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Conheça as alunas vítimas de feminicídio em 1993 e 2003 que motivaram recomendação de medidas de memória e reparação na UFU

Saiu no site G1

 

Na terça-feira (2), o Ministério Público Federal (MPF) emitiu uma recomendação à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), para que a instituição adote medidas de memória e reparação às estudantes Roberta Duarte Neves e Elisângela Aparecida de Oliveira Araújo, vítimas de feminicídio.

Segundo o MPF, a ação é mais um passo para preservar a memória das estudantes mortas, respectivamente, em 1993 e 2003, quando o crime de feminicídio ainda não tinham esse nome.

“Essa recomendação é inédita e histórica! Umas das maiores vitórias pela memória das mulheres”, diz a professora Neiva Flávia do Coletivo Acolhidas, da UFU.

Elisângela A. Oliveira Araújo, a Elis

 

Esbelta, alegre, sorriso marcante, voz doce, fala pausada, dona de uma beleza que se destacava ao ponto de ser comparada à Ivete Sangalo em seu início de carreira. É assim que a amiga se lembra de Elis, alguém que se destacava por onde passava e gostava de ser comparada à cantora de axé.

“Consigo vê-la sorrindo ao lembrar”.

 

Elis era dedicada aos estudos, queria transformar a vida da família humilde, ser alguém na vida. No início da faculdade, ela morava com tios e uma priminha. Economizava aqui e ali devido às dificuldades financeiras e se mantinha alegre em meio as amigas.

Entre 2001 e 2003, a estudante iniciou um relacionamento com Daniel Alexander Pereira Cunha, aquele que cessaria o seu sorriso fácil dois meses após o término.

“Acho que era um namoro em que eles conviviam mais entre eles mesmo, não conviviam muito socialmente com os colegas, amigos da Elis. Eventualmente nos encontrávamos em alguma festividade da turma. Na minha presença nunca percebi qualquer abuso nesse relacionamento. Ele me tratava bem, enquanto amiga da Elis. Hoje em dia tenho dúvidas”, relembrou.

 

Durante o tempo em que Elisângela e Daniel ficaram juntos, o relacionamento se tornou motivo de desavenças na casa da jovem, de modo que ela passasse a morar com uma amiga da faculdade e vez ou outra ia pernoitar na casa do namorado.

Elisângela A. Oliveira Araújo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“No início de abril de 1999, iniciamos a faculdade. O contato com a Elisângela foi praticamente de imediato, na semana de integração participamos das atividades de recepção de calouros e, de repente a relação de amizade se constituía. De cara descobrimos que ela não gostava do segundo nome, Aparecida, então sempre assinava Elisângela A. Oliveira Araújo. A nossa Elis”.

Esse é um relato pessoal. A lembrança de uma das melhores amigas de Elisângela e que preferiu não se identificar, mas que narrou com carinho o que elas viveram juntas.

“Tenho 3 cartas sociais (na época não havia redes sociais), que ela me enviou em dois período de férias do ano 2000 (nosso segundo ano de faculdade), de Iturama (sua cidade natal), contando as peripécias vivenciadas nas férias. As paqueras, os novos affairs, suas expectativas afetivas, sempre dividindo conosco seus sonhos. Ela era uma moça muito bonita, morena, cabelos lisos e longos, magra, brincávamos que ela parecia a Ivete Sangalo”, disse.

Esbelta, alegre, sorriso marcante, voz doce, fala pausada, dona de uma beleza que se destacava ao ponto de ser comparada à Ivete Sangalo em seu início de carreira. É assim que a amiga se lembra de Elis, alguém que se destacava por onde passava e gostava de ser comparada à cantora de axé.

“Consigo vê-la sorrindo ao lembrar”.

 

Elis era dedicada aos estudos, queria transformar a vida da família humilde, ser alguém na vida. No início da faculdade, ela morava com tios e uma priminha. Economizava aqui e ali devido às dificuldades financeiras e se mantinha alegre em meio as amigas.

Entre 2001 e 2003, a estudante iniciou um relacionamento com Daniel Alexander Pereira Cunha, aquele que cessaria o seu sorriso fácil dois meses após o término.

“Acho que era um namoro em que eles conviviam mais entre eles mesmo, não conviviam muito socialmente com os colegas, amigos da Elis. Eventualmente nos encontrávamos em alguma festividade da turma. Na minha presença nunca percebi qualquer abuso nesse relacionamento. Ele me tratava bem, enquanto amiga da Elis. Hoje em dia tenho dúvidas”, relembrou.

 

Durante o tempo em que Elisângela e Daniel ficaram juntos, o relacionamento se tornou motivo de desavenças na casa da jovem, de modo que ela passasse a morar com uma amiga da faculdade e vez ou outra ia pernoitar na casa do namorado.

“Depois de 2 anos e 3 meses de namoro, eles romperam, em meados do ano de 2003. Parecia ter havido consenso, mas não tenho certeza mais. Nos meses seguintes, Elis voltou a sair com as amigas nas festinhas, que eram muitas, nos meses finais de faculdade”.

 

No dia da colação de grau em Psicologia, no início de setembro de 2003, Daniel, mesmo não estando mais junto de Elisângela, foi à cerimônia e se sentou perto dela. Tudo isso, 20 dias antes do assassinato.

A estudante foi morta em setembro de 2003 com um tiro de revólver disparado por Daniel Alexander, que na época tinha 23 anos e estudava medicina veterinária. Eles estavam na casa dele depois de saírem de uma festa.

Um amigo deles testemunhou o fato e disse que os três estavam em um quarto. Elisângela ficou sentada na cama e o amigo mexendo no computador, de costas para os dois. Ela e Daniel iniciaram uma discussão e houve o disparo da arma de fogo.

Após o crime, os dois jovens levaram a vítima ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mas ela não resistiu aos ferimentos. Ambos foram levados para a delegacia e, na casa de Daniel, a Polícia Militar apreendeu uma carabina, duas pistolas, uma espingarda, três facas de caça e dois revólveres.

Na época, Daniel disse que o tiro foi acidental. No entanto, a perícia constatou que pela posição do revólver, se tratou de homicídio. Daniel foi condenado a 13 anos de prisão em regime fechado.

Jovem foi morta pelo namorado após voltarem de uma festa — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Jovem foi morta pelo namorado após voltarem de uma festa — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Em memória de Roberta Duarte Neves

 

Roberta Duarte Neves ingressou no curso de Medicina Veterinária da UFU e, 1991. Ela foi morta aos 23 anos por Antônio José Malveira da Silva, que cursava a mesma graduação em 17 de novembro de 1993.

A estudante foi morta com 16 golpes de facão e 5 marteladas na cabeça. Malveira foi condenado a 24 anos de prisão.

Quando foi morta, Roberta estava no quinto período da faculdade, enquanto Antônio estava no oitavo.

O g1 entrou em contato com a família de Roberta para ter mais informações sobre o ocorrido e não obteve retorno.

Nota da UFU

 

“A Reitoria da UFU foi comunicada pelo Ministério Público Federal através da Recomendação No. 21/2024, datada de 1º de julho de 2024, a respeito de processos que tramitaram no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, envolvendo ex-estudantes que foram condenados.

Tal recomendação decorre dos assassinatos de duas estudantes da Universidade, vítimas de feminicídio, um em novembro de 1993, outro em setembro de 2003.

Desde então a Universidade evoluiu de maneira significativa no que diz respeito à segurança das pessoas, proteção das mulheres, questões raciais e de gênero, dentre outras. Houve, inclusive, casos em que punição severa foi aplicada a integrantes da comunidade universitária que praticaram atos considerados reprováveis em processos administrativos conduzidos pela própria instituição.

A UFU está avaliando os diversos pontos destacados pelo MPF e responderá as recomendações feitas no prazo estabelecido.”

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