Saiu no site TVT:
Veja publicação original: Catarina Furtado sobre assédio: “Não era esta mulher forte”
No mesmo dia em que a imprensa veiculou a revelação de Catarina Furtado, que admitiu ter sido vítima de assédio sexual, a apresentadora abordou o assunto numa extensa mensagem no Facebook, onde assumiu que, quando foi vítima daquele crime, ainda não era uma “mulher forte e conhecedora do mundo real”.
A comunicadora, de 45 anos, continua sem especificar em que circunstâncias ocorreram estes episódios, a que se refere como “situações de assédio sexual por parte de pessoas que tinham funções hierárquicas acima” da sua.
Catarina Furtado, que justifica o seu silêncio até agora “porque de facto nunca calhou” ter abordado o assunto e “porque de facto existe agora uma espécie de libertação e proteção sobre esta questão”, diz que os episódios de assédio sexual que viveu aconteceram quando “era uma muito jovem rapariga, cheia de vontade de provar que gostava de trabalhar”.
“Queria dar o meu melhor, agarrando os meus sonhos. Com minissaia, de calças, de vestido decotado ou de fato de treino ou gola alta”, expõe a profissional da RTP, num texto que dedicou, na sua página oficial de Facebook, ao “momento mais embaraçoso” da sua vida.
Catarina “disse ‘não’, com medo, e fingindo que não estava a perceber bem, arranjando desculpas e sorrindo para não nascerem conflitos irreparáveis”. “Consegui. Fiquei orgulhosa. Mas inconscientemente sabia que eram situações que não seria suposto contar a ninguém, nem aos meus pais.”
Porque tem uma filha, Maria Beatriz (11 anos), e uma enteada, Maria (21), a eterna “namoradinha de Portugal” quer “que hoje elas percebam que quando um homem mais velho utiliza o seu ‘poder’ para tentar algo mais, exercendo chantagem em relação às suas ambições, elas possam dizer ‘não’ mas sem medo das represálias profissionais”. Tal como Catarina o fez.
“É disto que quero falar”, sublinha. “Da oportunidade única que temos nos dias de hoje de falarmos uns com os outros, raparigas e rapazes, homens e mulheres para que juntos desconstruamos comportamentos sociais que até agora foram sempre aceites debaixo de um grande véu e de um silêncio muito desconfortável”, continua.
Na opinião da apresentadora, esta “é uma oportunidade para as mulheres pararem de ter de fazer jogos de cintura e poder de encaixe (as que fogem e as que cedem, aceitando jogar com as mesmas regras) e para os homens se questionarem eticamente sobre esses comportamentos e mudarem.”
A mulher do ator João Reis acredita que se chegará “a bom porto, com respeito mútuo”, salientando o facto de, passadas “décadas de trabalho na conquista da valorização e dignificação do papel da mulher”, “o que não se falava há uns anos, felizmente já se pode falar”.
Todavia, e para rematar, “infelizmente a nossa sociedade ainda precisa de um debate sério, sem ataques mútuos, sobre os nossos comportamentos cívicos” e que “ainda precisa destas modas para ver se agarramos a oportunidade”, defende Catarina, numa clara alusão ao assunto do momento em Hollywood, cujas denúncias de assédio sexual por parte de várias estrelas destruíram ilustres carreiras.
O produtor de cinema Harvey Weinstein foi o primeiro nome a ser escrito nesta extensa lista negra. O assunto chegou entretanto a Portugal, com denúncias de figuras públicas como Helena Isabel, Dânia Neto e Débora Monteiro. Catarina Furtado foi a última, numa entrevista concedida ao podcast “Cada Um Sabe de Si”, de Diogo Beja e Joana Azevedo, da Rádio Comercial.
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