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Veja a publicação original: Como está sendo a volta às aulas ao redor do mundo?
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Alguns países adotaram o revezamento entre as turmas, outros a medição de temperatura e há os que ainda estão decidindo a melhor estratégia para a retomada.
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Por Flávia Antunes
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O ensino à distância virou a realidade de muitas crianças durante a pandemia do novo coronavírus. Pais tiveram – e ainda estão tendo – que conciliar o trabalho com os cuidados do lar e com as atividades dos filhos e ousamos dizer que a casa nunca foi palco de tantas tarefas diferentes. Porém, depois de mais de três meses longe das escolas, alguns estados brasileiros estão começando a anunciar projetos de reabertura.
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Mesmo com os casos ainda em escala crescente, São Paulo já divulgou o seu plano para a retomada gradual das instituições em setembro, enquanto que o Rio de Janeiro continua debatendo qual estratégia adotar. Mas se dentro do próprio país as ações para a volta às aulas não são unânimes, quem dirá em outros países, com culturas – e números de casos – tão diferentes?
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Para entender e traçar um panorama de como está sendo o reingresso dos alunos aos colégios, conversamos com famílias de várias partes do mundo.
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Portugal
Em comparação com os vizinhos europeus, como Espanha e França, Portugal teve um número de casos da doença menor – no relatório atualizado pela Organização Mundial da Saúde em seis de julho, o país contabilizava pouco menos de 44 mil infectados.
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Mas bem antes disso, quando ainda somava 78 casos positivos, o governo português decretou o fechamento das escolas, medida que começou a valer em 16 de março. Agora, com a curva tendo se estabilizado um pouco, a alternativa adotada foi abrir as escolas de maneira escalonada, começando pelos alunos do Ensino Médio e depois as outras faixas etárias.
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E é sobre isso que nos conta Ana Barros, sócia fundadora da OUTMarketing, e mãe de Vitória, de 6 anos; Carminho, de 3; André, de 15; e Pedro, 17. “Aqui em Lisboa, voltaram a abrir as escolas dos menores, até os três anos, na segunda quinzena de maio. A partir do dia primeiro de junho, abriram às crianças dos três aos seis anos”, diz.
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Como as filhas estudam em um colégio particular com a metodologia de ensino Waldorf, muitas atividades já eram realizadas em ambientes externos e em contato com a natureza, o que está sendo priorizado mais do que nunca. Mas mesmo sem a aglomeração em locais fechados, outras cautelas foram tomadas pela instituição.
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“Os cuidados que as escolas estão tendo são o de não deixar que os familiares que vão levar os filhos entrem no interior da escola; para passar da rua para dentro a pessoa tem que desinfetar as mãos com álcool gel e estar usando máscara; além de não juntarem mais as crianças de diferentes salas, que agora brincam só entre elas”, relata.
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Na escola que as pequenas frequentam, os educadores têm que utilizar máscaras o tempo inteiro, mas a obrigatoriedade não vale para os estudantes. Outra coisa que acabou não sendo colocada em prática foi o distanciamento social entre as crianças, que Ana descreve como “humanamente impossível”.
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Mesmo que a volta às aulas estivesse prevista para o início de junho, o sentimento de incerteza falou mais alto para a família, que permitiu o retorno das filhas somente no dia 22. “Quisemos avaliar nas primeiras três semanas como seria o comportamento das educadoras, das crianças e da sociedade em geral, porque aqui em Lisboa os casos – com o desconfinamento – voltaram a aumentar”, explica.
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“Acontece que elas já estavam com uma ansiedade social de estar na escola, de ver os amigos e de fazer suas atividades rotineiras. Portanto, com alguma precaução e receio, elas voltaram, mas estamos avaliando dia após dia”, acrescenta ela.
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China
O primeiro epicentro da pandemia também está em sua reabertura gradual. Ainda em abril, algumas escolas voltaram à ativa – mas ainda não recebendo os pré-escolares – e muitas mudanças passaram a habitar a rotina das famílias, como relata Rebecca Steinhoff, que mora com as filhas Valentina, de dez anos, e Sarah, de 12, na cidade de Changzhou.
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“Antes de sair de casa elas precisam medir a temperatura e gerar pelo celular o QR code de saúde, depois enviar tudo no grupo da escola para as professoras verificarem. Chegando na escola elas passam por um scanner de temperatura. Ao entrar na sala elas não sentam mais ao lado do amiguinho, agora sentam sozinhas. Durante o dia as professoras trocam as máscaras das crianças e medem a temperatura de cada uma”, postou ela.
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Mais que cuidados dentro da sala de aula, todos os dias as meninas precisam levar o “kit pandemia”, que inclui: toalha de tosto, toalha para colocar embaixo da bandeja de comida, lenço de papel para o banheiro, lenço umedecido para o banheiro, lenço umedecido para limpar a mesa da sala de aula, álcool gel, saco de lixo, talheres para o almoço e máscaras para trocar durante o período na escola.
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E o trabalho dos pais não para por aí. Todos os dias eles precisam medir as temperaturas de todos os integrantes da família – inclusive deles próprios – e anotar em uma planilha, junto com outras informações como se tiveram contato com algum infectado ou com pessoas recém-chegadas do exterior. Os dados servem como um “atestado de saúde” da escola, que acompanha o estado de cada um dos alunos desde o início da pandemia.
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Estados Unidos
O país, até então com maior número de infectados pela doença, também já estuda o retorno para a volta às aulas. Na segunda quinzena de maio, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) publicou guias para orientar a reabertura das escolas, restaurantes e locais fechados.
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Dentre as recomendações, a Agência coloca que as instituições avaliem questionamentos como: “a escola está pronta para proteger crianças e funcionários com maior risco de doença grave?” e “você é capaz de rastrear estudantes e funcionários na chegada para verificar os sintomas e o histórico de exposição?”. Caso a resposta seja negativa, a orientação é que o colégio não abra suas portas ainda.
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Fato é que, apesar das prescrições gerais, cada estado tem autonomia para decidir as próprias regras, como conta a professora Mariana Leite, que mora na Califórnia com a filha Olivia, de cinco anos. “Ela vai começar o kindergarten (o primeiro ano do ensino regular) e a volta às aulas está prevista para dia 24 de agosto. A diretora já avisou, em uma reunião feita por videoconferência, que vai começar nessa data de um jeito ou de outro”, relata.
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As opções de ensino, por enquanto, são duas. “Ou vai ser totalmente online – o distance learning -, ou adotarão o modelo híbrido, alternando os dias das semanas que cada criança vai para a escola ou o período, em que um grupo vai pela manhã e outro à tarde, por exemplo. Vão nos avisar em agosto como será o formato”, explica ela.
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Embora a reunião tenha sido feita com os pais, Mariana ressalta que as instituições “ainda não bateram o martelo” e estão esperando o mês de julho para avaliar a evolução dos casos e tomar decisões mais concretas. As únicas medidas já definidas são três: que as salas terão no máximo 15 alunos, que as professoras terão que usar máscaras e que terão que lavar as mãos a cada 20 minutos. Ainda não chegaram a um veredito sobre a utilização de máscaras também pelos pequenos.
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Alemanha
A Alemanha vem tendo sucesso na contenção do avanço do novo coronavírus. Desde o fim de abril o país está passando por um processo de “desconfinamento” gradual e recentemente as escolas reabriram as portas, inclusive para os pré-escolares.
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“Aqui as aulas voltaram dia 15 de junho”, conta a médica Lídia Poppe, mãe de Leonhard, de oito anos; Benjamin, de seis; e de Anton, de 11 meses. De acordo com ela, a principal medida adotada pelo colégio foi o revezamento das turmas durante a semana, para diminuir o número de alunos no mesmo dia.
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“Meu filho mais velho está na segunda série e dividiram a classe dele em duas de dez alunos para que conseguissem manter o distanciamento de pelo menos 1,5 metro entre as cadeiras”, diz. Assim, um dos grupos vai à escola às segundas e quartas-feiras e outro às terças e quintas, revezando às sextas-feiras.
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O horário do recreio também foi dividido. “Toda os alunos da classe passam o intervalo só entre eles, não podem brincar com as outras crianças. Isso foi o que meu filho mais sentiu falta, porque tinha muitos amigos de outras turmas”, revela Lídia.
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Embora esses cuidados tenham sido aplicados para todas as faixas etárias, uma medida valeu apenas para os mais velhos: o uso de máscaras. “O Benjamin acabou de completar seis anos e até essa idade não é preciso usar máscara aqui. Outra mudança é que cada um tem que levar o seu próprio lanche de casa agora”, explica a mãe.
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Reino Unido
A retomada das aulas no Reino Unido, que estava prevista para junho, teve que ser adiada. A decisão do governo de voltar atrás se deve em grande parte pela experiência mal-sucedida de reabertura parcial, que mostrou a falta de estrutura de algumas escolas: elas não tinham espaço suficiente para garantir o distanciamento entre as crianças e nem para manter 15 alunos por turma, como havia sido determinado.
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Agora, ao que tudo indica, os pequenos voltarão a encontrar os coleguinhas só meses depois, como conta Letícia Bueno, brasileira que vive na Inglaterra com os filhos Arthur, de quatro anos, e Eduardo, de dois. “Não foi decretada uma volta às aulas, mas a previsão é que voltará ao normal em setembro, que é quando começa o ano letivo na Inglaterra”, diz.
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Segundo ela, o governo deixou que algumas instituições continuassem abertas somente em casos especiais. “À princípio, a volta às aulas só está acontecendo para os key workers – que são os funcionários da saúde e de serviços essenciais – e para os que não pararam de trabalhar e não têm com quem deixar as crianças”, relata.
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Letícia explica que os cuidados para garantir a segurança dos alunos ainda não foram anunciados, mas algumas mudança já está sendo efetuadas, como é o caso da tradicional visita das educadoras à casa dos matriculados. “Aqui na Inglaterra é praticamente regra que, antes de começar o ano letivo, a professora visite todos os alunos. Como as visitas presenciais não estão sendo permitidas, elas estão fazendo chamadas online a cada 15 dias, para atualizar os pais, conhecer um pouco da criança, perguntar sobre medos e dúvidas…”, esclarece.
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“É muito importante que elas conheçam o aluno e a rotina da casa, até porque grande parte das crianças não tem o inglês fluente – geralmente, cerca de 50% dos alunos não são britânicos, mas de outras nacionalidades”, complementa ela.
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Austrália
O país da Oceania é o que teve menos casos entre os da lista. De acordo com a jornalista Taís Gomes Martins, que mora na Austrália com a filha de nove anos, Alice, o encerramento ou não das aulas presenciais foi alvo de muita polêmica.
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“O primeiro-ministro (Scott Morrison) nunca fechou as escolas pelas crianças não serem um ponto focal crítico da doença e para não deixar de prestar esse tipo de serviço aos pais que exercem funções essenciais. Ele deixou as instituições abertas, mas deu a opção para que você ensinasse seu filho de casa, enquanto os casos não estivessem controlados”, conta.
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Pela frequência ser optativa, Taís optou por consultar a professora da menina, que desencorajou a família – o que fez com que deixassem Alice sem ir à escola durante 15 dias em março. Depois disso, pelo próprio esquema de aulas do país já haviam férias previstas no calendário e, com a retomada no meio de abril, a mãe conversou novamente com a educadora.
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“Desta vez, os casos já estavam super controlados. Estávamos há alguns dias sem casos novos no estado e tínhamos um cenário um pouco mais previsível”, afirma.
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A distância de um metro e meio entre as pessoas, higiene das mãos e até um aplicativo chamado “Covid Safe”, que rastreia o caminho do usuário para que os infectados sejam facilmente identificados, foram algumas das medidas para a população geral. Mas para a escola, nenhum cuidado específico foi prescrito. “Cheguei a mandar a Alice de máscara para a escola no primeiro dia, e só as crianças brasileiras estavam de máscaras”, lembra.