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Outro levantamento sobre casos de estupro revelou dados alarmantes a respeito de uma questão que deve ser preocupação de todos: a cultura do estupro. O Instituto Sou da Paz, de São Paulo, analisou todos os boletins de ocorrência registrados no primeiro semestre de 2016 e os dados reforçam o que outras pesquisas, profissionais e ativistas mostram. A violência sexual afeta diretamente as mulheres, o perfil do criminoso não é previsível e os crimes não acontecem em lugares ermos e sem iluminação.
Quem é a vítima da violência sexual?
Além de os maiores atingidos serem crianças, a faixa mais suscetível é entre os 11 e 15 anos e, entre os familiares, os mais apontados como suspeito são os pais e os padrastos.
O número de meninos abusados só é semelhante ao de meninas na faixa etária dos dois anos. Depois desta idade, elas são sempre as maiores vítimas.
Onde o crime acontece?
Quem é o estuprador?
A pesquisa permite chegar a algumas constatações importantes para o combate a este tipo de violência contra a mulher.
A primeira delas é a de que o estuprador não tem o estereótipo criado pelo imaginário popular de um homem forte e que ataca em lugares escuros e vazios. Ele pode adotar diversas características consideradas “do bem”. Pode ser educado, gentil, conhecido, pai, ter emprego fixo, religião. Ele pode ser o padrasto, o tio, o vizinho, o amigo, o namorado e até o marido.
Como consequência, temos os números de casos de estupro subnotificados. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas 10% das mulheres vítimas de violência sexual fazem denúncias. Ou seja, o número real de estupros é muito maior do que o que mostram os boletins de ocorrência. O mesmo acontece com crimes contra menores de idade, que ainda dependem de terceiros para efetivar a denúncia.
De quem é a culpa?
Para as autoridades, pesquisadores e ativistas, o que alimenta este crime é acultura do estupro, ideia enraizada nas pessoas desde a sua formação, ainda na infância, que banaliza, tolera, relativiza ou faz vista grossa à violência e ao abuso contra a mulher, mesmo quando eles são menos evidentes, sutis ou subjetivos.
Como define a ONU (Organização das Nações Unidas), “cultura do estupro é um termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro. ‘Mas ela estava de saia curta’, ‘mas ela estava indo para uma festa’, ‘mas ela não deveria andar sozinha à noite’, ‘mas ela estava pedindo’, ‘mas ela estava provocando’ – são alguns exemplos de argumentos comumente usados na cultura do estupro”.
Embora possa parecer absurdo, argumentos como esses são comuns e estas ideias fazem parte, sim, do imaginário das pessoas. Segundo recente pesquisa do Datafolha, 30% das pessoas entrevistadas entre homens e mulheres ainda acham que a vítima tem culpa quando é violentada. Essa parcela concordou com a frase: “A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”.
Na mesma pesquisa, 42% dos entrevistados homens e 32% das mulheres concordam com a frase: “Mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”.
A realidade é que não existe perfil e tampouco comportamento que determine que uma mulher será escolhida como vítima. Ela pode ser a estudante que sai de noite da escola, mas também pode ser a trabalhadora que entra cedo no serviço, a vizinha que tem um marido violento e até a criança.
O que fazer para acabar com o problema?
O que determina um estupro, portanto, é o estuprador. É por isso que, sabendo que a cultura do estupro é consequência do machismo e do estímulo às agressões sexuais e outras formas de violência contra a mulher, o caminho para o fim deste tipo de crime é a conscientização sobre o respeito e a igualdade de gênero. Mudar a cultura do estupro é acabar com o machismo, que nada mais é do que a ideia de que homens exercem algum poder sobre a mulher, independente do âmbito – sexual, comportamental, profissional, financeiro, social ou intelectual.
Entre as principais ações entram os trabalhos de base, feitos em casa e na escola para ensinar desde pequenos os meninos respeitarem as meninas e não as colocarem como inferiores ou naturalizarem a violência. Além de campanhas de conscientização e reeducação de adultos.
Além das medidas estruturais, a longo prazo, para chegar ao um número real e diminuir a incidência, é essencial também ações imediatas, como o aumento e aperfeiçoamento dos instrumentos de acolhimento da mulher em risco ou vítima e a melhora e expansão do acolhimento nas Delegacias da Mulher, por exemplo.
Publicação Original: Dados sobre estupro são alarmantes: novos números escancaram realidade no Brasil