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Veja publicação original: Caminhada pela paz entra na história de Taboão como maior ato contra violência à mulher
Por Sandra Pereira e Ana Carolina Reis
Caminhada foi o maior e mais emocionante ato já realizado em Taboão da Serra na luta contra a violência doméstica
Uma multidão de crianças, jovens, adultos e idosos caminhou em Taboão da Serra, vestida de branco, pela paz e contra a violência à mulher, neste sábado, 25, Dia mundial da Não Violência à Mulher, data estabelecida pela ONU para a realização de ações de mobilização, conscientização e de combate à toda forma de violência. A caminhada foi o maior ato realizado em Taboão e região na defesa das mulheres e pelo fim de todo tipo de violência. Moradores de vários bairros, desde o coração da periferia até o centro caminharam juntos, se emocionaram juntos e ecoaram juntos o grito de paz para todas as mulheres. O ato parou a Régis Bittencourt no sentido São Paulo por alguns minutos.
Partindo da Câmara Municipal de Taboão da Serra, mais de duas mil vestidas de branco encararam um sol forte durante o trajeto de 3,1km. Mulheres, homens e crianças de todas as idades, raças e credos seguravam balões de gás e frases pedindo respeito, amor e fim à violência, junto com um grupo de vereadores do município, lideranças religiosas, representantes da sociedade civil e o povo que vive nos bairros e conhece de perto o drama silencioso da violência. A caminhada foi organizada pelas vereadoras ativistas, Joice Silva e Priscila Sampaio, e realizada sem nenhum recurso público, mas com a ajuda de empresas e voluntários.
A caminhada durou pouco mais de duas horas. As vereadoras fizeram discursos emocionados, pedindo a conscientização de todos os presentes, incentivando-os a levar aos bairros e disseminar a mensagem de paz para todas as mulheres. A caminhada foi uma resposta aos constantes casos de feminicídio ocorrido na cidade e na região esse ano. A ideia partiu da presidente da Câmara, Joice Silva, foi abraçada de pronto pela vereadora Priscila Sampaio e juntas elas conseguiram apoio dos vereadores Marcos Paulo, Cido da Yafarma, Johnatan Noventa, Ronaldo Onishi, Professor Moreira e André Egydio, único a não fazer o percurso da caminhada por problemas de saúde.
“Meu coração está tomado de emoção de ver que tanta gente, de tantos bairros da nossa cidade aceitou nosso chamado e veio pedir paz para todas as mulheres”, comemorou Joice Silva. “Esse dia nunca vai ser apagado na história da nossa cidade”, disse Priscila Sampaio. “Os homem precisam respeitar e valorizar verdadeiramente as mulheres. Nessa data histórica esse é nosso maior recado”, citou Marcos Paulo. “Fico imensamente grato e feliz por participar de um ato desse porte e tamanho no primeiro mandato vereador”, afirmou Johhnatan Noventa. “O coração de todo mundo aqui está batendo diferente. Dá pra sentir a emoção”, constatou Cido. “As mulheres travam uma grande luta por respeito e reconhecimento unicamente por terem nascido mulher. Esse ato mostra o nosso respeito a todas”, disse Ronaldo Onishi. “A data de hoje nunca vai ser esquecida porque a união de todas essas pessoas fez história”, completou Moreira.
A ativista e jornalista Sandra Pereira falou em nome das vítimas e seus familiares que vieram participar da caminhada histórica. No meio dos participantes havia dezenas de mulheres e familiares das vítimas de violência física, sexual, psicológica, verbal, patrimonial e de assédio. Alguns foram lembrar suas entes queridas vítimas de feminicídio e honrar as suas memórias. Outras, foram comemorar o fato de terem sobrevivo aos seus algozes e extasiadas viveram o dia histórico em muitas vozes se levantaram em sua defesa. O professor e assessor parlamentar André Ribas foi uma das vozes quenecoou o apelo por paz e contra a violência.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional de Taboão da Serra, que já havia declarado apoio ao movimento, esteve presente na caminhada contra violência à mulher, assim como a Após percorrer 3,1km da Câmara Municipal até a Praça Nicola Vivilechio. A vereadora de Embu das Artes, Dra Bete, e o vereador de Itapecerica, Markinhos da Padaria, também participaram da caminhada e demonstraram interesse em realizá-las nas suas cidades.
O Santuário de Santa Terezinha foi representado por dezenas de fiéis e líderes de pastorais. O monsenhor Aguinaldo mandou texto escrito apoiando o movimento. As igrejas evangélicas também fizeram presença firme no ato mais marcantes já realizadao não Régis Bittencourt.
Acompanhada das filhas, a mulher que sobreviveu ao ataque do ex-marido com golpes de facão, na Vila Indiana, há pouco mais de dois meses estava na caminhada. Edeni Aparecida Rocha da Silva, 37 anos, está se recuperando da cirurgia para ligar o tendão. Visivelmente abalada, com a mão paralisada ela se rendeu a emoção de ver tanta gente a acolhendo.
“Nunca vou esquecer esse dia e todo o carinho de tantas pessoas comigo. Houve momentos que me senti tão sozinha, enfrentando tanto sofrimento e injustiça que me não me achava capaz de suportar. Hoje saio fortalecida para as batalhas que ainda vão vir”, afirmou. Mesmo atrás das grades o ex-marido dela ainda continua exercendo forte pressão psicológica nas filhas.
O estudante Thiago Costa, 23 anos, que há dois anos perdeu a irmã mais velha, assassinada pelo ex-marido também foi pedir paz. “Em seu último mês de vida, ela estava cansada das agressões e pediu o divórcio. Ela alugou uma casa e saiu com os meus sobrinhos. Duas semanas depois ele apareceu na casa dela dizendo que tinha mudado e bateu muito na minha irmã. Ela acabou não resistindo”, desabafou emocionado.
Luciana Almeida, 35 anos, conta que sofreu agressões verbais e psicológicas do ex-marido. “Ele me acusava injustamente de ter amantes, era muito ciumento e tentava me intimidar de todas as formas. Um dia eu cansei e desabafei com algumas colegas de trabalho que me disseram que isso não poderia ter acontecido. Então eu fugi de casa com os meus filhos, que por anos me viram apanhar. Meus colegas me ajudaram a retirar todos os móveis da casa depois que ele saiu para trabalhar e eu mudei de cidade. Meu ex-marido nunca me procurou”, contou.
A jovem que sobreviveu aos disparos de tiros feitos contra ela na faculdade Anhanguera também foi pedir paz cercada pela família. Eles não passam um único dia sem agradecer a Deus pela nova oportunidade de vida dada a ela.
Uma mega infraestrutura foi montada para realização da caminhada histórica. A Polícia Rodoviária e a Autopista Régis Bittencourt, concessionária que administra a Rodovia Régis Bittencourt, interditaram o trecho da BR que vai do Shopping Taboão até a Praça Nicola Vivilechio, onde a caminhada se encerrou. A Ronda Ostensiva Municipal (ROMU) também esteve presente e integrantes da GCM também estiveram presentes. Quem acompanhou o trajeto se surpreendeu com o nível de conscientização dos participantes que não deixaram para trás nenhum copo de água descartado indevidamente, já que na multidão muitos voluntários fizeram o recolhimento.
A caminhada encerrou com os balões brancos voando, percorrendo o caminho do céu, como todas as orações feitas contra a violência à mulher. O próximo passo na luta contra a violência é a realização de um grande fórum para sensibilizar, debater o tema e propor políticas públicas contra o avanço da violência.
Em vários países do mundo também foram realizados atos pedindo um basta à violência contra as mulheres. Em Portugal eles aconteceram em cidades como Coimbra, Porto e Lisboa. A organização acredita que o ato de Taboão da Serra foi o maior realizado no Brasil.
Luciana Almeida é um nome fictício para a entrevistada que pediu para não ser identificada.
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