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Veja publicação original: Corredora de rua sobre assédio: “Me aproximei e ele começou a se masturbar”
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Por Camila Brandalise
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“Gostosa”, “vai, cavala” ou “corre lá para casa” são algumas das falas constrangedores que a professora Karla Silva, de Florianópolis, já ouviu quando estava fazendo treinos de corrida na rua. Ela diz que esse é um comportamento masculino frequente, que acontece também contra outras corredoras. Elas contam que presenciam não apenas provocações verbais, mas agressões físicas e intimidações.
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No episódio de assédio que considera o pior que viveu, Karla saiu para correr depois do trabalho, ainda sob o sol, em uma avenida da cidade. “De repente, vi um cara que, simplesmente, abaixou a calça e começou a se masturbar quando me aproximei. Passei do lado, mas continuei olhando para frente e acelerei. Não disse nada por medo de ele vir para cima”, diz.
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Recentemente, ao correr às 6h de um sábado, uma outra situação a deixou morrendo de medo: um grupo de rapazes, saindo de uma festa, correu atrás dela, falando palavrões. “Eu usava minha mochila e ouvi eles dizendo que iam puxá-la e me fazer cair. Isso durou alguns minutos, até que fui para o lado de um posto de polícia e eles pararam de correr.”
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Leia abaixo relatos de outras mulheres que passaram por situações parecidas.
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“Respondi às provocações, eles desceram do carro e bateram no meu marido”
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A paulistana Cacia Sodré saiu para treinar com o marido e, em certo trecho, quando ele havia ficado para trás, quatro homens de dentro de um carro começaram a assediá-la. O carro fazia zigue-zague, se aproximava e se afastava dela. “Fiquei super nervosa. Eles zombavam ‘ei, mocinha, ei, gostosa'”. Cacia então respondeu, com palavrões, e os homens pararam o carro no meio da pista, apesar das buzinas de quem estava atrás.
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“Quatro homens desceram e vieram para cima de mim. Nisso, apareceu meu marido correndo. Chegou chegando, perguntou o que estavam fazendo e mandando saírem de lá. Eles jogaram meu marido no chão e o espancaram. Chutaram muito. Gritei, desesperada, e uma pessoa apareceu dizendo que ia chamar a polícia. Nessa hora, eles entraram no carro e fugiram.”
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Cacia diz que não fica mais sozinha em seus treinos na rua. “E prefiro ir para um parque ou para a academia. Mudei o comportamento até em relação à roupa. Se colocar um short mais curto, sei que vão mexer comigo.”
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“O cara puxou meu short e rasgou minha calcinha”
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A educadora física Renata Lopes corria às 6h de um domingo em uma avenida de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. “Um grupo de homens passou de carro e mexeu comigo, mas não liguei”, conta. “Foi quando vi um deles saindo com metade do corpo do carro. Ele puxou meu short pra cima e me levantou. Foi tão forte, que minha calcinha arrebentou e eu caí. Foi horrível e tudo muito rápido”, lembra.
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Quando se levantou, Renata foi até uma loja, ainda fechada, e pediu ajuda ao segurança, que vendo seu desespero, abriu o lugar para ela entrar. De lá, ela ligou para o marido, que sugeriu que fossem fazer um boletim de ocorrência. “O problema é que eu não tinha visto a placa do carro. Minha cabeça estava a milhão, e achei que não daria em nada denunciar.”
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“Um rapaz passou de bicicleta, diminuiu a velocidade e ficou colado ao meu corpo”
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A professora Giseli Trento Andrade e Silva passou por uma situação de intimidação em um de seus treinos. “Um rapaz passou de bicicleta, diminuiu a velocidade e ficou colado ao meu corpo. Depois, foi um pouco para frente, olhou para trás e fez gestos com a boca”, conta Giseli.
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“Ele deu a volta na quadra, reapareceu e colou do meu lado de novo. Fiquei com muito medo. Notei que havia umas crianças em uma escadaria, vi que era uma escola, e subi para pedir ajuda.” Giseli então ligou para o marido e pediu que ele fosse buscá-la no lugar onde estava.
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“Medo real só senti dessa vez. Mas palavrões, gestos, assovios, palavras sobre as minhas partes íntimas, carro devagar do lado acompanhando… Isso tudo é muito frequente”, diz.
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Conversando com outras mulheres, ela percebeu que os assédios eram mais comuns do que imaginava. Durante um treino, depois de mais um comentário inoportuno, disse para si mesma: “Me deixem em paz, só quero treinar”, e teve a ideia de criar uma conta no Instagram com o nome Só Quero Treinar. O perfil, que tem três meses e cerca de 10 mil seguidores, compila relatos de corredoras assediadas.
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“Muitas mulheres falam que é normal, que é assim mesmo. Mas não dá para tratar isso com naturalidade. Só queria que deixassem a gente correr sem ser importunada.”
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“Diminuí a velocidade achando que ele queria informação, mas me chamou para entrar no motel”
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A gerente de contas Waleria Furtado corria em uma avenida de Fortaleza e estava prestes a passar em frente a um motel. Ela viu um senhor falando e olhando para ela, fazendo gestos como se a estivesse chamando. Imaginou que ele queria pedir informações. “Diminuí a velocidade para falar com ele. Parecia uma pessoa inofensiva. E aí ele fez um convite para entrarmos no motel” diz. “Quando me dei conta, fiquei sem reação. Não respondi e continuei meu treino.”
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Waleria também diz que assédios são rotineiros em suas corridas e que está “descolada”. “Não parei de correr sozinha, sempre tem buzina, os homens falam coisas. Só coloco os fones e vou embora. Fazer o quê?”
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