SAIU NO SITE HORA DE SANTA CATARINA:
O Brasil assistiu em rede nacional às imagens das brigas entre Marcos e Emilly no Big Brother Brasil 17 no último final de semana. Em uma das cenas, a jovem de 20 anos é encurralada em um dos cantos da casa pelo namorado. Apontando o dedo e com o rosto quase colado ao dela, sem ouvir os apelos para que ele se afaste, Marcos, 37, grita que Emilly precisa ouvi-lo. Em outro momento, ele está deitado sobre o corpo dela, enquanto chora e bate a cabeça dela repetidas vezes no chão.
O casal do BBB expôs na televisão uma situação que se repete em lares de todo o país. Como nem sempre acaba com lesões corporais, a violência psicológica ainda é tabu. De acordo com o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil 2016, em 2015, 23% dos atendimentos de mulheres pelo SUS são de casos de violência psicológica. O percentual está muito abaixo da agressão física (48,7%), embora o problema cause danos não apenas na vítima, mas também em quem acompanha os casos. A Lei Maria da Penha, de 2006, classifica a violência psicológica como um dos tipos de violência doméstica, por isso, deve ser investigada e punida.
Ameaçar, fazer chantagens emocionais, humilhar, constranger, insultar e ridicularizar também são formas de agressão. As brigas constantes provocam impactos que podem gerar depressão, suicídio e atingir a saúde dos filhos, parentes e amigos. O psicólogo Bruno Lenzi, coordenador da ONG Associação Instituto Movimento (ASSIM-SC) que atende vítimas e agressores gratuitamente ou a preço social em Florianópolis, destaca que a violência psicológica – assim como a física – é resultado da cultura machista. O especialista afirma que muitos homens são criados para responder com violência, com isso, não sabem conversar ou procurar outra saída para os conflitos, além das discussões, ameaças e dominação.
Preconceito com a vítima
Outro ponto que aumenta o problema é o preconceito da sociedade com a vítima. Quando soube que Marcos foi eliminado para que o caso de violência fosse investigado, Emilly chorou, tentou justificar a atitude do namorado, se culpou e disse que não queria que ele saísse do programa. O psicólogo afirma que este é um comportamento típico de quem sofre este tipo de violência. Há casos em que há cobrança da família para que o relacionamento não acabe. Até mesmo a própria pressão psicológica do agressor provoca essa sensação de dependência dele.
— A culpa é o principal sintoma, por isso, muitas mulheres tendem a acreditar que se esforçaram pouco para manter o relacionamento ou até mesmo que provocaram a briga, mas a violência psicológica tem que ser tratada como crime — explica Lenzi.
Além do próprio casal, as agressões podem refletir nos filhos e em quem testemunha a violência. O psicólogo alerta que a denúncia é a melhor maneira de ajudar e orienta para que a discussão não seja interrompida de forma violenta.
— Uma das maneiras é tentar mudar o foco da discussão. No caso de vizinhos, bater na porta e pedir algo emprestado, por exemplo, tem bastante efeito para acabar com a briga. Esse tipo de interrupção causa constrangimento no agressor e não aumenta a discussão porque não é uma abordagem violenta — aconselha.
O psicólogo defende que seja instalada uma política de atendimento aos agressores para evitar a reincidência. Para ele, a violência psicológica é um fenômeno social. Políticas públicas que conscientizem a sociedade para a importância da equidade de gêneros (igualdade entre homens e mulheres respeitando suas singularidades) também precisam ser reforçadas.
Polícia Civil de SC discute atendimento
A delegada Patrícia Zimmermann D’Ávila, coordenadora das Delegacias de Polícia da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso em SC, orienta que a vítima procure uma Delegacia da Mulher ou uma Delegacia de Polícia Civil para fazer a denúncia. Ela afirma que os familiares e amigos devem acolher a vítima e não julgá-la.
— Ninguém gosta de sofrer. A violência psicológica está sendo discutida na Polícia Civil de Santa Catarina para que as denúncias recebam o mesmo tratamento da agressão física — completa.
Nesta terça-feira, o tema foi debatido durante o 2º Simpósio de Psicologia Policial – A Avaliação Psicológica na Interlocução entre a Psicologia Policial, o Direito e a Gestão Pública. O evento ocorreu na Academia de Polícia. Uma das palestrantes foi a autora do livro Dano Psíquico como Crime de Lesão Corporal na Violência Doméstica, juíza Ana Luisa Schmidt Ramos.
A magistrada atuou por cinco anos no Juizado da Violência Doméstica e, neste tempo, percebeu que não havia denúncias referentes à violência psicológica. Com isso, resolveu pesquisar formas de como podem ser identificados casos de violência psicológica no atendimento das delegacias.
Hoje, o principal problema é que não há uma perícia para provar que este tipo de agressão aconteceu, como já ocorre com a lesão física. A juíza defende que haja atendimento psicológico e que sejam aplicados critérios que comprovem os danos às vítimas para que estes casos sejam investigados e penalizados.
— Violência psicológica é crime. Segundo o artigo 129 do Código Civil ninguém pode ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. A saúde mental entra nesta questão — explica.
Denuncie
Procure a Delegacia da Mulher ou Delegacia de Polícia mais próxima. Qualquer vítima ou testemunha de casos de violência contra a mulher podem ligar para a Central de Atendimento à Mulher no número 180.
Hoje, o principal problema é que não há uma perícia para provar que este tipo de agressão aconteceu, como já ocorre com a lesão física. A juíza defende que haja atendimento psicológico e que sejam aplicados critérios que comprovem os danos às vítimas para que estes casos sejam investigados e penalizados.
— Violência psicológica é crime. Segundo o artigo 129 do Código Civil ninguém pode ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. A saúde mental entra nesta questão — explica.
Denuncie
Procure a Delegacia da Mulher ou Delegacia de Polícia mais próxima. Qualquer vítima ou testemunha de casos de violência contra a mulher podem ligar para a Central de Atendimento à Mulher no número 180.
Expor a vida íntima
Falar sobre a vida do casal para outros é considerado uma forma de violência moral, como, por exemplo, vazar fotos íntimas nas redes sociais como forma de vingança.
Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
Nem toda violência física é o espancamento. São considerados também como abuso físico a tentativa de arremessar objetos, com a intenção de machucar, sacudir e segurar com força uma mulher.
Forçar atos sexuais desconfortáveis
Não é só forçar o sexo que consta como violência sexual. Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, como a realização de fetiches, também é violência.
Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar
O ato de impedir uma mulher de usar métodos contraceptivos, como a pílula do dia seguinte ou o anticoncepcional, é considerado uma prática da violência sexual. Da mesma forma, obrigar uma mulher a abortar também é outra forma de abuso.
Controlar o dinheiro ou reter documentos
Se o homem tenta controlar, guardar ou tirar o dinheiro de uma mulher contra a sua vontade, assim como guardar documentos pessoais da mulher, isso é considerado uma forma de violência patrimonial.
Quebrar objetos da mulher
Outra forma de violência ao patrimônio da mulher é causar danos de propósito a objetos dela, ou objetos que ela goste.
Fonte: Governo Federal
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Caso de agressão no BBB17 gera alerta sobre a violência psicológica