A eleição da drag queen ocorreu na Unidade Escolar José Amável, em Matias Olímpio, cidade a 237 km de Teresina. O estudante Anderson da Silva, 17 anos, contou ao G1 que decidiu participar do concurso como mulher e se transformou em Agatha Lorrana. Assim, levou o primeiro lugar.

Dias depois, outra escola da cidade, a Domingos Alves Pereira, fez o mesmo concurso. Foi quando a secretária municipal de educação, Sunamita Pinheiro, fez uma postagem em seu Facebook parabenizando a escola e os jurados, “por saberem escolher verdadeiramente a MULHER para representar a classe FEMININA. Uma escola consciente e apta em suas atitudes”.

Para muitas pessoas, a declaração da gestora critica o processo feito na escola José Amável e discrimina Anderson.

O adolescente lamentou a postura de quem, para ele, deveria ser exemplo para os estudantes do município. “Por conta da repercussão do comentário da professora Sunamita, a diretora se viu obrigada a cancelar o concurso. Ela foi em cada sala de aula informar sua decisão. Me senti constrangido, porque todos sabiam que eu tinha sido eleita a mulher mais bela da escola e agora perdia meu posto – só o posto mesmo, porque a faixa que recebi eu não entrego”, afirmou Anderson.

De acordo com assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação e com a diretora da Unidade Escolar José Amável, Rosa Rodrigues, o concurso foi cancelado para garantir a integridade de Anderson.

“Nós ficamos temendo pela própria segurança dele e resolvemos cancelar. Ainda vamos conversar com a família e saber como proceder de agora em diante. Não temos nada a contra a secretária, cada um tem sua opinião, mas aqui não temos preconceito. Ele me pediu, e eu deixei na hora, nunca iria discriminar. Mas, infelizmente, a gente sabe que muitos não aceitam, então cancelamos porque a repercussão foi enorme na cidade e ficamos com receio”, declarou.

Segundo a escola, o jovem deverá entregar a faixa de aluna mais bela para receber uma de “miss gay”. Ele terá direito a participar do desfile de Sete de Setembro, que é garantido a todos os vencedores de concursos de beleza nas escolas da cidade.

Anderson contou que é gay e que já recebeu olhares diferentes por isso, mas “nada se compara com a postura dela [da secretária]”. “Desde os 12 anos que descobri minha verdadeira identidade. […] A minha família me aceita, tanto que minha mãe me disse que, se eu desejar denunciar a Sunamita, terei total apoio. Só que, por enquanto, não quero levar isso adiante.”

“Expresso minha indignação e peço respeito”, disse o adolescente.

Maria de Lourdes Alves, mãe de Anderson, também lamentou a postura da secretária e disse que ficou triste com a repercussão do caso. “Meu filho não teve problemas quando decidiu se assumir para a família. Dei apoio e gostaria que as pessoas respeitassem sua decisão”, comentou a mãe.

Ao G1, a secretária Sunamita Pinheiro se defendeu e disse que a postagem não foi preconceituosa. “Estava apenas parabenizando uma escola municipal. No meu mural eu escrevo o que eu desejar. Eu não me manifestei [de forma] preconceituosa contra ninguém, não me manifestei mencionando nome de ninguém. Quem me conhece sabe das minhas condutas. Apesar de ser evangélica, tenho muitos amigos homossexuais de quase 20 anos. Eu parabenizei a escola por ter eleito uma mulher para a representar a classe feminina”, afirmou.

Ela disse ainda que o ideal seria a escola criar a categoria do “gay mais bonito”, já que o rapaz pediu para participar do concurso vestido de mulher. “O concurso ao qual eu me referi é o concurso municipal e não o estadual. Se, de repente, tivesse outra categoria para gays era o ideal. A escola deve ser aberta. Eu nego duplicidade, eu fui muito clara, objetiva em minha postagem. Não acho que deixei espaço para que houvesse uma duplicidade de sentido. Quando usei BELO e BELA era porque as categorias eram masculino e feminino”, afirmou a secretária.

Sunamita disse ainda que fez uma segunda publicação para explicar o que havia publicado. Neste texto, disponível apenas para seus amigos, ela diz que não aceita que um homem seja eleito para representar a “classe feminina”.

“Não ofendi ninguém, mas fui e sou contra”, disse a secretária.