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Atração da Flip, Carmen Maria Machado faz ficção científica queer feminista

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Atração da Flip, Carmen Maria Machado faz ficção científica queer feminista

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Um dos nomes mais aguardados da Festa Literária de Paraty, a escritora feminista norte-americana faz da ficção científica o lugar para refletir suas experiências de medo, prazer e opressão. Após sua fala na Flip, no sábado (13/7), a autora participa de uma conversa com Laura Ancona, diretora de redação de Marie Claire. Ela também estará num bate-papo em São Paulo em 16/7

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Por Larissa Saram

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Restringir a mulher ao corpo é uma das práticas machistas mais antigas – e ainda bastante frequentes. A escritora norte-americana Carmen Maria Machado, de 32 anos, subverte essa lógica sexista ao usar recortes da anatomia feminina como ponto de partida para discutir assédio, sexualidade, visibilidade lésbica, violência e pressão social. São de suas próprias vivências que derivam os contos sci-fi de O Corpo Dela e Outras Farras (Planeta, 240 págs., R$ 49,90), seu premiado livro de estreia, que logo de cara a colocou na lista das 15 vozes da ficção mais notáveis do século 21, eleitas pelo jornal The New York Times.

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Finalista do prestigioso National Book Awards, em 2017, Carmen já publicou contos em revistas de prestígio, como Granta, New Yorker e The Paris Review. A mescla de terror, fantasia, sci-fi e ativismo de suas histórias também deverá ser adaptada para uma série. Da Filadélfia, onde mora com a mulher, Carmen deu uma pausa na finalização de sua próxima obra, In the Dream House (ainda sem data de lançamento por aqui), e falou de preconceito, vida pessoal e a expectativa de sua vinda ao Brasil. Ela é uma das convidadas da 17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 10 a 14 de julho, e vai dividir a mesa sobre gênero e pertencimento com a brasileira Jarid Arraes.

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Marie Claire: O Corpo Dela e Outras Farras foi escrito a partir de seus questionamentos pessoais. Que tipo de pensamentos eram esses?

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Carmem Maria Machado: Tinham a ver com o tipo de foco que se dava sobre os corpos das mulheres e a maneira naturalizada de não ouvir ou não falar sobre nós. Estava interessada em escrever sobre meus incômodos, como sexismo, violência sexual e o que parece ser a retirada do direito de falarmos sobre a nossa sexualidade.

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MARIE CLAIRE NA FLIP

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MC Ao longo da escrita, encontrou respostas?
CMM Acho que sim. Pelo menos comecei a ter as ferramentas para pensar nas respostas.

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MC Quanto de seu corpo e sexualidade estão no livro?
CMM Muito! Como uma mulher queer, escrevo com a cabeça de quem ocupa outros lugares. Naquelas páginas estão meu corpo, minha sexualidade, minha história e meus pensamentos. Minha mente também está ali. Tem um pouco de tudo.

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MC A sexualidade é uma abordagem frequente nos seus textos. Já sentiu algum preconceito por isso?

CMM No passado, com certeza sim. E nem sempre é tão óbvio como parece. Não é simplesmente “você é uma mulher e não me importo”. Quando publico alguma coisa, recebo comentários, e-mails… Você sabe, as pessoas não gostam de mulheres falando sobre suas experiências. Tenho de ficar lutando para ser levada a sério. Depois do livro, por estar em outra posição, o tratamento mudou um pouco, sou um rosto conhecido, uma escritora publicada.

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MC Os corpos femininos ainda são vistos como públicos pela sociedade. Como isso te atinge?
CMM É difícil porque você só quer viver sua própria vida, mas as pessoas sempre acham que podem opinar sobre seu corpo. Elas adoram dizer: “Como você está bonita, emagreceu”. Respondo: “Isso não é da sua conta” [risos]. Existe essa falta de sensibilidade, e se me questionam sobre o meu corpo, digo que não quero falar sobre o assunto. Ou ignoro, mesmo.

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MC O Corpo Dela… é considerado uma ficção científica. Por que decidiu trabalhar com esse tipo de narrativa?
CMM Gosto de muitos gêneros: sci-fi, fantasia, horror. Não foi difícil escolher qual caminho tomar. Escrevi de um jeito que me agradava.

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MC A primeira ficção científica da história, Frankenstein, foi escrita pela britânica Mary Shelley. Depois dela, outros nomes femininos fizeram sucesso no sci-fi. Por que acha que as histórias especulativas são tão produtivas para elas?

CMM Quando se é mulher, você já existe num plano que é quase irreal, a todo momento a sua humanidade pode ser discutida: quem você é, o que você pensa, se é competente. Estamos sempre sob ataque, então minha teoria é que a ficção científica acaba sendo um espaço de destaque marginalizado porque aquelas realidades nos soam familiares. É como se já estivéssemos em situações e lugares parecidos com aqueles.

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MC Quais são suas autoras de sci-fi preferidas?

CMM Nossa, muitas! Kelly Link, Helen Oyeyemi, Shirley Jackson, Angela Carter. Amo Lesley Nnka Arimah, autora do incrível O que Acontece Quando um Homem Cai do Céu. As mulheres estão fazendo um trabalho maravilhoso na ficção científica.

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MC Seu livro vai virar série (ainda sem data de estreia no Brasil). E atualmente grandes hits televisivos, como Black Mirror e The Handmaid’s Tale, são do gênero sci-fi. Você acredita que essa é uma tendência da cultura pop para criticar o mundo injusto no qual vivemos?
CMM Assim como na literatura, acho que é um bom gênero para a TV dar margem para as pessoas imaginarem diferentes maneiras de interrogar a cultura em que estão inseridas. Não é o único caminho, mas com certeza é uma opção.

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MC Você é feminista declarada. Quando se deu conta disso?
CMM Acho que desde criança, quando percebi as injustiças e passei a questioná-las. Lembro de perguntar ao meu pai sobre a história de uma mulher nos Estados Unidos que anos atrás foi impedida de ser médica. Só permitiram que exercesse o trabalho como enfermeira. Pensei: isso não é justo! E meu pai disse: “É assim mesmo, as coisas funcionavam desse jeito”.

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MC Já teve medo de dizer que era feminista?
CMM Não, nunca. E acho triste as mulheres que sentem medo de se assumirem assim.

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MC Conhece alguma escritora brasileira?
CMM Sim, amei ler A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Não li as outras obras dela ainda, mas gosto muito do trabalho da Clarice.

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MC Você é uma das convidadas da Flip. Já esteve no Brasil alguma vez?
CMM Sim, no Rio de Janeiro, por uma semana no ano passado, e amei! Fiquei hospedada em Santa Teresa, fui à praia, comi muitas comidas gostosas, visitei livrarias. Foi bem divertido!

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MC E quais são suas expectativas para a Flip?
CMM Estou ansiosa, mas não sei muito bem o que esperar. Fui tão bem recebida no Rio de Janeiro, as pessoas foram tão amáveis, que minha única expectativa, por enquanto, é conhecer muita gente.

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CARMEN MARIA MACHADO NA FLIP
Sábado (13 de julho), às 17h, bate-papo com Jarid Arraes, no Auditório da Matriz

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CARMEN MARIA MACHADO EM BATE-PAPO COM MARIE CLAIRE NA FLIP
A diretora de redação Laura Ancona participa de um bate-papo com a escritora norte-americana Carmen Maria Machado, autora de O Corpo Dela e Outras Farras (Planeta, 240 págs., R$ 29), livro de contos que mescla ficção-científica, feminismo, fantasia, fábula e horror.
Casa Libre & Sta. Rita de Cássia – Rua da Lapa, 200 – Sáb. (dia 13), às 20h

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CARMEN MARIA MACHADO NO PÓS-FLIP
A editora Planeta, a Flip/Casa Azul, o Sesc São Paulo e Marie Claire realizam evento com Carmen Maria Machado em São Paulo. Acompanhe a cobertura no site e nas redes sociais da revista.
Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, SP)  – Ter. (dia 16), às 19h30

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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