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Maria* recebeu a visita do pai na tarde do último domingo (13). Ao cumprimentá-la, o homem logo notou a lesão na boca da filha. Com um pouco de insistência, confirmou a desconfiança: ela foi agredida pelo marido com socos no rosto e chute na perna. O pai não titubeou, pegou o telefone e acionou a Polícia Militar.
O que era para ser mais um caso de violência doméstica comum, entrou para um arquivo inexplorado pelas autoridades: a mulher preferiu não representar contra o companheiro. Eles foram à delegacia, como manda a lei (em casos de visível agressão contra a mulher, os agentes precisam levar os envolvidos à Polícia Civil, mesmo que a vítima não queira), mas o caso não foi adiante.
O episódio não é incomum. Há muitas vítimas que chegam à delegacia e desistem de depor. Os motivos variam, mas também se repetem: culpa, medo e desamparo são os principais. A psicóloga Sheila Fagundes Isleb, que trabalha com grupos de mulheres vítimas de violência doméstica em Blumenau, explica que fatores socioeconômicos e culturais pesam muito nestes casos.
— Elas se sentem culpadas por essa ruptura na família, por privar os filhos do convívio com o pai. Ficam desamparadas economicamente porque as políticas públicas não são suficientes. Além disso, a mesma sociedade que diz que as mulheres não devem aceitar a violência é a que se fecha quando uma vítima decide romper o silêncio — avalia a psicóloga.
Foi o medo que fez Maria recuar. Segundo relato dos policiais militares que atenderam a ocorrência, o marido repetia a todo momento que se vingaria e tiraria o filho do casal da mulher. Nervosa, com a mão sobre a boca na tentativa de esconder o machucado, disse que nada havia acontecido. O ciclo de violência não foi encerrado.