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Veja publicação original: Conheça as executivas no comando do Rock in Rio
Sem perder o ritmo, elas conciliam a vida intensa no trabalho e o dia a dia como mães que não abrem mão do convívio de qualidade com a família
Sempre que pode, Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, deixa o escritório no meio da tarde para buscar a filha Lua, de 4 anos, na escola. Todos os dias, ela tenta chegar em casa a tempo de curtir os filhos – ela também é mãe de Theo, de nove meses – pelo menos uma hora antes que eles durmam. É claro que, às vésperas do evento, tudo isso fica cada vez mais complicado.
“Esses dias aconteceu uma coisa que não faz parte da minha vida: cheguei em casa dois dias seguidos bem tarde e não consegui ver as crianças. Isso não faz parte da minha regra. Se hoje eu não chego em casa a tempo, amanhã eu vou chegar”, afirma.
Para se dividir entre a rotina de executiva e a vida pessoal, ela e o marido, Ricardo Acto, vice-presidente de operações do festival, contam com a ajuda de um staff poderoso em casa e fizeram opções importantes em função dos filhos.
“Abri mão de muita coisa, decidi morar ao lado do escritório. E, no trabalho, passei a evitar centralizar certos comandos e lideranças. Não tenho mais essa disponibilidade”, admite Roberta.
Ainda assim, o dia a dia dela é intenso. É comum ela chegar em casa e descobrir tardiamente uma nova evolução de Theo, como ficar de joelhos ou um dente que nasceu. “Sou sempre a segunda ou a terceira a saber”, lamenta ela.
Em casa, a linha entre trabalho e família é muito tênue. Roberta sempre trabalhou diretamente com o pai, Roberto Medina, presidente do Rock in Rio, e com o irmão, Rodolfo Medina, também vice-presidente. As conversas nos fins de semana, invariavelmente, envolvem o trabalho. No casamento, ela e Ricardo já têm suas estratégias para driblar as reuniões que nascem espontaneamente na sala de casa.
“O maior exercício é se controlar para não tentar esclarecer aquele assunto só porque está junto. Às vezes, um começa o papo, às vezes o outro. Mas chega uma hora em que cortamos”, conta.
Além da divisão entre escritório e casa no Rio de Janeiro, Roberta, Ricardo, as crianças e dois cachorros chamam de lar duas casas, duas cidades, dois países. Há catorze anos, ela foi a Portugal produzir o primeiro Rock in Rio em Lisboa e nunca mais deixou de ter um pé lá. Todo ano, a família se muda de uma cidade para a outra em função do festival. A partir de outubro, no entanto, eles já bateram o martelo: Lisboa será a cidade base.
“Nunca tivemos nenhum problema de logística. E a Lua se adapta muito bem às duas escolas. Mas na próxima edição do festival lá, ela já vai estar em um período em que convém ter mais estabilidade por causa da escola. É claro que vamos continuar vindo muito, mas o foco das demandas aqui ficará mais com as nossas equipes”, explica Roberta.
Reunião da escola é prioridade
Quem também aprendeu a não fazer concessões quando o assunto são os filhos foi Renata Guaraná, diretora Comercial e de Atendimento do Rock in Rio. A mãe do Joaquim Pedro, de 9 anos, e da Maria, de 4 anos, avisou logo de cara na primeira conversa antes de ser contratada: “não contem comigo quando tiver reunião da escola, apresentação de balé, troca de faixa no jiu-jitsu”.
“Não vou negar, é muito difícil equilibrar tudo. É como se eu tivesse impresso em mim a culpa. Do espirro do meu filho até a conversa que sou chamada na escola, sinto que a culpa é minha que não estou em casa. Então, meu dia começa muito cedo. Eu não abro mão do café da manhã com eles”, relata ela.
Apesar da dificuldade de conciliar casa e carreira, o trabalho Rock in Rio chacoalhou a vida de Renata. Ela já tinha os dois filhos e estava em uma zona de conforto no emprego quando, há três anos, veio a chance de ocupar uma cadeira no escritório da empresa.
“O trabalho aqui reacendeu em mim uma chama que eu achava que não voltaria depois da maternidade. Foi como um vendaval. Eu me conheço sendo executiva. Não consigo dizer que trabalho só para pagar as contas, eu encontrei prazer no trabalho”, entrega ela.
Em casa, Renata também conta com a ajuda de um staff. Tarefas como fazer lista de mercado, ir às compras, fazer o cardápio da semana já não passam mais pelo controle dela. A engrenagem, como ela diz, anda sozinha. E ainda tem a outra bolinha que essa malabarista não pode deixar cair: o casamento. Casada há dez anos com o advogado Leandro Cariello, ela diz que o marido entende perfeitamente a sua rotina de trabalho.
“Tento ser muito das crianças no fim de semana. E aí desequilibra o casamento, porque na sexta eu quero ficar em casa para acordar descansada no sábado. O que fazemos é aproveitar para namorar quando os meninos vão para a casa da vovó, por exemplo”, conta.
Uma escolha feita todos os dias
A diretora de Marketing do festival, Agatha Arêas, também tem a parceria do marido como sustentação do seu trabalho. Assim como Roberta Medina, ela e a família dividem o tempo entre o Rio e Lisboa. Na empresa desde 2000, Agatha é responsável pelo marketing do festival no Brasil e no exterior. Casada com o fotógrafo português Francisco Onofre, ela escolheu Portugal como base. Os cuidados com Rafael, de 6 anos, e Felipe, de 3, também são compartilhados.
“Toda mulher que é mãe executiva passa pelas mesmas dificuldades. Eu tenho o privilégio de ter a compreensão e o estímulo do meu marido e a flexibilidade que ele tem de horários. Não sei como é a rotina do casal que deixa as crianças o tempo todo só com pessoas que não são da família. O fato dos meus filhos terem um pai amigo e protetor me dá muita força”, admite.
Agatha, o marido e os filhos passam em média quatro meses por ano no Brasil quando o festival é no Rio. A partir da próxima edição, no entanto, tudo vai ser diferente. Rafael vai cursar a primeira série a partir de setembro deste ano e não poderá perder aula para vir ao Brasil. A distância dos filhos já começa este ano. Francisco embarca para Lisboa com os meninos antes do início do festival, para que Rafael esteja lá no início das aulas.
“Vou ficar três semanas aqui sem eles. Ao mesmo tempo, tenho feito exercício de não ser egoísta. Porque é claro que ele poderia ficar aqui, mas eu iria prejudicar o aprendizado dele para ele ficar com as migalhas do meu tempo durante o festival. No mundo ideal, você quer fazer o Rock in Rio, ficar com seu marido, com seus filhos, com amigos. Quer tudo, mas temos que administrar”, pondera.
Mesmo com o entra e sai do avião o tempo todo – no último ano, ela veio ao Brasil nove vezes durante dez meses – Agatha não abre mão do trabalho por nada. Entrega apenas que gostaria de conseguir jantar com o marido e os filhos todos os dias. A escolha da vida de executiva, ela garante, é feita todos os dias.
Mulher Maravilha
Diretora de Novos Projetos, Roberta Coelho fez a experiência de deixar o festival por quatro meses e ficar mais tempo em casa com as crianças. O resultado não foi totalmente gratificante.
“Foi bom porque todo mundo tem que aprender a viver consigo mesmo, sem ter uma meta na cabeça. Me acostumei com isso depois de um tempo, mas cheguei à conclusão de que gosto de trabalhar”, diz ela.
Além das horas de trabalho no escritório e a organização da rotina da Maria, de 11 anos, e do Guilherme, de 9, o funcionamento da casa também é por conta dela. Volta e meia, ela se assusta com a quantidade de responsabilidade, mas acredita que as mulheres dão conta do recado.
“Mães que trabalham são sempre “Mulher Maravilha”. Acho que fomos formatadas dessa forma. Tenho que pensar em tudo, desde deixar o dinheiro da faxineira até se tem carne ou não, além de gerenciar a vida das crianças. Mas aprendi que não posso ser perfeita em tudo”, avalia.
Economista por formação, Roberta Coelho sempre trabalhou em multinacionais e passou anos viajando a trabalho. Ela admite que Maria e Guilherme cresceram sem saber o que é uma mãe totalmente dedicada em casa. Mas, ao longo do tempo, por causa da distância, aprendeu a investir na qualidade do tempo que passa com elas.
“Quando estou com eles, fico focada. Brinco, construo casas, cidades de lego, faço maquiagem, brinco de SPA. Gosto de levar meu filho ao jogo do Flamengo, vê-lo surfar, fico agarradinha com eles vendo TV. E eles sabem que a mamãe adora trabalhar. Digo que é parte da minha vida”, conta.
Quando pode, Roberta relaxa e esquece as tensões do dia a dia com seu hobby predileto: desenhar roupas. Sempre que tem um tempinho, passa em lojas de tecidos e leva o modelo para uma costureira. Além disso, inseriu na rotina o hábito de fazer ginástica três vezes por semana. A satisfação com o trabalho, mesmo com a vida intensa, ela vê refletida em casa.
“Estar feliz no trabalho influi diretamente no astral da minha casa, nos meus filhos. Quando você está infeliz, aquilo vira um fardo. Nós, mães, temos que ver que fazemos o melhor dentro do que consideramos o melhor. E as crianças vão sentir isso”, conclui.
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