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Como ajudar uma Dona de Si vítima de violência doméstica

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Como ajudar uma Dona de Si vítima de violência doméstica

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Em sua coluna desta semana, Suzi Pires fala sobre o papel da mulher em salvar a vida de outra mulher que sofre nas mãos do companheiro

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Por Suzi Pires

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Você deve estar pensando: porque a Suzi está insistindo no assunto violência doméstica se esta coluna é sobre mercado de trabalho feminino? E eu te respondo: insisto nesse assunto para que a gente esteja ciente que a violência pode acometer qualquer mulher e que outra mulher pode e deve te ajudar a sair desse padrão. Não gostaria de assistir novamente a um vídeo de câmera de segurança como os que precederam a morte da advogada TATIANA SPITZNER em que ninguém apareceu para ajudá-la. Não, não estou acusando ninguém de negligencia, mas detectei que a cultura do “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” não pode mais continuar a circular por nossas células e o texto de hoje é sobre como podemos METER A NOSSA COLHER PARA SALVAR A MULHER! (que também nos oferece rima).

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Como uma DONA DE SI pode cair na armadilha do padrão da violência doméstica? Basta ela ter um mínimo lapso de autoestima e um marido, namorado ou ex agressor. Ele vai sentir a guarda baixada e por esse flanco irá despejar toda a sua ira pela existência de uma mulher tão incrível. Não é vergonha para uma DONA DE SI passar por isso. A vergonha quem tem que sentir é o homem agressor! Não há culpa da mulher. A culpa pela agressão é, unicamente, de quem agride. Você tem dúvidas se está vivendo um relacionamento abusivo?

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Vamos lá. Abaixo, listo muitos comportamentos que vão te facilitar a identificar se você está vivendo em abuso ou se alguma mulher próxima a você está. Sim, nós temos que zelar umas pelas outras.

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Na prática, caríssima, você vive uma situação de VIOLÊNCIA se: a pessoa te deixa com medo, se você tem receio de ser agredida, se tem receio de seus filhos serem agredidos, se seu agressor repete o padrão de agressão, xingamento seguido de um pedido de desculpas e promessa de nunca mais se comportar assim. Se a pessoa te xinga ou deprecia, te diminui, coloca suas conquistas para baixo, te isola de amigas, amigos e familiares; te proíbe de ter vida social ou profissional; te faz sentir culpada pela agressividade dele; te chama de louca; pega suas coisas sem autorização; quebra suas coisas com raiva; te acusa de traição; espalha mentiras para que você seja mal vista; te impede de usar anticoncepcional; te força a fazer sexo; te obriga a assistir pornografia; te obriga a se prostituir; te obriga a práticas sexuais que você não gosta; te força a abortar; te força a engravidar ou te força a casar.

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Se você vive ou já viveu uma dessas situações, você está passando por VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, e não se engane, a consequência disso será uma só: FEMINICIDIO. O que você deve fazer? Primeiro é se conscientizar de que a CULPA NÃO É SUA! Depois, procure ajuda especializada, como delegacia de mulher ou delegacia comum e disque 180. Se sozinha você não tiver forças para tomar tais atitudes, procure outra mulher para te apoiar.

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A mulher para pedir apoio é bem característica. É aquela que você admira, porém acha estranha. É uma mulher com muita força, que fala o que pensa, é independente, tem opiniões e ações completamente distintas das suas. Essa mulher não é melhor que você, ela apenas aprendeu a se preservar dos predadores. Ela se empoderou e não baixou a guarda e não permite que ninguém bagunce sua vida. É provável que ela já tenha sido vítima de violência (moral, patrimonial, psicológica, sexual ou física) e, com muito sofrimento, conseguiu quebrar esse padrão em sua vida. Não acredite que as agressões que você sofre só aconteçam com você. 90% das mulheres sofrem agressões e violências, variando o tipo, a assiduidade e a força.

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Minha sugestão expressa é que você procure uma força extra para começar a sua libertação. Para chegar à ajuda especializada é provável que você precise da ajuda de uma mulher que você não tenha tanta intimidade. Pode ser aquela sua vizinha que você dialoga pouco, mas admira o jeitão, sabe? Essa mulher vai te ouvir, vai ficar mais atenta aos barulhos na sua casa e vai chamar a polícia, já que você não tem coragem pra isso. Ela deve ser a sua ajudante anônima, porque em hipótese alguma você pode contar ao seu agressor que tem uma pessoa zelando por você. Afinal, ele já se encarregou de te afastar das amizades e da família, não é? Pois bem, com a ajuda dessa mulher você vai conseguir que alguém se sinta livre para METER A COLHER e chamar a polícia no primeiro grito que você der pedindo ajuda.

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Na minha infância, eu morava num prédio que o casal do andar de baixo brigava muito e, noite sim, noite não, o marido batia na esposa e TODO O PRÉDIO ouvia os gritos dela. Durante um bom tempo ninguém fez nada, até que alguma vizinha fez e o divórcio foi inevitável. Eram os anos 80 e crime contra mulher não era FEMINICIDIO, mas crime passional, portanto, um grito feminino não contava tanto. Provavelmente ele havia feito alguma besteira e merecia uns tapas… Era assim que a maioria pensava. E vejo, para minha completa surpresa, que até hoje pode-se pensar assim. O caso da advogada TATIANA SPITZNER nos mostrou que é possível que ninguém queira meter a colher na briga que vai acabar com o assassinato de uma mulher. Porque os vizinhos não fizeram nada, é o que paira na minha cabeça.

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Mas também não tenho direito algum de julgar os vizinhos da advogada, já que não sei como era a relação dela com os outros moradores e, se, por acaso, alguma vizinha já a tinha ajudado antes e não havia dado em nada. Na verdade, esse é o ponto: se você tem como vizinho uma família em que o marido agride a esposa, chame a polícia todas as vezes que ouvir as agressões. NÃO DESISTA. Quem escuta os gritos é responsável por salvar aquela vida. E se você for a vizinha que a agredida solicitou ajuda, não só chame a polícia, como a leve numa terapia, converse com ela, se comprometa como ponto de apoio. Você vai evitar um crime, isso eu te garanto.

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Se informe sobre a LEI MARIA DA PENHA, uma lei que para existir precisou que uma mulher de garra, que havia acabado de levar um tiro do marido e ficado paralítica, lutasse muito! Na semana retrasada, no PRÊMIO VIVA, eu tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente e olhar nos seus olhos: olhos de dor e alegria. De dor e esperança. Uma mulher com a consciência exata do seu sofrimento e da sua vitória. Uma mulher que salva, diariamente, muitas de nós. E é a luta desta mulher por todas nós que devemos cuidar umas das outras.

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Ouviu uma mulher pedir ajuda, chame a polícia. SE META! Na mesma noite, conheci pessoalmente a JESSICA, que denunciou o ex-marido, o ator JOÃO GABRIEL VASCONCELLOS com um áudio que mostrava a violência com que ele a tratava. Jessica estava com a irmã, apoiada pela família, ainda apresenta uma magreza excessiva, mas está retomando sua vida aos poucos. E à sua coragem, eu também peço que a gente apoie cada uma de nós. Jessica teve coragem. Assim como a atriz CRISTIANE MACHADO, que, depois de muito apanhar, teve a frieza necessária para instalar câmeras no quarto do casal e deixar que sua humilhação fosse filmada. A humilhação dela se transmutou em coragem e em libertação para outras tantas de nós, tenho certeza.

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Em todos esses casos acima, que são das mulheres que ficaram com sequelas físicas e emocionais, mas que sobreviveram, elas tiveram que encarar processos judiciais; advogados dos ex-maridos que as acusavam de querer dinheiro, de terem montado a cena de violência e de serem mulheres que “mereciam tal tratamento”. Que vergonha desses profissionais ao colocarem como defesa dos seus clientes a diminuição da figura feminina, a alegação de que tudo o que uma mulher faz é para se dar bem. Pensem em outras maneiras de defender os agressores, senhores. Sejam grandes e nobres em suas profissões. Todos têm direito a defesa, claro, mas a maneira de defender não pode ser desqualificando as mulheres em geral. Apenas, repensem. Apenas: NOT.

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Falando em advogados, a mulher que estiver sendo agredida e pensar que jamais terá dinheiro para um processo contra seu agressor, não se deixe levar por este pensamento. Existem as defensorias públicas com advogadas e advogados capacitados e depois que a denúncia é aceita pelo Ministério Público, o próprio estado irá processor o agressor. Ou seja: TEM SAÍDA, usando o nome do projeto da Dra Promotora Gabriela Mansur que presta um importante serviço contra a violência doméstica. Procure saber. Taí uma mulher que pode te ajudar.

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Saiba, caríssima, que precisar de ajuda para se libertar de um relacionamento abusivo não é vergonha alguma; ao contrário: é o começo da sua caminhada para deixar de viver como propriedade alheia e assumir sua vida como a DONA DE SI que você É.

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Conte comigo.

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Pode me enviar email relatando seu problema que fazei a ponte com a ajuda necessária.
suzipires@icloud.com.br

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Estamos juntas. Sororidade sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

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