Saiu no site UNIVERSA
Veja publicação original: De boia-fria a rainha dos bolos: ela fatura R$ 290 milhões na Sodiê Doces
.
Por Jacqueline Elise
.
Cleusa Maria da Silva, 53, não teve uma trajetória fácil. Nascida em Bandeirantes (PR), ela foi a terceira geração de boias-frias da família, trabalha desde os nove anos de idade e seu maior sonho era poder dar uma vida confortável para sua mãe. Começou a vender bolos por acaso e se tornou a fundadora da Sodiê Doces, loja de bolos que tem 312 franqueados pelo Brasil e que atingiu o faturamento anual de R$ 290 milhões em 2018.
.
Terceira filha de uma família com dez crianças, ela teve uma vida muito pobre no Paraná. “Não passei fome, mas vivíamos de macarrão, arroz e água”. Ainda criança foi trabalhar como empregada doméstica. Aos 12 anos, seu pai faleceu em um acidente de carro e ela teve de trabalhar cortando cana.
.
Com 16, Cleusa foi trabalhar como arrumadeira na casa dos tios em São Paulo e terminou o ensino fundamental. Tempos depois, se mudou para Salto (SP), e foi viver com os avós. Nessa época, trabalhou em uma fábrica de autofalantes. Lá, conheceu a mulher de seu patrão, que vendia bolos e queria alguém para ajudá-la.
.
“Aprendi a cozinhar ainda criança. A gente acordava de madrugada e preparava o almoço. Com os bolos, demorou muito mais para aprender. Meu primeiro bolo veio com 35 anos, quando fiz um favor para minha patroa”, conta. O favor: a chefe tinha quebrado a perna e precisava fazer o bolo de aniversário de sua sobrinha. Ela ensinou o passo a passo a Cleusa, que foi para o fogão .
.
“Era um bolo de 35 kg, mas ela me orientou e levou o bolo pronto à festa. Na semana seguinte, ela me disse: ‘Olha, você conseguiu fazer em um dia o que eu levei dez anos para aprender. Ninguém desconfiou que o bolo não era meu'”, lembra. “Fiquei bem surpresa. Ela insistiu que eu tinha talento para isso, mas eu falei que não tinha como seguir, pois eu não tinha dinheiro nem para comprar uma batedeira. Foi aí que ela disse ‘deixa isso comigo’. Dois dias depois, ela apareceu com uma caixa na mão: ela me deu uma batedeira e me disse para eu pagar quando eu pudesse. Prometeu que me indicaria os clientes para que eu pudesse vender”.
.
Cleusa começou a fazer sua fama, trabalhando na fábrica de dia e fazendo bolos à noite. Em 1997, ela pediu demissão da fábrica e, com o dinheiro da rescisão (cerca de R$ 5 mil), alugou um espaço de 20 m² para abrir sua loja. Foi ali que nasceu a Sensações Doces.
.
.
Luta no início e mudança de nome
.
Na Sensações, ela fazia os bolos na própria casa para levá-los à loja pela manhã, a pé. “Passei cinco anos trabalhando de domingo a domingo, sem folga. A primeira vez que eu não trabalhei no domingo eu não sabia o que fazer em casa”, ri. Cinco anos após o início da loja, comprou o primeiro carro parcelado, onde muitas vezes dormia no meio do dia para compensar o cansaço da noite anterior que havia passado em claro, cozinhando.
.
A loja começou a ficar conhecida com a ajuda de amigos e da família. Com os negócios crescendo, Cleusa tirou a mãe da vida de boia-fria e a trouxe para fazer balas de coco junto com ela. Uma colega da época da fábrica também se juntou às duas, e a produção –e, consequentemente, as vendas– começou a crescer. “Foi depois de cinco anos trabalhando nessa primeira loja que eu consegui juntar dinheiro para começar a abrir filiais. A primeira foi em Sorocaba”. A nova loja deu certo. Tanto que Cleusa abriu outras, em Americana, Itu e Indaiatuba.
.
Com a popularidade da doceria, surgiu a ideia de abrir a possibilidade de franquear o negócio. Mais uma vez, Cleusa fez sucesso: em dez anos, foram 74 lojas abertas pelo Brasil. Quando parecia tudo certo, Cleusa descobriu que uma multinacional estava indeferindo o pedido do registro de sua marca por violação de direitos autorais. A empresa era a Nestlé, que havia registrado um de seus chocolates com o mesmo nome.
.
“Eu já estava começando a ficar bem financeiramente e, de repente, vi minha marca desmoronar”, relata. “Paguei uma assessoria em São Paulo para tentar resolver isso. Eu estava dormindo pouco, não conseguia pensar em outra coisa. Até que um dia a minha amiga da época da fábrica me trouxe um papel de pão escrito ‘Sodiê Doces’, e perguntou se eu tinha entendido. Aí ela explicou: ‘É o nome dos seus filhos, ‘So’ de Sofia e ‘Diê’ de ‘Diego”. Eu comecei a chorar, liguei para todo mundo que estava envolvido no registro da marca e o nome passou”.
.
.
Concorrência e dificuldades
.
Hoje, não só o problema com a Nestlé foi resolvido, como também ela é parceira da Sodiê. “Eu só uso produtos de ponta. Nunca troquei, nunca misturei, e faço questão de dizer que eu estou vendendo um produto bom mesmo”, ressalta.
.
Mas mesmo sendo uma marca estável no mercado, Cleusa conta que o maior problema é não aumentar muito o preço de seus bolos, ainda que a matéria-prima esteja mais cara. E a concorrência também veio em peso: mais lojas de bolos surgiram nos últimos anos. “O que tem de loja que copia a Sodiê não é brincadeira. Mas a gente tem uma história, tem uma reputação. Mas o Sol sai para todos, acho que todo mundo que luta muito, persiste e batalha pelo que quer pode chegar lá”, diz.
.
Os planos futuos da Sodiê incluem abrir uma loja em Orlando, na Flórida (EUA) –a primeira filial internacional da Sodiê. Cleusa também quer expandir a marca no Nordeste e agora, com a criação da Sodiê Salgados (sob comando do filho da fundadora, Diego), a intenção é também vender salgados integrais e veganos. Hoje, para se tornar um franqueado, é necessário investir R$ 450 mil.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.