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Veja publicação original: Carnaval sem assédio: meu corpo não é folia!
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Estamos há menos de uma semana do Carnaval. São cinco dias de uma festa considerada uma das mais populares, animadas e representativas do mundo todo. É um período em que as pessoas usam suas fantasias para a animação ou até mesmo como algum tipo de manifesto. Os blocos de rua são responsáveis por arrastar os foliões aos mais longínquos cantos das cidades. Seus temas variam desde homenagens a bandas antigas, ao cinema, a ritmos brasileiros da década de 70 e chegam até mesmo a se tornarem meios de protesto, como é o caso do Mulheres Rodadas.
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Como boa carioca, aquariana e aniversariante do mês de fevereiro, eu conto as horas para essa festa chegar até o momento em que lembro que sou mulher. É triste, mas a verdade é que por mais amante e apaixonada por Carnaval que eu seja, estou longe de curtir esses cinco dias com tranquilidade e sem nenhuma preocupação. O problema é o mesmo de sempre: os homens.
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Durante o mês de fevereiro, o Rio de Janeiro passa a ser chamado de Hell de Janeiro. As temperaturas estão constantemente acima dos 35º e a sensação térmica é ainda maior. Mesmo assim, muitas mulheres optam por sair com uma roupa mais fechada para curtir a folia, ainda que isso vá fazer com que o calor seja maior. A razão é muito simples: medo de sofrer assédio. Como se a roupa ou ausência dela fosse um diferencial. É um pensamento automático, já que desde pequenas somos ensinadas a nos comportarmos para não sermos assediadas, o que já sabemos que não é nada correto. Sabemos, também, que os furtos e roubos aumentam nessa data, mas comparar perder um celular ou documentos com um estupro é muita falta de vergonha na cara.
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Ser puxada pelo braço ou pelo cabelo, ser agarrada e empurrada contra a parede, precisar assistir ao show que só um homem sabe fazer quando recebe um não e ser embebedada para, posteriormente, ser estuprada são só alguns dos exemplos do que acontece com as mulheres que ousam sair para se divertir durante essa festa. Há ainda a preocupação com a bebida, o medo de que ela seja adulterada, a preocupação com a volta para casa e as inúmeras vezes em que se escuta de uma amiga “me avisa quando chegar” são sempre carta marcada no Carnaval das mulheres.
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A festa ainda não começou oficialmente, mas os blocos já estão nas ruas e os assediadores também. No último sábado (18), em São Paulo, uma mulher foi agredida e teve sua roupa arrancada por um homem no bloco “Casa Comigo”. O relato vem ganhando visibilidade nas redes sociais, onde ela expôs fotos das marcas da agressão. Ela conta que apesar de todos presenciarem a agressão, ninguém foi capaz de intervir. Segundo a jovem, cinco pessoas a seguraram e nenhuma segurou o agressor. Ela relata ainda que viu o homem ir embora rindo enquanto gritava para que a largassem e segurassem o machista. O Carnaval ainda não começou, mas os assédios não têm hora e nem local para darem as caras.
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Eis aqui o meu recado aos homens: respeita as mina! Imaginem, ao menos por alguns segundos, como seria se vocês precisassem passar cinco dias de festa se preocupando com os mínimos detalhes para curtirem sem saírem machucados. Pensem no quanto é ridículo o show que vocês fazem ao receberem um não. Tenham respeito e empatia pelas mulheres. Nós não somos seus brinquedos! Ainda que nossa fantasia seja uma burca ou uma saia curta. Vocês não têm o menor direito de se acharem donos dos nossos corpos. Ponham-se no lugar de vocês! Não sejam escrotos. Puxões, mão boba e beijo roubado não fazem parte da folia.
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Devemos zelar umas pelas outras durante todo o ano e, principalmente, no Carnaval. Pensando nisso, surgiu a campanha #MinasDeVermelho. Em uma página no Facebook, elas avisam: “A força vermelha está em nós.” Com a finalidade de fortalecimento em momentos de desespero e assédio, a proposta feita pela página é de que todas as mulheres usem uma faixa vermelha no braço para identificar e reconhecer na outra um porto seguro para qualquer situação de assédio que possa ocorrer nos dias de folia.
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Se você, mulher, é simpatizante com essa causa, ajude a disseminar a ideia e use uma faixa vermelha no braço. Se você percebeu que alguma mulher está muito bêbada, procure saber se ela precisa de ajuda para chegar em casa. Se viu uma situação de assédio, não deixe a mulher sozinha. Precisamos cuidar umas das outras. Homem nenhum fará isso por nós. É preciso entender, de uma vez por todas, que não é não e que mulher bêbada não é um corpo estuprável. A regra é simples: ou vocês respeitam as mulheres ou enfrentarão a força das minas.
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