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Crise faz mulheres se virarem com comércio ambulante

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Veja publicação original:  Crise faz mulheres se virarem com comércio ambulante

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Por Clara Cerioni

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Nas ruas, trabalhadores ganham menos do que um salário mínimo

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No começo de 2015, Lucia Severina, 49 anos, não encontrava mais trabalho como diarista em São Paulo. Na época, a crise econômica já se aproximava e, apesar da procura, as oportunidades estavam escassas. Para garantir o sustento, ela decidiu trabalhar como ambulante.

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Em princípio, vendeu água, suco e refrigerante. Mas a concorrência com esse tipo de comércio não fechava as contas e, no final do mês, o dinheiro não era suficiente.

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Decidiu trocar sua mercadoria por panos de prato e temperos e fixou seu ponto de venda no centro de São Paulo. “Não falo que ficou mais fácil. Continua bastante difícil, mas antes era muita gente vendendo os mesmos produtos. Pelo menos agora o meu é diferente”, conta.

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Lucia Severina segura saquinhos plásticos com temperos
Lucia Severina, 49, foi diarista e já vendeu água e refrigerante – Robson Ventura/Folhapress

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Assim como Lucia, o número de mulheres que entraram na estatística dos vendedores ambulantes aumentou entre 2015 e 2017. Durante esse período, 55,5% dos brasileiros que começaram a trabalhar nas ruas são mulheres. Ao todo, há 182 mil espalhadas pelo país.

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Já em relação aos ambulantes que começaramatrabalhar na função antes de 2015, a participação feminina é menor do queamasculina. Elas representam 47,9%eeles, 52,1%. Atualmente, existem 291 mil mulheres e 316 mil homens.

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Os dados foram detalhados pelo Dieese (departamento de estatística), com base na Pnad Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2017, a pedido da reportagem.

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Segundo Gustavo Monteiro, técnico do Dieese, a realidade dos ambulantes é precária e com pouca perspectiva. “Como a profissão não tem fiscalização, nem registro,oque conta é a ‘sorte’ das vendas”, afirma.

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Para Jefferson Nery do Prado, professor de economia do Mackenzie, o crescimento feminino pode ser interpretado como um reflexo das mudanças sociais. “Na crise, a mulher vai pegar a mercadoria e sair à rua. As mudanças do lugar da mulher abriram o leque de possibilidades de trabalho para elas.”

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MENOS QUE UM SALÁRIO MÍNIMO

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Em um carrinho de mercado com um guarda-sol pendurado, Maria Alcilene da Cunha, 36 anos, improvisou uma churrasqueira para assar espigas de milho.

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A unidade custa R$ 2,50, mas ela conta que, se o cliente pede um desconto, ela aceita na hora. “Essaéa única fonte de renda. Não posso perder a venda por conta de 50 centavos”, diz.

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Desempregada desde o final de 2014, Maria encontrou nas ruas a alternativa para seu sustento. “Perdi as contas da quantidade de currículos que enviei e de trabalho que procurei quando fui demitida”, afirma.

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Segundo ela, o salário que ganha é muito mais baixo se comparado com o que recebia em um emprego formal.

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A situação financeira de Maria é semelhante a de todos os trabalhadores dessa área. De acordo comapesquisa do Dieese, a média salarial de um ambulante com menos de dois anos de profissão é de R$ 666.

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Para eles, inclusive, não há garantia de direitos trabalhistas nem um planejamento previdenciário.

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Em relação ao ganho mensal, os trabalhadores ambulantes também são vítimas da desigualdade racial histórica do país.

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Nas ruas, um homem e uma mulher não negros recebem, em média, R$ 935 e R$ 708, respectivamente. Já os mesmos trabalhadores negros têm salário médio de R$ 696 e R$ 525.

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Para Gustavo Monteiro, do Dieese,apopulação negra enfrentaoracismo em todas as esferas. “Para eles é mais difícil, por exemplo, chegar no ponto de venda. A maior parte vive nas periferias e áreas afastadas”, diz.

 

 

 

 

 

 

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