Saiu no site UNIVERSA:
Veja publicação original: De quem é a culpa do aumento no número de estupros?
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Por Lia Block
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Muita gente insiste na ideia de que não existe a “cultura do estupro”. O principal argumento dessa turma é que a expressão é um delírio feminista. Os críticos afirmam que é incorreta a lógica de apontar outras atitudes, que não o estupro em si, como possíveis influenciadoras de estupros. Mesmo que esses fatos denigram, rebaixem e desrespeitem as mulheres.
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Será?
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Pois este é um bom momento para refletirmos sobre isso. Acabaram de sair os dados do Atlas da Violência de 2018 (Ipea) e nele nos deparamos com a informação de que as notificações de estupro praticamente dobraram em cinco anos. Claro que isso tem a ver com o aumento das notificações, mas assusta também saber que ainda é um dado muito abaixo do que realmente acontece. Assusta também o fato de que 51% das vítimas terem até 13 anos e 17%, entre 14 e 17.
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Estamos falando de um comportamento endêmico e que ataca principalmente nossas crianças. E, pior, se os pesquisadores estiverem certos e este dado corresponder a apenas 10% do total de casos, estamos falando de uma tendência (na sua pior forma) e, por que não, de uma cultura.
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Quando os pesquisadores falam em 300 mil estupros por ano (por baixo), estamos lidando com um espectro de mais de 800 estupros por dia. E um dado como esse não pode ser atribuído ao comportamento de alguns deturpados. É muito mais do que isso.
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Diante dos dados, precisamos lidar com o fato de que vivemos em uma sociedade que favorece este comportamento. Que não pune, que não mostra o quão grave isso é e, muito provavelmente, que lida com isso como se fosse algo normal. Mais uma vez: cultura.
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E o que é lidar com isso como se fosse algo normal?
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É cantar coisas que normalizem estes comportamentos (“Mexeu com o R7 vai voltar com a xota ardendo” e afins). É um juiz (e toda a população) questionar a vítima sobre a roupa que ela estava usando quando foi estuprada. É crianças acharem bacaninha no jogo verdade ou desafio o tal desafio ser sarrar as meninas durante o recreio. É Youtubers (maioria de pequeno porte) exibirem essas sarradas livremente em seus canais e receberem vários likes.
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Precisamos encarar o fato de que o estupro é uma doença que se alastra e, queiram alguns ou não, ele está imerso numa cultura que minimiza pequenos atos de violência e com isso acaba por normalizar o “inormalizavel”.
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Cultura do estupro é tudo aquilo que (mesmo sem querer) acaba protegendo este tipo de violência. Protegendo no sentido de camuflar, de amortizar. E sim, você pode nunca ter estuprado ninguém e estar difundindo (ou protegendo) estes atos.
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Este índice de estupro é um problema nosso enquanto sociedade. Lidemos com isso antes de apontar o dedo ou dizer de quem é a culpa. A culpa é nossa.
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