Saiu no RD
O Consórcio Intermunicipal retoma em 2022 os trabalhos do serviço de educação e responsabilidade de homens autores de violência contra as mulheres (SerH ABC). A iniciativa já formou novos facilitadores neste ano pra multiplicar o alcance sobre o tema e contribuir com políticas públicas para enfrentar o crime.
O SerH ABC faz reuniões semanais com homens penados pelo crime para aprendizado e reflexão sobre diversos tipos de violência e toda sua existência. O trabalho é feito por meio do Grupo Temático Gênero e Masculinidades, coordenado por Maurício de Oliveira Filho.
Inspirado no trabalho E Agora José?, da Prefeitura de Santo André, que trouxe resultados positivos de menos de 1% de reincidência dos mais de 300 assistidos, o projeto traz homens que cometeram o crime menor potencial ofensivo ao debate sobre o tema. “Não são casos de feminicídio, o discurso desses homens quando chegam é de negação, o processo dos encontros é perceber que todos nós homens estamos num sistema de social que é o patriarcado, organizado para dar poder contra as mulheres, então tentamos não moralmente julgar de maneira individual”, explica Filho.
Oliveira diz que não há números exatos sobre o SerH ABC, conduzido pelo Consórcio nos últimos anos, mas a reincidência está muito próximo do projeto andreense, o que ressalta a sua importância. “A história dos grupos reflexivos é muito positiva, e quando falamos dos números são espantosos, pois é um exercício de defesa das mulheres”, diz. “Para a mulher não como foi o processo, o que importa é que esses homens não voltaram a cometer violência contra a mulher”, comenta.
O serviço faz parte da pena de cada homem para a violência, no entanto é a Justiça quem atribui a necessidade de outras atitudes, a depender do potencial do crime. “Não para nunca, vai contar com 20 encontros, quando o homem chegar aqui no serviço vai ter uma acolhida inicial e haverá encontros temáticos com os facilitadores, da violência contra a própria mulher, violência sexual, lgbtfobia, violência entre os homens e outros”, diz.
Impacto da violência é maior
Apesar dos registros na Justiça, o coordenador do GT comenta que os casos de violência são grandes e maiores do que chegam até os serviços, pois é provável que todo homem já tenha cometido algum ato de violência contra a mulher. “Muitas vezes o que difere um homem que está penado de nós é um Boletim de Ocorrência, possivelmente todos nós homens, em maior ou menor medida já cometemos algum tipo de violência contra a mulher, psicológica, física e etc”, comenta.
O primeiro passo é o reconhecimento de que o homem está no lugar de violentar uma mulher e a partir disso ocorre a metodologia utilizada pelo serviço em trabalhar na educação e reflexão destes atos. “A gente tem que tirar um pouco da cabeça o estereótipo, a violência pode ser muito sutil as vezes, e é importante que nós homens consigamos refletir nossa vivência enquanto homens e pessoa do gênero masculino e perceber que nossa vivência costuma ser violenta”, completa.