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Veja publicação original: De escravas sexuais a perseguidas: as mulheres que buscam asilo na Alemanha
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A nigeriana Mercy pediu asilo na Alemanha depois de ser traficada para a Líbia e obrigada a trabalhar como prostituta. A iraniana Maryam teve que fugir de seu país por perseguição política. A egípcia Nubia teve que sair por causa de outro tipo de perseguição, a contra gays. Uma foto com a sua namorada foi o suficiente para que ela fosse presa. A turca Zeynep, professora renomada de direito, perdeu o trabalho e a cidadania depois que assinou um manifesto contra o governo na Internet.
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Em comum, todas essas mulheres, e outras que ocupam as páginas do livro “We Exist, We Are Here” (Nós existimos, nós estamos aqui), lançado pelo grupo Internacional Women Space, em Berlim, têm o fato de viverem como refugiadas-exiladas na Alemanha.
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A Internacional Women Space é uma organização feminista que atua com mulheres refugiadas desde 2012, em Berlim. “Nesse livro, queremos falar com a nossa própria voz, porque sempre falam sobre a gente, mulheres imigrantes e refugiadas, mas raramente nos deixam falar”, diz a jornalista Denise Garcia Bergt, brasileira e uma das fundadoras do grupo.
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Denise é conhecida no Brasil pelo seu filme “Sou Feia Mas Tô na Moda”, sobre as mulheres no funk. Na Alemanha, trabalha com refugiados desde 2012, depois de dirigir o documentário “Direito de Ficar”, que contava a realidade dos “centros de chegada” de refugiados na Alemanha.
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“Quando se fala em refugiados, as pessoas veem uma massa, ‘os refugiados’, como se todos fossem a mesma coisa, no caso, sírios e homens, o que não é a verdade”, explica Denise.
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“Por ser um país rico, estável, relativamente seguro, a Alemanha atrai pessoas de todo o mundo”, lembra. No caso das mulheres, as razões podem ser, além de guerras, fugir do abuso, de uma situação de escrava sexual, da perseguição por ser lésbica, por ter “se separado” em um país onde isso é proibido, só para citar alguns motivos.
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“Fizemos questão de pegar mulheres de diferentes países e classes sociais para mostrar que o panorama é diverso”, explica Denise. Como diz uma das mulheres que presta depoimento no livro: “Ei, você pode estar em uma situação parecida um dia”.
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Quem fala essa verdade dolorida é a iraniana Maryan. Criada em uma família de classe média, ela fugiu “por não ter nenhuma opção na sociedade”. “Eu não tive escolha, a única opção era sair. Especialmente como mulher, meu destino no Irã era devastador. Eu não tinha nenhuma liberdade, nenhum direito. A única coisa que podia me trazer certa independência era a universidade, mas, depois de ser expulsa, perdi essa chance também”.
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Maryam era estudante e foi expulsa por causa de suas atividades políticas. Em sua jornada, passou pelo Iraque, Turquia e Grécia. Ao chegar na Alemanha, teve a seguinte recepção: “Nós chegamos em Munique. Estava frio, chovendo e eu só tinha um short e uma camiseta. A maioria dos passageiros do trem eram imigrantes. A polícia prendeu todos nós, nos deu cobertores e ficamos sentados na escada da estação central de Munique, em fila, enquanto as pessoas passavam e nos olhavam como se estivessem em um museu de cera.”
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Depois, ela foi transferida para um estado de futebol lotado de refugiados. De lá, mandada para outro campo. “Lotado, com muitas brigas, morando em barracas”. Mesmo assim, a história tem final feliz. Ela conseguiu um visto de residência em Berlim.
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Deportação é morte
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O mesmo não acontece com todas. Doris, integrante do Women Space, de Camarões, já sofreu duas tentativas de deportação. Ela vive em Berlim, enquanto advogados trabalham no seu caso, com medo de que isso volte a acontecer. Ela narra no livro o sentimento de ser quase deportada: “É como morrer. Eles me algemaram as mãos e os pés e me levaram para um lugar onde fiquei acorrentada. Eles riam de mim enquanto eu chorava, falavam na língua deles: ‘Acabou sua temporada aqui, você está indo para Camarões agora’. O que eu posso fazer? Se estou na Europa agora é porque eu tenho um problema no meu país. E agora eles querem me mandar de novo para lá? Eu serei morta lá. O que eu tenho que fazer? Me matar?”
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Refugiados não são tão bem-vindos assim
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Depois da política de refugiados, adotada por Angela Merkel entre 2015 e 2016, quando o país recebeu mais de um milhão de refugiados sírios, o mundo ficou com uma visão de que, na Alemanha, todos os refugiados são bem-vindos. Não é bem assim.
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“Aquilo ali foi uma janelinha que foi aberta. Depois fechou. Claro que quem consegue chegar ainda tem chance de pedir asilo. Mas a chance de conseguir é minúscula. Asilo, tirando o caso dos sírios, é 1% das pessoas que consegue. As pessoas dão outros jeitos de ficar, como casar, por exemplo. Cada pessoa que aplica tem um processo, cada processo é diferente e pode levar anos. Para isso, é preciso ter acesso a um bom advogado, o que é difícil, e os advogados ativistas, que cuidam desses casos, estão sobrecarregados, porque são muitas pessoas”, conta Denise. Durante o processo de espera, é difícil para os aplicantes arrumar trabalho, já que eles não sabem a língua e muitas vezes é difícil ter acesso a uma escola de alemão.
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Deportações acontecem todos os dias. “Eles não avisam. O que muitos ativistas lutam hoje é para que eles tenham que avisar. Mas não é assim. Eles simplesmente chegam na casa da pessoa e a mandam embora. É uma eterna luta política. Existe uma lista de países considerados seguros e essa lista vai mudando”, conta Denise. Alguns políticos na Alemanha agora afirmam que o Afegenistão, por exemplo, é um lugar seguro, para onde as pessoas podem voltar em paz.
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Campo de refugiados
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Uma das historias mais chocantes do livro é a de Fatou, que veio de um país africano não divulgado para preservar sua identidade. Ela vive há dois anos em um campo onde afirma ser alvo de violência por parte dos guardas que, por exemplo, a revistam cada vez que ela sai e volta.
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Mas como assim, Campo? Na verdade, grande parte dos refugiados vão para asilos que podem ser, por exemplo, prédios públicos.” Cada estado tem suas leis, é normal que quando as pessoas cheguem elas sejam levadas para asilos. Elas não escolhem onde vão ficar. Vão, por exemplo, para escolas, enquanto iniciam seus processos de aplicação de visto de asilo”, explica Denise. Na maioria deles, as pessoas vivem lá, em condições difíceis, mas podem sair, resolver questões burocráticas, procurar ajuda.
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Na Bavária, ela conta, existem os “Ankar Centers”, um modelo onde a pessoa fica totalmente isolada da sociedade. “Eles têm escritórios de imigração, tudo no mesmo lugar. Você fica lá isolado, longe da sociedade, com saídas reguladas por guardas e condições terríveis”. Existem denúncias de tortura por parte do guardas, confirmadas por Fatou.
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“Eles [alemães] acham que eu vim aqui para conseguir dinheiro. Mas isso não é verdade. Se eu não tivesse problemas no meu país, por que eu estaria vivendo aqui nessas condições? Por que eu aguentaria pessoas que não gostam de me ver, que me batem, torturam?”
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Ela ainda vive no campo. E, segundo Denise, não tem prazo para sair de lá. Algumas tiveram mais sorte. Mas a dor (assim como a força) existe em todas as histórias.
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Com a palavra, a ativista de Direitos Humanos Dania que, depois de viver uma vida de classe média, em uma família de cabeça aberta e militar pelos direitos LGBTQ, veio parar em um asilo para refugiados em Berlim: “Em abrigos de refugiados, em geral, existem dois lados, os que acham que a Alemanha é maravilhosa, livre, e o outro, formado por homens que falam coisas machistas sobre as mulheres alemães, as insultam. No meio disso, existe muita falta de informação. Eu vim para cá achando que estava deixando para trás toda a sociedade conservadora síria. Mas fiquei chocada ao encontrar os mesmos problemas aqui. É difícil, mas eu não posso parar. Eu estou aqui, vou continuar lutando, não sou uma vítima, sou uma lutadora”, diz.
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Para encomendar ou ler o livro (em inglês e alemão): www.iwspace
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