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Diana Biggs – Conselheira e Empreendedora da FinTech e Impacto Social, Companheiro no Grupo Anthemis, no Reino Unido
Se você quiser mais mulheres em sua empresa, aceleradora ou hackaton, precisa fazer disso uma prioridade e incorporá-la.
Em um típico hackaton — junção das palavras “hacker” e “marathon” em inglês, que significa maratona de programação, quando vários hackers se reúnem para desvendar sistemas —, a porcentagem de mulheres é de 20%. Em dezembro do ano passado, em Gaza, a comunidade de hackers AngelHack realizou seu 20o Lady Problems Hackathon — evento global destinado a identificar barreiras que dificultam o empreendedorismo feminino —, na sede da primeira e única aceleradora em Gaza, a GSG (Gaza Sky Geeks). No evento, 83% dos participantes eram mulheres — a maior participação de mulheres do AngelHacks até a data — (e, possivelmente, de todos os hackatons).
Havia muito para se impressionar e se inspirar durante minha curta visita à GSG, mas certamente a capacidade da empresa de atrair tantas mulheres codificadoras chamou a atenção como um forte exemplo da oportunidade imediata de melhorar a diversidade em tecnologia, apesar das barreiras econômicas, sociais e culturais. Aqui estão algumas das estratégias usadas para conseguir o resultado:
1. Fazer das Mulheres uma Prioridade
Se você quiser mais mulheres em sua empresa, aceleradora ou hackaton, precisa fazer disso uma prioridade e incorporá-la em todos os níveis da organização. A Gaza Sky Geeks, por exemplo, tem mulheres no conselho de administração, uma cofundadora, e mulheres nos papéis de assessoras, funcionárias, mentoras e voluntárias. Também criaram um papel específico, o Women’s Inclusivity Programs Fellow (Integrante dos Programas de Inclusão de Mulheres) para coordenar programas, eventos, workshops com foco em mulheres, como, por exemplo, clubes de código, hackatons e propostas para promover mais fundadoras mulheres.
2. Estabeleça Metas
Quando se tenta obter algum resultado, estabelecer metas e objetivos e medir o progresso pode ser muito útil. No primeiro passo, definimos diversidade de gênero como uma prioridade organizacional — agora precisamos quantificar isso para poder monitorar e nos responsabilizar por essas prioridades. Quando a GSG conseguiu um participação feminina de 30% em seus eventos, poderia ter parado por aí: na média global, a força de trabalho feminina no setor de tecnologia é de 30%. Em vez disso, optaram por continuar a buscar uma meta de 50% de mulheres, representativa da população geral e de uma igualdade que ajuda a reduzir a influência de outras formas de viés.
3. Antecipar a Participação de Mulheres, usando relevantes canais
Para conseguir uma maior participação de mulheres nos eventos, começaram a ativamente recrutá-las logo no começo e coordenar atividades de engajamento para atraí-las. Frequentemente, as mulheres fazem malabarismos com numerosas atividades, tais como cuidar das crianças, e poder planejar com antecedência pode aumentar muito a possibilidade de que elas participem. Utilizar canais que sejam relevantes para elas não só ajudará a divulgar o evento, mas também reforçará o fato de que devem participar. Antes do Lady Problems Hackathon, Rana Alqrenawi, participante do programa de inclusão de mulheres da GSG, conduziu campanhas de divulgação em universidades locais, realizou eventos informativos dois meses antes do hackathon e criou um grupo no Facebook para manter potenciais participantes femininas no circuito.
4. Identifique Barreiras e Encontre soluções
Faça sua pesquisa para entender quais são as principais barreiras para as mulheres em seu contexto e teste estratégias para ajudá-las a superá-las.
Uma potencial barreira que muitas jovens em Gaza relataram foram confiança e autoestima. Entendendo isso como uma realidade, a Gaza Sky Geeks desenvolve atividades com escolas locais e universidades e promove encontros com estudantes para informá-las sobre o centro e eventos. Alqrenawi promoveu cursos intensivos e workshops antes do hackaton para familiarizar as mulheres com o conceito de prototipagem, discutir ideias e critérios dos eventos, além de ajudá-las a aperfeiçoar suas habilidades de codificação e de design até um ponto em que se sentissem confiantes em participar. Foi maravilhoso escutar suas histórias, em primeira mão, sobre como aprender a codificar estava lhes ajudava a se sentir mais confiantes em todas as áreas de suas vidas.
Outra potencial barreira para as mulheres são suas responsabilidades no lar. O envolvimento com as famílias foi importante para ajudá-las a entender a natureza do programa e o compromisso necessário, já que a maioria das jovens de Gaza ainda mora com os parentes. O custo do transporte até a aceleradora foi inicialmente coberto pela GSG, a fim de convencer as famílias a permitir que as filhas participassem. À medida que as mulheres começaram a participar, compartilharam suas histórias do espaço e habilidades que estavam aprendendo, as famílias as apoiaram cada vez mais, particularmente devido ao reconhecimento de que as filhas têm potencial para gerar renda.
5. Apresente Modelos que Sirvam de Inspiração
As jovens precisam ter modelos com os quais possam se identificar. Seus modelos não precisam ser sempre mulheres, mas ajuda ter ambos os gêneros para que possam se inspirar. Ter mulheres na presidência e como fundadoras na aceleradora GSG facilita muito a contratação de mulheres para o espaço — elas se inspiram ao ver outras mulheres empresárias na caminhada, e é uma demonstração de que as mulheres também podem conquistar o sucesso no mundo da tecnologia. Ficou claro durante o tempo em que estive lá que a equipe feminina e as mentoras (assim como o modelos positivos masculinos que apoiaram totalmente e abertamente seus trabalhos) proporcionaram uma grande fonte de inspiração e orientação para as participantes femininas.
6. Engajar homens
Em última análise, nosso objetivo é o igualitarismo: representação igualitária e aberta de mulheres na tecnologia. Para conseguir isso, engajar a outra metade da população, garotos e homens, é essencial. Desde os líderes até os integrantes da equipe, mentores e participantes do hackaton na Gaza Sky Geeks, os homens no evento se mostraram genuinamente solidários, colaborativos e orgulhosos de ter tantas colegas mulheres construindo grandes coisas com eles.
Ter mais mulheres participando do hackaton e de uma aceleradora aumenta o equilíbrio social, traz novas perspectivas e, comercialmente, ajuda as startups a não deixar escapar 50% do mercado.
Isso não é um questão de CSR (sigla em inglês de Corporate Social Responsibility ou Responsabilidade Social Corporativa) ou PR (sigla em inglês de Relações Públicas), e até mesmo vai além de valores: está provado que equipes diversas são mais bem-sucedidas. Qualquer esforço extra será recompensado à medida que você descubra novos talentos e colha os benefícios de uma comunidade empreendedora inclusiva.
Para saber mais sobre a GSG, fazer uma doação ou se tornar uma mentora ou mentor, visite gazaskygeeks.com.
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Como atrair mais mulheres para o mundo da tecnologia: Lições de um ‘hackathon’ em Gaza