Saiu no site DELAS:
Veja publicação original: Aulão pélvico: o empoderamento feminino a partir da (re)conexão com a pelve
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Por Camila Alvarenga
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Nos ‘aulões pélvicos’, Thiane Nascimento busca promover empoderamento e autoconhecimento por meio do estudo, percepção e movimentação da pelve
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Existem muitas formas de as mulheres se empoderarem. Uma delas é a partir da reconexão com o próprio corpo. Nesse sentido, a bailarina e facilitadora da pelve , Thiane Nascimento, buscaempoderar mulheres por meio de um trabalho que ela chama de “ aulão pélvico ”.
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Os “aulões”, encontros para estudar e trabalhar a pelve a fim de estimular o autoconhecimento , visam “transformar a postura e a percepção que as participantes têm em relação ao próprio corpo e como ele é colocado no mundo”.
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“Existe um lugar cultural e social que rodeia essa parte específica do corpo, mas existe um lugar próprio da mulher. Que lugar é esse? A ideia é potencializar a forma como cada uma quer enxergar a si mesma. E tem toda uma questão em volta disso. Quando rebolamos minimamente entramos naquele lugar do corpo sensualizado, estigmatizado, e não é isso. Por que não pode ser um movimento livre de interesse?”, afirmou Thiane em entrevista ao Delas .
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Para desenvolver essa compreensão, ela busca criar um espaço confortável e de liberdade total entre mulheres, mesclando aulas de anatomia com conversas descontraídas e exercícios variados, que Thiane vai adaptando e construindo de acordo com a necessidade que ela sente das alunas e com o que elas comunicam à bailarina.
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Apesar do ambiente feminino, não significa que homens não possam participar da aula. Entretanto, como é o corpo da mulher que ainda é um tabu e sofre constante julgamento do ponto de vista social – algo que os homens nunca poderão entender completamente -, a especialista dá preferência a grupos compostos apenas por mulheres e prefere consultar as alunas sobre deixar um homem participar.
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“Antes de deixar um cara fazer as aulas, eu preciso saber se as alunas vão conseguir o lugar de escuta e de entrega que eu busco com a presença masculina. E preciso me questionar que tipo de masculino é esse que quer participar. Ele quer ouvir?”, pondera ela.
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Como é a aula?
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O Delas participou de uma dessas aulas. Tudo começou em uma roda, com todas sentadas no chão, descalças. Thiane deu início mostrando uma foto de uma pelve feminina, o osso mesmo, para criar a imagem do que ela é em sua origem.
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Após uma longa conversa sobre o que é essa parte específica do corpo e o que ela representa, a guia, como Thiane gosta de dizer, em vez do termo “professora”, ensinou alguns exercícios de percepção – algo extremamente importante.
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Entre ninar a pelve de pé, encostá-la e “esfregá-la” no chão, até caminhar de um lado para o outro deixando-a livre para se mover como quisesse, sentindo seu peso, o encontro de 1h30 é mais cansativo do que parece, e a maioria das alunas estava suada e ofegante ao fim de tudo.
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Para quem vê de fora, ou mesmo quem estava ali no meio, como eu, parece tudo meio estranho, mas conforme a aula vai se desenrolando, as coisas começam a fazer mais sentido e a percepção corporal vai aumentando gradativamente. Vale dizer que, nesse momento, não existe certo ou errado, o importante ali é a entrega.
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Sem julgamentos, todas criam um espaço de cumplicidade para se movimentar livremente, sem medos e sem pudor. É importante, contudo, ir preparada para essa entrega – eu não sei se estava e, talvez, isso tenha me travado no processo, mas quem sabe a entrega viria ao longo dos encontros seguintes.
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Para as alunas, que falaram comigo depois, participar do aulão é uma forma de se soltar e se encontrar a nível emocional e físico, abandonando um pouco a racionalidade do dia a dia.
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“Fazia muito tempo que eu precisava me dar essa atenção. É um cuidado que eu precisava ter comigo. Achei a primeira aula deliciosa, me senti muito integrada, em um ambiente muito gostoso. Espero que ao longo do curso a gente crie coisas novas, novos movimentos e novas ideias”, contou Laura Lux, uma das alunas, de 28 anos.
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Música
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Durante a aula, Thiane colocou uma música mais ambiente para a realização do encontro, mais para abafar a música que vinha de outro andar da Matilha Cultural, espaço no centro da cidade de São Paulo onde acontece o aulão.
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Ela conta que já usou funk, pois é um estilo que estimula as mulheres a quererem se mexer. Hoje, entretanto, ela hesita em fazê-lo. “Ele acaba induzindo para um lugar já muito conhecido do rebolado, estigmatizado e sexualizado, e a minha intenção é mobilizar a pelve para descobrir movimentos próprios”, ela explica, dizendo que, atualmente, tem optado pelo silêncio, que acredita possibilitar uma escuta maior.
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Para começar
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Evidentemente, o autoconhecimento pode ser praticado e trabalhado por qualquer mulher e independe da participação nas aulas. “Olhar para si mesma é o primeiro passo. A questão do querer olhar e ir ampliando aos poucos a capacidade de perceber o próprio corpo”, diz Thiane.
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Mais do que fazer exercícios, ela sugere estudar anatomia e trabalhar a percepção dessa parte específica do corpo. “Tem todo um estudo anatômico de conhecer essa pelve. O que eu entendo sobre peso? O que entendo sobre volume? Sou capaz de sentir o peso dela quando eu ando?”, questiona.
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Ela reforça que o que interessa realmente é o conhecimento sobre o próprio corpo, algo que não é tipicamente ensinado para as mulheres.
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“É algo lento e repetitivo mesmo. A gente teria que passar a aula inteira de uma hora e meia caminhando de um lado para o outro, ou ficar uma hora só sentindo o seu osso e a sua pelve para começar realmente a construir uma noção. O que a gente fez aqui na primeira aula ainda é muito superficial. Não tem um passo a passo, não é algo que eu possa dizer ‘faz isso, isso e aquilo’. Tem muito estudo por trás e é aí que começa.”
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