Saiu no site O GLOBO
Veja a publicação original: Chás com inspiração feminista ajudam a empoderar mulheres em situação de vulnerabilidade
The Feminist Tea, marca criada por duas irmãs, busca inspiração em figuras como Simone de Beauvoir e Michelle Obama para exaltar o autocuidado e a importância da independência econômica de mulhere
Em dezembro de 2019, a Assembleia Geral da ONU decidiu criar o Dia Internacional do Chá, uma maneira de incentivar a produção e o consumo sustentáveis da segunda bebida mais consumida no mundo (só perde para a água) e que é responsável por gerar renda e empregos nas áreas rurais de países em desenvolvimento.
Neste primeiro Dia Internacional do Chá (21 de maio) é importante notar que, oficialmente, só é considerado chá o líquido que vem de uma planta chamada camellia sinensis. Aquilo que, no Brasil, chamamos de “chá de hortelã” ou “chá de camomila” são, na verdade, “infusões” ou “tisanas”. Mas, por que essa explicação toda? Porque duas mulheres brasileiras lideram um projeto que une sustentabilidade, infusões e feminismo: a The Feminist Tea.
Laís e Nara Trajano são irmãs e cultivavam o hábito de tomar chá juntas e ler um oráculo que Laís carregava consigo. Era uma pausa no meio do dia para se cuidarem e pensarem em si. A partir dessa experiência e de seus estudos sobre o feminismo, a dupla decidiu criar um negócio social, que gerasse renda para mulheres em situação de vulnerabilidade e também proporcionasse um momento de auto-cuidado e inspiração. Assim nasceu, há dois anos, a marca cuja cadeia de produção é toda formada por mulheres e que, trabalhando ao lado de quatro ongs, gera trabalho e renda para 60 outras mulheres.
– Em 2015, eu fiz um trabalho voluntário com mulheres infectadas pelo HIV na Tanzânia e no Quênia. Lá pude entender que, mesmo que as realidades sejam diferentes, há dores que todas nós mulheres compartilhamos e elas são geradas pelo patriarcado. O mundo é cruel com as mulheres e isso nos une – conta Laís, que é formada em Administração. A irmã Nara vem da área de Marketing. – Usamos ervas brasileiras, criamos um produto sustentável, acreditamos no comércio justo e no empoderamento das mulheres. E ter independência financeira é importante para que elas tenham essa liberdade.
A The Feminist Tea tem blends em homenagem a feministas históricas como Simone de Beauvoir (para relaxar: leva hortelã, camomila, alecrim, sálvia, maracujá, salsa e canela) e Frida Kahlo (para o estômago: leva carqueja, boldo, maçã, alecrim, anis estrelado e estévia) e mulheres que são inspirações atuais como Michelle Obama (para gripes e resfriados, com laranja, canela, gengibre, limão, hortelã, capim-cidreira, cravo da Índia e mel) e Beyoncé (antioxidante, com pêssego, maçã, laranja amarga, mate tostado). Cada embalagem traz um oráculo, com uma frase ou mensagem feminista que podem servir de inspiração para as mulheres.
– Nós fazemos uma curadoria. Temos mais de 700 frases salvas em diversas categorias. Começamos com citações de feministas históricas, mas como acreditamos que não existe transformação sem informação, incluímos também dicas, dados e fatos históricos. Por exemplo, muitas mulheres não conhecem os seus direitos, então o oráculo muitas vezes traz uma lei – explica Laís, lembrando que a mensagem já teve efeito. – Recebemos vários feedbacks, mas tem um que eu gosto muito. Uma mãe que, depois de experimentar os chás e ler o oráculo dados pela filha, disse que também era feminista porque concordava com tudo o que o chá falava.
Dois anos depois de criada, a The Feminist Tea funciona como uma plataforma. As irmãs vendem chás, mas também participam de eventos e são convidadas a falarem sobre o feminismo em empresas, além de divulgarem conhecimento sobre mulheres em seu site e no Instagram @thefeministtea (são quase cem mil seguidores).
Com a pandemia de Covid-19 levando quem pode ao isolamento domiciliar, as mulheres da The Feminist Tea estão em home office, operando com o mínimo necessário para fazer as infusões chegarem as clientes (“Vamos ao correio fazer o envio. Não tem glamour”, diz Laís). Mas elas também iniciaram campanhas para arrecadar alimentos e itens de higiene para mulheres em situação de vulnerabilidade. É como se diz: uma sobre e puxa a outra.