Comissão Executiva, Cláudia Azevedo, do grupo Sonae.
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As melhorias não se verificaram nas empresas do topo em termos de paridade, houve até um decréscimo na representação feminina. A 10 de outubro de 2019 (data do levantamento dos dados), está em primeiro lugar a Inapa, Investimentos (43 % de mulheres), em segundo, a Corticeira Amorim (33 %) e, em terceiro, a Jerónimo Martins e a Sonae, ambas com 30 %.
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O estudo também avalia o setor empresarial do Estado e o setor empresarial da Administração Local, trabalho que se revela mais difícil dada a indisponibilidade de documentação.
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No setor empresarial do Estado, há duas mulheres para quatro homens em órgãos de administração e uma mulher para três homens na fiscalização, esta última proporção idêntica ao privado. Há 42 % de mulheres em cargos executivos, existindo até empresas com muito mais mulheres do que homens nas chefias, o que se verifica essencialmente na área da saúde.
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A equipa criou o Índice WoB Global Médio, para medir e representação equilibrada entre homens e mulheres nos órgãos de administração. Varia entre 0 (órgãos de gestão apenas de mulheres ou de homens) e 1 (50 % de homens e 50 % de mulheres). O valor para as empresas cotadas na bolsa (Euronext Lisbon) é de 0,42 em 2019 e 0.36, em 2018, o que significa que estão longe da paridade. O índice WoB para o setor empresarial do Estado é de 0,64 (2019).
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