Saiu no O GLOBO
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SANTIAGO — Todos concordam que o Chile tem uma oportunidade histórica que teria sido impossível alcançar sem o impulso do movimento feminista. As mobilizações sociais realizadas por mulheres desde 2018 e a performance do grupo Las Tesis, que se tornou o hino mundial contra o patriarcado durante os protestos de 2019, pressionaram tanto a esquerda quanto a direita, que tiveram que concordar em realizar um plebiscito para que os chilenos pudessem escolher se queriam ou não escrever a primeira Constituição do país nascida na democracia.
Os esmagadores 78% que aprovaram essa opção em outubro de 2020 não só votaram pelo sepultamento da Carta Magna de 1980, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1974-90), mas também decidiram que a redação do novo documento seria feita por uma Convenção Constituinte formada igualmente de homens e mulheres. Assim estabeleceu o Congresso em março de 2020, após uma longa batalha liderada por parlamentares e grupos feministas que levaram as reivindicações das ruas para a agenda política.
‘A transição para a democracia se completa hoje’: como os chilenos viveram o dia histórico em que derrubaram a Constituição da ditadura
Ao todo, serão 155 pessoas, eleitas em 11 de abril, que irão redigir a nova Carta, com prazo de um ano para finalizá-la. Mulheres do mundo político, acadêmico ou da sociedade civil organizaram candidaturas em tempo recorde e sob os limites da pandemia de coronavírus.
Enquanto as desigualdades sociais que levaram à revolta social de 2019 se aprofundaram com a Covid-19, as mulheres que levantaram lemas como “nunca mais sem nós” e “a revolução será feminista ou não será” mantêm-se vigilantes para que o processo constituinte seja de fato participativo e transparente. Quem são essas mulheres e como elas enxergam essa oportunidade histórica? Abaixo estão algumas vozes que anseiam construir um país com uma perspectiva de gênero.