Saiu no site MARIE CLAIRE
Veja publicação original: Dakota Johnson fala sobre depressão, ansiedade sobre Covid e seu novo filme
Estrela de capa da edição de junho da Marie Claire americana, a atriz mostra que sabe o que quer
Dakota Johnson pode ser compara àquele provérbio do pato. Ela parece serena, mas logo abaixo da superfície está remando furiosamente – o dia todo e a noite toda. “Sinto a ansiedade mais insana sobre nosso mundo e nosso planeta”, diz ela entre mordidas de uma salada de restaurante delivery. São 14 horas de uma quarta-feira no final de fevereiro, e estamos sentados no pitoresco bangalô de dois quartos ao sul de Hollywood que ela usa como escritório da TeaTime Pictures, a empresa de desenvolvimento de filmes e TV que ela e o ex-executivo da Netflix, Ro Donnelly, lançaram no outono passado.
Toda a vibe do lugar é típica da Hollywood “sem esforço”. Uma sala de entrada ensolarada fica vazia, exceto por dois pôsteres emoldurados dos filmes de Johnson com o diretor italiano Luca Guadagnino, o drama de 2016 A Bigger Splash e o suspense Suspiria, de 2018. No banheiro, há uma foto da mãe de Johnson, a atriz Melanie Griffith, e seu ex Antonio Banderas deslizando por entre uma multidão de fotógrafos com uma escolta policial. Tínhamos acabado de conversar sobre a possibilidade de pedir ou não um frozen yogurt, mas passamos a pauta para – o que mais? – o medo global do vírus COVID-19. “Estou constantemente pensando no estado do mundo no momento. Isso me mantém acordada à noite, a noite toda, todas as noites”, diz ela. “Meu cérebro vai para lugares loucos e escuros”. Ela dá outra mordida no espinafre e mastiga lentamente.
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Declarações de jovens artistas sobre suas grandes preocupações com o mundo, sem nenhum alarme manifesto, tornaram-se uma espécie passo em falso. Uma atitude mais laissez-faire se tornou praticamente o cartão de visita de “garotas cool” em todos os lugares. Mas Johnson, aos 30 anos, não é cool – não na versão despreocupada da palavra. “Meu cérebro se move a um milhão de milhas por minuto”, diz ela. “Eu tenho que fazer muito trabalho para eliminar pensamentos e emoções, e faço muita terapia.”
De uma criação que contou com dois pais famosos (seu é o astro de Miami Vice, Don Johnson), divórcio e uma infância dividida entre Colorado, Los Angeles e inúmeros sets de filmagem, ela emergiu como uma observadora. “Eu luto com a depressão desde que muito jovem – desde os 15 ou os 14 anos. Foi quando, com a ajuda de profissionais, eu me dei conta de que isso [depressão] é algo em que posso acabar caindo. Mas aprendi a achar a beleza nisso porque sinto o mundo todo”, diz ela. “Acho que tenho muitas complexidades, mas elas não saem de mim. Não faço disso problema de mais ninguém”.
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Essa tensão é precisamente o que torna Johnson tão atraente na tela. Seus personagens irradiam com calor e empatia, mas raramente transbordam. Eles são observadores (A Bigger Splash), preocupados (Como Ser Solteira) e submissos (a franquia Cinquenta Tons), que lutam com seus lados selvagens. Seu próximo papel em The High Note [no Brasil, “A Batida Perfeita”, com estréia prevista em agosto] – uma comédia da indústria musical sobre uma piada acerca de uma estrela pop de quarenta e poucos anos (Tracee Ellis Ross) e sua assistente, Maggie (Johnson) – não é exceção. “Dakota é apaixonada e sente as coisas profundamente, mas também é maravilhosamente encantadora e divertida”, diz Ross sobre a colega. “Ela sabe onde está e quem é e não tem medo de falar o que pensa”.
Em A Batida Perfeita, como em tantos filmes sobre jovens ambiciosas, Maggie costuma ser educada por suas superiores. Mas, diferentemente de tantos filmes sobre jovens ambiciosas, neste filme ela nunca sofre uma crise de confiança. “Maggie é tão emocional e tão aberta, mas eu não queria que ela fosse totalmente destruída pelas pressões de fora”, diz Johnson. “Eu acho que, especialmente para as mulheres, é uma luta constante. É uma luta todos os dias. Maggie é vulnerável, mas isso nunca a impede de escolher o que é mais importante para ela”. Para a roteirista de 28 anos que assina o script do filme, Flora Greeson — que usou parte de sua própria experiência como assessora de Hollywood para informar o personagem — foi uma mudança radical. “Minha versão era uma garotinha idiota correndo por aí tentando segurar as pontas”, diz. “Dakota disse: ‘eu não quero esse personagem se desculpando em todas as cenas. Não é assim que Maggie age’”.
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Também não é como a própria atriz age. Uma recente aparição sua no The Ellen DeGeneres Show viralizou depois que ela se recusou a concordar com uma afirmação da apresentadora de que ela não foi convidada para a festa de 30 anos de Johnson. “Isso não é verdade, Ellen. Você foi convidada”, diz ela com firmeza, “mas você não apareceu”. Um dos motivos pelos quais ela lançou sua própria empresa, a TeaTime, foi para evitar ser colocada de lado. “Durante muito tempo, eu faria um filme sem ter nenhuma voz”, conta. “Eu poderia entrar em um projeto com uma ideia do que seria que depois tem resultado totalmente diferente. Como artista, você fica tipo, ‘Que porra é essa?’ ”(Johnson negou relatos de que ela estava descontente com os filmes da franquia Cinquenta Tons de Cinza) Ainda assim, ela queria participar de decisões de alto escalão como elenco, roteiristas e estética geral de um projeto. “Eu definitivamente quero que meu ofício, minha arte e minhas idéias sejam respeitadas e discutidas. Eu quero fazer parte do processo”, afirma. “Eu também tenho um gosto muito específico.”
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Se o vídeoclipe que ela acabou de co-dirigir para o single do Coldplay “Cry, Cry, Cry” é uma indicação, seu gosto tem tanto a ver com a emoção quanto com ambiente. “Eu escrevi a história e a enviei para a banda como todos os outros diretores, e eles escolheram a minha – não porque sejam parciais comigo”, diz ela, rindo. (Johnson namora Chris Martin, vocalista do Coldplay desde 2017.) Ela selecionou cuidadosamente todos os detalhes, desde a quantidade de confetes que cairiam na pista de dança até o olhar nos olhos dos dançarinos e os cadarços em seus sapatos. “Quando trabalho, estou constantemente pensando no trabalho. Isso ocupa muito do meu cérebro”, diz ela. “Nem todos os meus projetos são apenas boas mensagens, mas todos eles têm um pouco de algo que me faz sentir que é uma coisa boa na qual investir meu afeto”.
O coração é quem toma as decisões. “Eu realmente não tenho um método e não quero um”, diz ela sobre a escolha de projetos. “É muito intuitivo e emocional”. Alguns anos atrás, ela estava na Itália e “em um lugar que parecia muito escuro” quando foi atraída por um curta que acabaria se tornando o filme de comédia The Peanut Butter Falcon [sem estreia no Brasil]. O drama, que virou sucesso nas plataformas de vídeo sob demanda, é sobre um jovem com síndrome de Down (Zack Gottsagen) que encontra um companheiro improvável em um fora-da-lei (Shia LaBeouf). Há uma faísca entre os personagens de Johnson e LaBeouf – “Acho que Shia pode ser o melhor ator da minha geração, o que eu não diria na cara dele”, brinca ela – mas Johnson se apaixonou por outro homem durante as filmagens: “Zack Gottsagen se tornou um dos maiores amores da minha vida”, diz ela. “Ele mudou totalmente meu mundo.”
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É uma das suas coisas favoritas sobre cinema, a maneira como fazer filmes e até mesmo assisti-los pode servir como um escape para um lugar diferente. Johnson estava recentemente revendo Um Lugar Chamado Notting Hill quando sentiu uma pontada de algo familiar: um final feliz. “Não há mais filmes feitos assim. Os filmes em que eles levam tempo e o ritmo é mais lânguido, e trata-se de escapismo alegre e pensamento positivo”, diz ela. “Quando eu era criança, eu amava muito esses filmes. Eles foram a razão pela qual eu pensava: ‘talvez eu possa ser atriz. Talvez eu possa ser uma estrela de cinema’”. A ironia de que ela praticamente nasceu para ser uma estrela de cinema paira no ar, mas ela não se reduz ao seu contexto. Como Maggie, ela não se deprecia. “Há algo realmente bom em fazer algo que faz as pessoas se sentirem bem e saírem de suas vidas por um segundo e talvez pensarem: ‘Oh, meus sonhos podem não ser sonhos, eles podem ser …”
Ela pára. Ela está sorrindo, mas já está em outro lugar. Remando em direção à próxima grande novidade.
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