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Dinheiro é com elas: quem são as mulheres que ensinam a lidar com finanças

Saiu no site GAZETA DO POVO

 

Veja publicação no site original:  Dinheiro é com elas: quem são as mulheres que ensinam a lidar com finanças

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Por Isadora Rupp”

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Esqueça vídeos de looks da semana, tutoriais de maquiagem ou as últimas compras feitas na fast fashion: o conteúdo direcionado ao público feminino no YouTube e nas redes sociais se diversificou, e tem um novo tema que é a bola da vez: as finanças pessoais. São influenciadoras que cansaram de ver se propagar o mito da mulher “gastona” ou de que não são capazes de lidar com o próprio dinheiro.

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Fora da internet, os dados também são animadores e mostram que as mulheres estão mais atentas ao tema. Segundo dados da B3, a Bolsa de Valores brasileira, o número de mulheres investidoras triplicou em cinco anos. Em 2014, eram 137 mil; em janeiro de 2020, esse número foi de 431 mil, o que correspondeu a 23% do total de investidores pessoa física no mês passado.

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Fundadora do Me Poupe!, maior canal de finanças do YouTube no mundo (são 4.5 milhões de inscritos e alcance mensal de 14 milhões de pessoas), a jornalista Nathalia Arcuri iniciou o projeto como um desejo pessoal de transformar a vida de mulheres. Em 2014, quando ainda trabalhava como repórter de tevê, fez uma reportagem sobre violência doméstica e se deu conta sobre o quanto a dependência financeira impede que elas deixem os relacionamentos abusivos.

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“Naquela época descobri que a cada 15 segundos uma mulher sofria violência doméstica no Brasil [hoje esse número está ainda mais preocupante, são 7 segundos], e 70% dessas mulheres continuavam com o agressor por serem dependentes financeiramente. Ali eu decidi que eu precisava ajudar todas as mulheres a serem livres, a terem independência para não ficarem presas em relacionamentos abusivos, a terem a vida que quiserem ter. Eu sabia o quanto isso era importante porque ter controle sobre o meu dinheiro possibilitou que eu fosse uma mulher livre. Não fazia sentido guardar aqueles ‘segredos’ comigo” conta Nath, como é conhecida pelos seguidores.

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Depois do clique de que deveria se dedicar 100% ao projeto (ela pediu demissão da emissora e iniciou o canal sozinha, com uma câmera de segunda mão, um tripé e uma colher de pau que a ajudava a fazer o foco na câmera, apelidada de Margareth), o Me Poupe! só cresceu e alcançou outras plataformas. Além do canal, o projeto virou livro homônimo (lançado em 2018 e constantemente nas listas de obras mais vendidas no Brasil), podcast, cursos e reality show na tevê aberta – no ano passado a jornalista comandou, junto com outros quatro especialistas o programa na Band, que resolveu a vida financeira de pessoas de diferentes perfis e idades. Nathalia também apresenta um programa ao vivo na Rádio Rock 89 às segundas-feiras. O canal também foi o único do segmento a ser convidado para participar do último Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

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O fato de ser uma mulher à frente do conteúdo acaba atraindo mais mulheres, acredita Nath. “Eu amo quando uma adolescente me para na rua e diz que está investindo e que quer estudar finanças” conta ela, que uniu entretenimento e conhecimento técnico na linguagem do conteúdo. Os comentários em seus vídeos no YouTube são repletos de relatos de pessoas que saíram das dívidas, aprenderam a pedir desconto e a organizarem os seus orçamentos conforme os ensinamentos da jornalista, que orienta a separar 30% do que se ganha para investir. Não consegue, ganha muito pouco? A solução é encontrar alternativas para renda extra. As dicas, porém, não se centram apenas no ter, mas no propósito. “Quando falamos em dinheiro é muito além do ter, o dinheiro é só um meio para que nós possamos conquistar sonhos”, salienta.

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Dependência e agressão

Organizar a vida financeira não passa apenas por uma vida mais tranquila e planejada para o futuro, mas também livra mulheres de ciclos abusivos. Além do dado citado por Nathalia, de mulheres agredidas que continuam com o abusador por não ter uma fonte de renda própria, a falta de autonomia econômica dificulta também a denúncia, fala a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira em Curitiba, Sandra Praddo – o equipamento público de acolhimento às mulheres já atendeu mais de 48 mil pessoas desde 2016, quando iniciou as atividades na capital.

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“E quando ela vem denunciar, percebe e identifica o problema, ela pede medida protetiva mas não tem emprego, estudo, está com baixa autoestima, não consegue ir numa entrevista de trabalho e nem tem onde deixar os filhos. Toda essa falta de recursos faz com que ela volte ao agressor”. Essa falta de autonomia econômica, diz Sandra, foi ocasionada pelo agressor em sua grande maioria; os ciclos de abuso incluem violência psicológica que fazem com que a mulher saia do mercado de trabalho ou se sinta incapaz de trabalhar. “Ele coloca a mulher em uma redoma” fala a coordenadora.

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A Casa conta com um setor de autonomia econômica que faz uma busca ativa de vagas de emprego para auxiliar as vítimas no retorno ao mercado de trabalho. Os ganhos, destaca Sandra, vão além do econômico. “Por mais difícil que seja a permanência dessa mulher no mercado por causa das sequelas do ciclo de violência, trabalhar permite que ela veja novas realidades e que se perceba em uma situação adversa pelo convívio com as outras pessoas” frisa Sandra. Diariamente, Nathalia Arcuri e a equipe do Me Poupe! recebem diversos relatos comoventes. “Um dos que mais me marcou foi uma moça que largou a prostituição graças ao conteúdo que a gente produz. São centenas de histórias incríveis todos os dias. Isso dá um gás gigante em toda a minha equipe.”

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O mito da “gastona”

A pecha de não saber controlar o orçamento e gastar muito mais do que se pode – e se deve – são outros estigmas carregadas pelas mulheres. Os motivos são diversos, mas o principal, acredita a jornalista Carol Sandler, fundadora do canal Finanças Femininas, é que indústrias bilionárias como da moda e beleza são completamente centradas na mulher, incentivando seu consumo.

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“Outra questão é que a mulher não compra só para ela, mas é executora do orçamento familiar. Compra para os filhos, o marido” diz Carol, também autora do livro “Detox de Compras”, em que ensina a se livrar dos impulsos consumistas e perceber armadilhas como a chamada pink tax (ou “taxa rosa”, que são produtos feitos direcionados às mulheres e se tornam mais caros – como os cremes para cada parte do rosto, por exemplo) e integrante da Ella’s Investimentos, assessoria voltada para mulheres.

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Carol Sandler, autora de Detox de ComprasAutora de “Detox de Compras”, Carol Sandler criou um método didático para auxiliar mulheres na organização do orçamento.| Divulgação

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Carol, que foi repórter com cobertura no mercado financeiro antes de iniciar o seu canal próprio, também pontua alguns fatores que pesam nesse comportamento: as mulheres começaram a ganhar o próprio dinheiro há 50, 60 anos, o que é ontem em termos históricos. “No pós guerra, nos Estados Unidos, teve um desenvolvimento grande da indústria dos eletrodomésticos, centrada no papel consumidor da mulher”, relembra a jornalista. Fora isso, o papel econômico da mulher se restringia ao de consumidora, com o não trabalhar fora mais a responsabilidade de gerenciar a casa sozinha. “As compras no supermercado, sair para comprar as roupas das crianças deveria ser o momento mais divertido do dia.”

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No Finanças Femininas (que começou como blog em 2015), ela ensina métodos como o 50/30/20 (divisão da renda dividida respectivamente em percentuais de gastos essenciais, supérfluos e investimentos), o de colocar os impulsos de consumo em um papel e refletir antes de decidir pela compra, além de negociação de salário. “Há muitos estudos que mostram que mulheres são mal vistas tanto por chefes homens quanto por chefes mulheres quando são muito assertivas. Nesses casos, é importante ela falar do benefício que vai gerar ao todo na equipe se a sua remuneração melhora”, ensina Carol, que em breve lançará um livro infantil sobre finanças, voltada a pais e filhos.

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Consequências da desorganização

Não enxergar o dinheiro de maneira mais pragmática, delegar o assunto a terceiros e não investir dinheiro para si mesmas ao longo da vida é uma “tragédia” na vida das mulheres, crava a executiva e consultora Denise Damiani. Precursora no tema finanças femininas (já são 15 anos de pesquisas sobre o tema), sua principal teoria, baseada em mais de mil entrevistas feitas com mulheres de diferentes perfis, é que existe uma crença de que ter dinheiro e ser bem-sucedida na profissão significa que elas negligenciam a vida pessoal. “Elas privilegiam a vida privada porque foram ensinadas assim”. No entanto, ela vê – e festeja – os avanços nos últimos anos. “Nunca imaginei que ia chegar a esse ponto, de ver tantas mulheres com vontade de falar e ensinar sobre finanças.”

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Denise DamianiPesquisadora do tema finanças femininas há 15 anos, a executiva Denise Damiani iniciou fundo de investimento para mulheres.| Divulgação

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Segundo Denise, não há segredo: a chave para uma vida financeira saudável é ganhar mais, gastar menos e investir – a tríade é o título do seu livro (“Ganhar, Gastar, Investir: O livro do dinheiro para mulheres”, Editora Sextante). “As mulheres estão percebendo que dinheiro é poder e elas têm que ir atrás de ganhar mais, de empreender melhor a aprender a investir, que nem sempre é simples mas é necessário para tocar a vida”, fala ela, que também é fundadora do Saphira – Money Club, fundo de investimentos somente para mulheres, que garante boa rentabilidade mesmo para valores mais modestos. Ela também lança ainda em 2020 um novo livro, “Como não falir seu casamento”, pela Companhia das Letras.

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Conversas frente a frente

Saindo do meio virtual, a economista Ana Vitória Baraldi e a contadora Victoria Giroto iniciaram há pouco mais de um ano o projeto Invista Como Uma Garota. Nas rodas de conversas, realizadas em empresas, faculdades e também abertas ao público em eventos espontâneos feitos por elas em diferentes locais de São Paulo, elas tiram dúvidas sobre investimentos, dívidas e orçamentos.

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Victoria Giroto, do Invista Como Uma GarotaVictoria Giroto (ao centro): ideia do Invista Como Uma Garota foi promover um ambiente seguro e tranquilo para as mulheres trazerem suas dúvidas sobre finanças.| Fábio Moura/Divulgação

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Ambas trabalharam no mercado financeiro e a afinidade com o tema fez nascer o Invista, que realiza em média uma roda por semana. “A gente promove ambientes seguros e tranquilos para que as mulheres coloquem suas dúvidas, dores e conselhos”, explica Ana. Além de ajudar na quebra dos estereótipos de que quem lida mais com dinheiro são os homens, a dupla quer propagar o diálogo. “A roda é uma semente para as conversas continuarem fora daqui” frisa Victoria.

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Conheça outras mulheres que são referência em finanças pessoais nas redes:

Finanças com a Nath: A jovem estudante de administração da baixada fluminense (RJ) Nathália Rodrigues resolveu compartilhar seus conhecimentos do estágio e faculdade sobre dinheiro e orçamento direcionado para pessoas de baixa renda no canal Finanças com a Nath (72 mil inscritos). Vídeos sobre saque do FGTS, como se organizar com pouco dinheiro e maneiras de conseguir renda extra são alguns dos temas. No Twitter, Nathália é um fenômeno, e os seguidores “confessam” seus erros. Por lá, ela ensina que atitudes simples como deixar de comprar aquela “besteirinha” no metrô pode ajudar a fechar no azul no fim do mês, e ainda conseguir poupar.

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Maiara Xavier: Em canal no YouTube (260 mil inscritos) e no Instagram (49 mil seguidores) a educadora financeira une minimalismo e finanças e mostra como ter uma vida mais simples ajuda no caminho para conquistar a independência financeira. Ela também foca o conteúdo em produtividade, propõe desafios de desapego, metas e atividades financeiras (como cancelar aquele cartão de crédito que cobra anuidade). Também dá dicas simples para economizar e ensina passos para negociar dívidas. Também é autora do livro “A Rica Simplicidade”.

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Riqueza em Dias: De ex-panicat (integrante do extinto Pânico na Band) a expert em investimentos: a agora educadora financeira Carol Dias focou o conteúdo do canal em explicar sobre ações, dividendos, segmentos interessantes para investir e passo a passo para começar a investir em produtos como o Tesouro Direto (de perfil mais conservador) até ações (de risco alto).

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