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Veja publicação original: Documentário ‘Chega de Fiu Fiu’ é muito mais do que um retrato do assédio nas ruas
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Por Andréa Martinelli
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É uma produção que expõe o machismo e o racismo que permeia a vida das mulheres no Brasil.
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Andar de ônibus. Circular a pé pelas ruas de uma cidade. Andar de bicicleta. Voltar da universidade de transporte público. Pegar um táxi. Subir escadas. Descer escadas. Entrar em um elevador. Nenhuma dessas situações parecem estar associadas à violência, mas sim, à banalidade do cotidiano. Parece irreal, mas esse é o desafio de grande parte das mulheres que vivem no Brasil: sair de casa. Se você é mulher, a violência caminha ao seu lado e mostra que o espaço público não é feito para você.
É com a pergunta “as cidades foram feitas para as mulheres?” que o longa-metragem Chega de Fiu Fiu, dirigido por Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão, com estreia prevista para esta terça-feira (15), em São Paulo, coloca luz sob o espectro do assédio sexual nas ruas das cidades brasileiras. O filme amplia a discussão ao expor a intersecção entre racismo, machismo, sexismo e transfobia que cada uma das personagens vive diariamente.
“Assédio era uma palavra não dita.Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga“
“A gente viu que está falando sobre uma exclusão da mulher na cidade e, a partir disso, da própria sociedade”, conta Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga e idealizadora da pesquisa Chega de Fiu Fiu que inspirou o documentário, em entrevista ao HuffPost Brasil. Em 2013, a pesquisa apontou pela primeira vez que cerca de 81% das mulheres já deixaram de sair na rua por medo de assédio.
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Produzido em parceria com a Brodagem Filmes, o filme nasceu da pesquisa realizada pelo Think Olga e contou com um crowdfunding para coletar recursos de forma independente, em 2015. Na época, o projeto alcançou recorde de arrecadação na plataforma de financiamento coletivo Catarse, atingindo a meta inicial em menos de 24 horas.
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“Assédio era uma palavra não dita. Houve a necessidade de ampliar essa conversa e, com o tempo, ela foi evoluindo e amadurecendo. Não poderíamos estagnar nessa ideia do assédio como algo micro, na cantada de rua. É necessário enxergar o papel que ele desempenha dentro da cultura do estupro e como alimenta a roda hostil do machismo”, completa.
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Assédio vivenciado nas ruas
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Em 2016, pesquisa da ActionAid comprovou que 86% das brasileiras já sofreram violência sexual ou assédio em espaços públicos. Delas, 77% ouviram assobios, 57% comentários de cunho sexual, 39% xingamentos, 50% foram seguidas, 44% tiveram seus corpos tocados, 37% tiveram homens que se exibiram para elas e 8% foram estupradas.
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Muitos anos se passaram desde que as mulheres começaram a circular nos espaços públicos, mas o respeito nesse território ainda lhes é negado. Pesquisa do Ipea de 2014 mostrou que 26% dos brasileiros concordam com a afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
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Estudo do Fórum de Segurança Pública de 2016 mostra ainda que 1 em cada 3 pessoas acreditam que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”. Uma violência baseada na ideia de que quando uma mulher não se comporta, ela deve ser punida.
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O roteiro do longa-metragem é baseado na fala de 3 mulheres de diferentes regiões do País: Rosa Luz, de Brasília (DF); Raquel Carvalho, de Salvador (BA); e Teresa Chaves, de São Paulo (SP). Para Juliana de Faria, as nuances que contemplam a escolha das três personagens dão o tom do documentário. “A gente está falando de gordofobia, de transfobia. A gente vê que cada uma tem questões diferentes e que independente dos maiores privilégios que uma tem e a outra não, nenhuma delas é aceita pela cidade”.
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Além dos depoimentos, a produção constrói uma narrativa composta de outros 2 momentos: o uso de óculos com uma microcâmera escondida e o diálogo com especialistas sobre assédio, identidades, sexualidade, participação e mobilização social.
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O documentário também explora o lado dos homens ao mostrar uma roda de conversa sobre masculinidades. “É a grande bandeira do ‘homens, conversem uns com os outros’, é assim que vocês podem nos ajudar. E tirem um pouco das nossas costas a obrigação de ensinar sempre”, afirma Juliana.
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“Quando a gente traz todos esses componentes, a gente está falando da origem dessa violência. A gente conseguiu conectar o assédio com as outras violências de gênero, que são inseparáveis. E com esses outros debates a gente vai tentando aprofundar a percepção das causas do assédio e do que o assédio causa na vida das mulheres, principalmente”, afirma a diretora Amanda Kamanchek.
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Uma prioridade para as diretoras foi explicar quais são os tipos de assédio e como a Lei enxerga este crime. “A ideia é fazer com que as mulheres entendam quais são os dispositivos legais. Porque se você chega hoje em uma delegacia e fala que sofreu assédio, na verdade, você tem pouco respaldo. É importante conhecer a Lei”, completa.
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“O filme serve para cutucar as pessoas. Ele não é só feito para explicar a realidade. Ele também é feito para cutucar o pensamento, refletir, questionar as verdades que estão postas”, aponta Fernanda Frazão, também diretora do filme que, ao lado de Amanda formou uma equipe majoritariamente feminina para trabalhar na produção. “Isso faz muita diferença, principalmente porque a gente acaba se fortalecendo.”
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“Entender que a gente não está sozinha, e que acontece com você não porque você é Andréa, e eu sou Juliana. Mas porque somos mulheres.Juliana de Faria, fundadora da Think Olga”
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Para além da legislação, as violências de gênero como o assédio deixam marcas invisíveis que não cabem no boletim de ocorrência e caem no espectro do silêncio. Segundo dados do anuário do Fórum Brasileira de Segurança Pública de 2016, em 2015, 45.460 casos de estupro foram registrados no Brasil, ou 22,2 casos a cada 100 mil habitantes. Mas esse número representa apenas 10% do total dos casos.
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E grande parte dessa subnotificação está aliada à solidão que as mulheres sofrem ao falar sobre a violência sofrida ou ao fazer uma denúncia. “Uma das coisas que eu mais senti quando eu sofri violência sexual, violência de gênero foi a solidão. Parece que acontecia comigo porque eu era a Juliana, porque eu estava usando aquela roupa, porque eu decidi fazer tal coisa, porque eu decidi sair aquela hora na rua”, conta Juliana de Faria que, em um TEDTalks, contou que, aos 12 anos, foi vítima de assédio sexual.
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Ela completa: “A gente também está lutando contra essa solidão da vítima. Entender que a gente não está sozinha, e que acontece com você não porque você é Andréa, eu sou Juliana, mas porque somos mulheres.”
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O objetivo das diretoras é que o filme seja veiculado em escolas e órgãos públicos e que seja visto como uma ferramenta não só de denúncia, mas de educação e combate à violência contra a mulher. Segundo Amanda e Fernanda, universidades brasileiras como USP e UFRJ já demonstraram interesse em exibir o documentário, assim como outras universidades fora do País.
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Para além do documentário, a ONG Think Olga realiza um trabalho de combate à violência por meio da informação e, em 2015, lançou em parceria com a Defensoria Pública de São Paulo, uma cartilha de orientação para as mulheres que sofrem assédio. Ela está disponível aqui.
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Datas e próximas exibições do ‘Chega de Fiu Fiu’
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São Paulo
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CineSala, 15 de maio, quinta-feira, às 21h
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Seguida de debate com as diretoras e personagens do filme, Think Olga e outras participantes surpresa.
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Ingressos esgotados. Classificação indicativa: livre.
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Sessão especial em São Paulo
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CineSesc, 23 de maio, quarta-feira, às 21h
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Seguida de debate com as diretoras do filme e Think Olga
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* Entrada gratuita | ingressos distribuídos 1h antes da sessão. Capacidade da sala: 273 lugares.
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Classificação indicativa: livre.
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Sessão especial em Brasília
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Cine Brasília, 27 de maio, domingo, às 11h
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Seguida de bate-papo com a diretora do filme Amanda Kamanchek, a artista visual e personagem do filme Rosa Luz. Além de Jaqueline Fernandes, Subsecretária de Cidadania e Diversidade Cultural e representante do Coturno de Vênus (Associação Lésbica Feminista de Brasília) e de Luana Ferreira, representante da AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras.
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* Entrada gratuita; ingressos distribuídos 1h antes da sessão
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EQS 106/107Classificação indicativa: livre.
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Sessão especial em Cachoeira (BA)
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Orla da Praia da Faceira – Cachoeira (BA), 20 de maio, domingo, às 19h30
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O filme fará parte do encerramento do Festival MAR – Mulher, Ativismo e Realização. Ao final da exibição, haverá bate-papo aberto com as diretoras do filme Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão e também com Raquel Carvalho, estudante de enfermagem e personagem do filme. A Mostra MULHERES ITINERANTES, do Festival MAR vai exibir longas metragens em três comunidades Cachoeiranas: Santiago do Iguape, Tabuleiro da Vitória e Praia da Faceira. São comunidades compostas por marisqueiras, quilombolas e trabalhadoras rurais.
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* Entrada aberta e gratuita
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Orla da Praia da Faceira.
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Algumas sessões previstas mediante quórum de 60% do público:
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Sessão especial em Porto Alegre
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• 22/5, 19h – Espaço Itaú POA: https://kinorama.co/sessao/chega-de-fiu-fiu-ei-poa01-rs/
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Sessão especial no Rio de Janeiro
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• 22/5, 19h – Espaço Itaú Botafogo/Rio: https://kinorama.co/sessao/chega-de-fiu-fiu-ei-rj01-rj/
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Sessão especial em Salvador
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• 22/5, 19h – Espaço Itaú Salvador: https://kinorama.co/sessao/chega-de-fiu-fiu-ei-sal01-ba/
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Sessão especial em Belo Horizonte
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• 22/5, 19h – Usiminas Belas Artes Cinema: https://kinorama.co/sessao/chega-de-fiu-fiu-ba-bh01-mg/
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Você pode ser um(a) exibidor(a) do filme
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A distribuição do filme, realizada pela Taturana, tem como propósito contribuir com a transformação das relações de gênero e a garantia do direito das mulheres à cidade. O filme já tem estreia garantida em São Paulo (SP), Brasília (DF) e Cachoeira (BA), e o circuito será ampliado a partir da participação de coletivos, universidades, escolas e organizações sociais. O filme está disponível, gratuitamente, para qualquer pessoa ou organização que queira levá-lo para seu espaço em uma exibição coletiva.
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