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Veja publicação original: Cora Fernandes: A ‘personal organizer’ que arruma mais do que o guarda-roupa dos seus clientes
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Aos 30 anos, ela largou emprego de carteira assinada para investir em uma nova carreira: “Quero com o meu trabalho ser referência, principalmente para as pessoas da minha raça”.
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É uma coisa da dobra certa. Cada peça tem seu jeito certo de dobrar. Parece quase uma mágica. Ou uma dobradura, daquelas bem delicadas. Algumas roupas não se adaptam a dobras. Aí é melhor o cabide. Ou tem que descobrir um outro jeito, ver como guardar. Tudo com técnica. Claro que pode ter uma habilidade e uma visão natural ali. No caso dela tem mesmo. Cora Fernandes, 30 anos, conta que aos 9 já tinha esse jeitinho para organização e passava horas arrumando o armário de uma amiga. Muito mais legal do que brincar. Mas nessa época, ainda não fazia ideia de que isso era uma profissão – muito menos de que seria sua carreira um dia, anos depois.
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Para ela é natural. E sua casa mostra isso. Quem chega lá nem diz que há três crianças morando ali – uma de oito anos e um casal de gêmeos, de cinco. Não fossem os porta-retratos expostos embaixo da TV – os únicos objetos ali no móvel, nada de excesso – não dá para saber. “Não arrumei porque vocês vinham não, viu? Minha casa é sempre assim mesmo.” Mas ela não resistiu ao clássico “não reparem na bagunça” quando recebeu a reportagem em sua casa, em Cotia. Mas justificou que é porque mudaram faz pouco tempo e ainda estão organizando algumas coisas. Mas a gente mesmo não põe reparo em nada não. Mas com ela o olhar é profissional. Outro papo. “Nunca gostei das minhas coisas fora do lugar, acho que tudo tem que ter um endereço.”
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“Nunca gostei das minhas coisas fora do lugar, acho que tudo tem que ter um endereço.”
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Personal organizer, Cora largou seu emprego de carteira assinada como coordenadora de atendimento ao cliente em uma concessionária em Piracicaba, no interior de São Paulo, para apostar em sua carreira. “Eu estava cansada da vida de ser assalariada e uma pessoa que trabalhava comigo perguntou se eu já tinha ouvido falar nessa profissão. Fui pesquisar e vi que era isso. Pedi para ser mandada embora. Falei que tinha uma profissão que eu queria seguir.” Fez um curso e em pouco tempo mudou-se para São Paulo em busca de mais clientes e oportunidades. O marido também largou o trabalho para apostar na empreitada de Cora.
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Foi uma grande mudança de vida. Até então, Cora nunca tinha se encontrado em um trabalho – e fez de tudo. Foi manicure, trançava cabelos, fazia artesanato, trabalhou em áreas administrativas de empresas, foi telemarketing, começou – e largou – a faculdade de pedagogia. Frisa que sempre fez tudo muito bem, mas não se sentia feliz com nenhuma dessas atividades. Até que tudo mudou. “Sou a multi uso, mas me sentia perdida com isso. Foi muito gratificante eu ter me encontrado.”
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“Elas querem chegar em casa e se sentir em paz, encontrar as coisas que tem. No fim, elas acabam se encontrando, facilita demais a vida delas.”
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Depois que se encontrou, nada mais lógico do que ajudar os outros a fazer o mesmo. O trabalho dela começa na organização de cômodos da casa, mas ela sabe que acaba fazendo muito mais do que isso. “Vou até minha cliente, vejo tudo que ela tem, dou aquela averiguada mesmo para que eu possa organizar depois e tornar a vida dela mais fácil e mais funcional e é super gratificante.” O pedido é sempre o mesmo. O pessoal quer fugir da bagunça. “Elas querem chegar em casa e se sentir em paz, encontrar as coisas que tem. Muitas falam que estavam procurando tal peça. No fim, elas acabam se encontrando, facilita demais a vida delas.”
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E não devemos mesmo subestimar o valor e a importância da organização. Pode parecer um detalhe, mas Cora destaca a mudança que saber onde tudo está pode trazer. Na cozinha, por exemplo, muita gente deixa comida vencer por falta de organização. “É uma profissão que salva vida porque tem várias pessoas que passam tanto pela dificuldade de não conseguir encontrar as coisas que têm, como para quem perdeu um ente querido, por exemplo, e não consegue tirar as coisas do armário. Eu faço isso tudo.”
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Enfrenta algumas dificuldades, claro. Muita gente não quer descartar nada do que tem no armário e “aí não dá para fazer milagre”, ela já deixa bem claro. Mas sempre se esforça para se adaptar a necessidade de cada cliente. E Cora vai a casa de cada uma delas. Têm auxiliares que a acompanham, mas o toque e olhar final é sempre dela. “Eu sou o olho do meu negócio”, diz com firmeza e confiança. Porque sabe que o mais difícil foi isso. Ela diz que a grande dificuldade foi fazer os outros acreditarem em seu trabalho – e fazer com que ela mesma se achasse capaz. “Eu tive que acreditar em mim mesma e hoje sou muito mais confiante e as portas se abrem.”
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“Quero com o meu trabalho ser referência, principalmente para as pessoas da minha raça. Acho que posso mostrar que é possível vencer, sim.”
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Abrem mesmo, e sempre voltadas para o futuro. Com visão muito profissional do seu negócio, ela quer lançar um canal no youtube, zela por sua imagem e busca sempre novas clientes. Pretende se consolidar cada vez mais e ser um espelho para outras pessoas. “Quero com o meu trabalho ser referência, principalmente para as pessoas da minha raça. Acho que posso mostrar que é possível vencer, sim. Eu sou pequena e estou começando ainda, mas por mais que o mundo seja preconceituoso, a gente consegue chegar ao auge.” E não prende chegar lá sozinha. “Quero arrastar gente comigo, quem tiver dificuldade eu vou ajudar. Faço questão de responder as mensagens, porque eu tive uma pessoa muito especial que no início da carreira me ajudou muito. É um anjo, o nome dela é Raquel. Prontamente me respondia, me ajudava e eu devo isso às pessoas.”
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No fim da contas, o que Cora mais quer é que todo mundo se encontre. E ela sabe bem: tudo – e todo mundo – tem lugar certo.
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Ficha Técnica #TodoDiaDelas
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Texto: Ana Ignacio
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Imagem: Caroline Lima
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Edição: Andréa Martinelli
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Figurino: C&A
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Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC
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