Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: “Contei para minha mãe que era gay aos 15 e nem surpresa ela ficou”, conta Pabllo Vittar
A cantora Pabllo Vittar estrela a capa de Marie Claire ao lado de outras duas divas da música: Iza e Gal Costa. As três são porta-vozes da campanha #OCorpoIdealÉoSeu, que lançamos hoje em nossas redes sociais. Abaixo, trecho da entrevista (o resto você tem acesso na edição de novembro de Marie Claire, que chaga nas bancas dia 1)
Fazia 35 ºC em Belém, no Pará, quando Marie Claireencontrou Pabllo Vittar para esta reportagem. Com short curto e esportivo, camiseta básica e papete, ela recebeu a revista em seu quarto de hotel, no centro da cidade. Não fosse a pele já feita – a cantora fez questão de se maquiar, enquanto o beauty artist Andre Veloso enrolava o babyliss na peruca loira –, estava praticamente irreconhecível, com os cabelos raspados “de menino” e visual desmontado. Apesar das poucas horas de sono (ela havia feito um show em Macapá no dia anterior e à noite se apresentaria em Belém), estava animada. Fez caras e bocas no espelho e dançou ao som de Kylie Minogue enquanto terminava de colar os cílios postiços. “Adoro me montar! Quando chego a um lugar vestida de menina, me sinto a mais linda”, disse. Nascida Phabullo Rodrigues da Silva há 23 anos, em São Luís (MA), diz que é um “menino gay e drag queen”, que não tem a menor vontade de passar por uma cirurgia de redesignação sexual. Com isso, deixa os interlocutores à vontade para chama -la de “ele” ou “ela”. Quando está montada, com os cabelos brilhantes na cintura, a boca perfeitamente delineada e os olhos esfumados, no entanto, é impossível tratá-la como homem. Nesse momento, Pabllo é uma mulher, e das mais lindas.
O adolescente “afeminado e com a voz fina”, que cansou de ouvir que nada do que faria daria certo, diz sentir orgulho da carreira e de poder ser um exemplo de representatividade. Para ter uma ideia do sucesso estratosférico, não teve uma folga sequer durante todo o mês de outubro. Para tê-la nesta capa especial, precisamos levar um entourage a Belém, algo inédito na história da revista. Alçada à fama no clipe de “Sua Cara”, de Anitta, e destaque do Rock in Rio ao se apresentar com Fergie, é hoje uma sensação pop que acumula seguidores no Instagram (4 milhões), visualizações no YouTube (200 milhões só no clipe de “K.O.”) e até campanhas de beleza (da Avon). Nada mau para o menino de 1,87 m que sofreu bullying durante duas décadas. Aqui, fala sobre sua trajetória surpreendente
Marie Claire Quando entendeu que queria ser cantora?
Pabllo Vittar Nasci em São Luís e morei a infância toda no Pará. Aos 16, fui para Indaiatuba, cidade no interior de São Paulo, tentar começar uma carreira artística, mas não consegui nada como cantora. Para me virar, trabalhei em fast-foods e salões de beleza e, depois de dois anos, me mudei para Uberlândia com minha família, onde estou até hoje. Lá fiz as primeiras apresentações como drag. Foi então que conheci meu empresário e meu produtor e, no ano seguinte, gravei as primeiras músicas.
MC Você já ficou com mulher?
PV Nunca tive namoradinha, não faz meu estilo, desde criança. Contei para minha mãe que era gay aos 15 e nem surpresa ela ficou. Sempre me apoiou – aliás, a família inteira, minhas irmãs também. Meu pai biológico não conheço.
MC Tem vontade de mudar algo em seu corpo?
PV Não quero mudar nada. Se eu tivesse nascido uma pessoa trans, você acha que já não teria mudado tudo e estaria por aí, linda? Só aprendi na prática que preciso me cuidar para ficar disposta. Antes não me alimentava direito e tinha uma vida sedentária. Quando o ritmo de shows apertou, vi que comer e dormir bem faz toda a diferença para dar conta da agenda corrida.
MC Que cuidados tem no dia a dia?
PV Odeio ir para a academia, mas malho dia sim, dia não, nos quartos de hotel mesmo. e como o básico, privilegio proteínas e vegetais em vez de carboidrato. Não é sempre que consigo, mas tento!
MC Você não fica intimidado de postar fotos desmontado, como Phabullo?
PV Fico nada, eu amo. Me acho bonito pra porra!
MC O que mais gosta no corpo da Pabllo?
PV Amo minhas pernas! Malho muito a perna e a bunda desde sempre, porque fiz balé clássico. Vou colocá-las no seguro [risos].
MC E o que mais gosta no corpo do Phabullo?
PV Da barriga! Amo usar top cropped, amo calor e pouca roupa.
MC Além do aspecto físico, como o Phabullo é diferente da Pabllo?
PV Com a Pabllo me sinto forte. Consigo colocar meus sentimentos para fora e, ao mesmo tempo, me sinto protegida, como se meu alter ego fosse um escudo. Já o Phabullo é mais tímido. Só tenho uma vida e quero ser quantas pessoas quiser. As pessoas vivem conformadas, às vezes presas em suas cabecinhas. Ver tanta gente morrendo e sofrendo com intolerância e ódio só me faz ter mais vontade de viver, experimentar e lutar pelas coisas em que acredito.