Saiu no site INSTITUTO GELEDÉS
Veja a publicação original: Carta às mulheres solteiras: agência, amor próprio e a solidão da mulher negra
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Por Taina Aparecida Silva Santos
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Nesse dia dos namoradXs, eu fiquei com vontade de falar sobre algumas coisas que têm visitado os meus pensamentos. Não me dirijo a vocês com a intenção de fazer generalizações sobre as vivências das mulheres negras, mas se a minha experiência servir para acalentar algumas das minhas irmãs, esse texto fica como um presente pelo dia de hoje. Se isso não acontecer, tudo bem! Seguimos no caminho de aprender com as nossas diferenças!
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Faz tempo que eu tenho refletido em relação os rumos que a discussão sobre a solidão da mulher negra tem tomado. Entendo a gravidade do fato de mulheres como eu se casarem menos e enfrentarem problemas sexistas e racistas nos relacionamentos, sendo eles interraciais ou não. Contudo, eu, também, sinto a necessidade de trazer para esse debate mais reflexões sobre amor próprio e as escolhas que nós, mulheres, fazemos. Decisões que estão inseridas em um conjunto de estratégias pelas quais optamos para seguir a vida. Não estou defendendo que os sentimentos que cultivamos em relação às nossas trajetórias e aos nossos corpos são o suficientes para a nossa realização afetiva. Contudo, eu não acho que todas as mulheres negras que não tem namorado, namorada ou namorade são, simplesmente, vítimas de uma sociedade ou das escolhas dos HOMENS. Destaco o papel dos nossos companheiros nesse processo, porque, também, tenho a impressão de que essa discussão ainda é bem pautada pelas relações heterossexuais. E, nós já sabemos que falar dessa coisa complexa chamada AMOR vai muito além disso.
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Eu tenho certeza que, ao ler esse texto, muita gente vai dizer que falo isso, pois eu sou mulher privilegiada devido às características do meu corpo. Não foi uma ou duas vezes que já me acusaram de ter a cintura a fina. Algo que numa sociedade machista e gordofóbica, com certeza faz a diferença! Eu reconheço e não tenho nenhum ressentimento em relação às pessoas que me vêem assim. No entanto, eu não sou, apenas uma cintura, pernas grossas e um quadril. Pode até parecer que as representações dos corpos como o meu rendem, apenas, os ditos privilégios. Entretanto, em um mundo racista, essas representações fazem com que alguns dos meus professores fiquem me secando como se eu fosse um pedaço de carne no açougue, enquanto assisto as minhas aulas. Elas fazem que meus e minhas colegas se divirtam com piadas ou comentários extremamente agressivos e constrangedores sobre a minha bunda. E, também, já fez com que homens me perguntassem se eu era uma prostituta enquanto esperava uma amiga minha na frente de um museu. Nada contra essa profissão tão antiga, mas sim contra a possibilidade de uma história única para quem tem a pele preta. Nas idas e vindas do meu “universo em crise”, eu precisei de um tempo para aprender a lidar com essas situações e ficar tranquila com o lugar que habito. Movimento necessário para aprender como negociar o lugar desse “corpo no mundo”. O que tem incluído as maneiras pelas quais eu aprendi observar as MINHAS escolhas e as de outras mulheres que estão ao meu redor.
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Atualmente, eu não tenho namorado. Por opção? Talvez! Nunca estive à procura de um príncipe negro, muito menos do relacionamento de novela. Sei que, um dia, eu vou achar alguém que respeite o meu tempo e o espaço que criei para mim, para as minhas convicções e para os meus sonhos com muita luta. Sem falar que, pra esse negócio de coração, eu não sou a pessoa mais habilidosa. Como diz Sérgio Vaz: “Amei certo as pessoas erradas/ Amei errado as pessoas certas/ Nunca fui boa em amar e ser amada/ Amar parece coisa de profissional e não para amadores como eu”… É lógico que tem dias que eu sinto falta de uma companhia, sabe? Mas conviver com a Taina tem sido um aprendizado e tanto.
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Às vezes, eu converso com minha mãe sobre isso. Ela, também, não tem namorado nem marido. Como eu, está nas pistas e arrasa uns corações por aí. Hoje, ela se sente leve e feliz por ter conseguido se emancipar de uma relação de 21 anos. Intensa, marcante, mas atravessada pela violência doméstica. Depois desse passo importante, a vida dela deslanchou e eu vejo que coisas parecidas acontecem com mulheres negras que não estão relacionamentos com homens, mas se aventuram no namoro com a vida.
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Hoje, eu, minha mãe, você, nós, mulheres solteiras, vamos seguir as nossas rotinas, admirar as fotos de belos casais e se possível aproveitar alguns dos prazeres da vida adulta. Isso não significa que estamos sozinhas, sofrendo ou infelizes com os caminhos dos nossos corações. Que possamos aproveitar o melhor do amor que temos umas pelas outras e por nós mesmas.
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Feliz dia dxs namoradxs!
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*Historiadora, solteira e feminista negra